31 de março de 2022
ESPORTES MASCULINOS… SÓ QUE NÃO

Chega desse papo de que futebol é para homem e balé é coisa de mulher. Historicamente dominado pelos homens, os esportes vão sendo dominados pelas atletas femininas, que ainda hoje sofrem com falta de apoio, estrutura e verba. Apesar de leis e discursos pró-mulheres, ainda se vê muito preconceito em relação à presença feminina em algumas modalidades, especialmente aquelas ditas masculinas. Mas as mulheres são tinhosas e não desistem facilmente. Só aqui na região do Jardim Botânico, Gávea, Humaitá e parte da Lagoa há muitos exemplos disso, de sócia de academia de luta à menina que decide ter aula de skate, passando pela democrática canoa havaiana. E para quem tem dúvida do que fazer, todas as escolinhas oferecem aulas experimentais para apresentar melhor o esporte.

Quando Mirella Pizzorno, 30 anos, se interessou pelo taekwondo ela tinha apenas 13 anos e optou pelo esporte nas aulas de educação física do colégio. Mal sabia ela que aquela escolha seria seu objetivo de vida.  Hoje, a faixa preta e quarto dan na arte marcial, é uma das sócias da franquia Elite Artes Marciais, filiada à ATA (Associação de Taekwondo Americana), no Humaitá. O amor pelas artes marciais corre pela família, já que a mãe de Mirella, Carmen Lúcia Pizzorno, também luta e participa de campeonatos e treinos até hoje. “É quando ela se sente viva”, diz a filha com orgulho.

Na Elite Artes Marciais, metade dos alunos são mulheres e, para a professora, “as mulheres estão quebrando barreiras que infelizmente ainda existem”. Ela ressalta que um dos principais motivos da busca por essa atividade é a defesa pessoal e afirma que as mulheres têm o direito de serem independentes também. Lá, as turmas começam a partir dos 4 anos e vão até…. os 74 anos, como a aluna Maria Lúcia Munhoz.  Moradora de Copacabana, ela descobriu a modalidade ao trazer o neto Lucas Tavares para os treinos: “Eu me encantei e cada vez gosto mais dos treinos. Eu sou a mascote às avessas, ao invés da novinha, é a velhinha”, brinca a lutadora sênior.

Maria Lúcia, à esquerda, veterana no taekwondo

Para ela, o esporte é bom porque trabalha o foco, o equilíbrio e a resistência. Apesar de estar treinando há pouco tempo, descobriu que gosta de lutar: “Eu me sinto acolhida pelos colegas, e tudo é feito de uma forma respeitosa.  É uma arte muito ética, que desenvolve a importância do outro. Isso é muito importante neste mundo que a gente vive”. Mirella, que entre os alunos é tratada como Senhora Pizzorno, reforça esses valores do taekwondo. “Disciplina, respeito e cortesia são valores importantes, independente do sexo e da religião de cada um. E nós praticamos todo dia”, afirma.

Além do taekwondo, o muay thai também é uma opção para as mulheres que querem aprender a lutar. No Jardim Botânico, é possível ter aulas com o professor Raphael Monteiro, na Academia Gold Fighters, que funciona no Clube Carioca há 28 anos. O professor, que luta desde criança e dá aulas há 9 anos, ressalta que esse esporte propicia a perda de peso, o aumento da flexibilidade, a melhora na coordenação motora, o alívio do estresse, entre outros benefícios. Para Raphael, “é muito mais fácil ensinar as meninas”, já que elas não são como os meninos que precisam “fazer barulho”, explica. Assim como na Elite, muitas mulheres procuram as aulas de luta visando a defesa pessoal. Os treinos desta modalidade acontecem às terças e quintas, no início e no final do dia. A academia também abre a roda para as mulheres no boxe, que chegou a ter 12 alunas. Segundo o professor Renato Costa, conhecido como Pedra no meio, elas estão retornando lentamente, muitas em aula particular. Para ele, a procura das mulheres pelas lutas marciais vem muito pelo resultado físico rápido. “Você acaba tendo uma performance de condicionamento muito maior do que qualquer outro esporte”, sentencia Pedra.

Foi em 2018 que a sede náutica do Vasco trouxe a Canoa Havaiana para o seu quadro de atividades, mas, ao que parece, este foi o verão do esporte, que bombou nas águas da Lagoa Rodrigo de Freitas. Um dos responsáveis por isso foi Claudiomar Jung, mais conhecido como Formiga, que trouxe a modalidade do Espírito Santo para cá, tornando o Vasco o primeiro clube a inserir a canoa na Lagoa. 

A concentração de Betina Gradel

Outra que segue fazendo manobras nas pistas é Betina Gradel, de 10 anos.  Durante a pandemia ela se apaixonou pelo skate e, há um ano, pratica o esporte quatro vezes por semana na Lagoa. Sem falar nos finais de semana quando pega o skate para andar na varanda de casa, no play ou na pista. “Qualquer lugar é lugar e hora para dar um rolê”, garante a menina que sonha em disputar uma Olimpíada.

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A concentração de Betina Gradel

Outra que segue fazendo manobras nas pistas é Betina Gradel, de 10 anos.  Durante a pandemia ela se apaixonou pelo skate e, há um ano, pratica o esporte quatro vezes por semana na Lagoa. Sem falar nos finais de semana quando pega o skate para andar na varanda de casa, no play ou na pista. “Qualquer lugar é lugar e hora para dar um rolê”, garante a menina que sonha em disputar uma Olimpíada.

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Pausa para apreciar o visual (foto: Chris Martins)

A escritora Luize Valente é uma entusiasta do esporte. Ela começou a remar há três meses, duas vezes por semana e agora passou para três. “Depois de dois anos de pandemia, eu precisava deste contato com a natureza, especialmente porque trabalho em casa, sozinha. E além do aeróbico, é um esporte para a cabeça, aquela coisa bem japonesa, corpo e mente. A turma é muito boa.”, afirma ela, que já sentiu os resultados no corpo, com a melhoria do condicionamento físico e a rigidez dos músculos.

Parceiras de Luize, Simone Kastrup e Candy Ribeiro também são entusiastas do esporte.  A primeira, com 71 anos, rema há 10 anos e até participou de campeonatos. Antes ela remava no mar, que define como “remo com emoção”, mas agora está preferindo a calma da Lagoa. Já Candy, que começou esse ano, acredita que a canoa permite liberar todo o estresse: “A gente coloca o remo na água com vontade e o stress vai embora. Além disso, é um esporte democrático, todos podem participar, dos 8 aos 80 anos, sem restrição de peso, idade ou preparo. Todos podem remar e um ajuda o outro”, observa.

O Clube de Regatas Flamengo não tem canoa, mas investe no remo. O clube tem escolinha com aulas de segunda a sexta, de manhã e à tarde, além de atletas que disputam competições. Milena Viana, de 24 anos, tem 12 anos de remo e conta que começou quase sem querer. Moradora da Zona Norte, ela nem sabia o que era remo até que um professor de educação física acreditou no seu porte para o esporte e a convidou para um treino no Flamengo. Assim começou a carreira da jovem, que, aos 14 anos, já participava de competições nacionais. De olho no campeonato brasileiro deste ano e no Pan Americano, em 2023, Milena sabe que dedicação é tudo e o caminho ainda é longo. Mesmo sendo da equipe sênior do clube, ainda vislumbra participar de uma Olimpíada:

– A palavra é resiliência e se manter firme no objetivo. Tenho uma irmã mais nova, com 14 anos, que também rema. Sei que já abri alguns caminhos para ela, assim como ter hoje uma técnica mulher é uma vitória. Mas ainda existe muita diferença no esporte e para montar boas equipes, precisamos de mais atletas – afirma Milena, que treina de segunda a sábado. 

Não dá para falar de esporte masculino que vem sendo dominado pelas mulheres sem citar o futebol. Depois de anos de supremacia masculina, o famoso Chutebol do Clube Militar ganhou, no ano passado, sua versão feminina: Delas – Escola de Futebol de salão para mulheres. Comandada por Ana Beatriz Ribeiro, goleira profissional de beach soccer, e Letícia Rocha, a escola conta com quatro turmas, do infantil ao adulto, passando pelas adolescentes, que são maioria.

Letícia, que gosta de jogar futebol, tem visto o movimento crescer, mas, apesar da procura, acha que o mercado é muito carente de espaços para mulheres jogarem bola. “É muito mais fácil colocar o menino para jogar bola”, sentencia, para depois completar: “É interessante ver que cada uma vem com um objetivo:  tem quem venha para se divertir, para espairecer e para melhorar o condicionamento físico, mas eu aviso logo que, em quadra, não tem ninguém profissional, todas são iniciantes e a meta é deixar a bola rolar”.

O time “Delas” em campo

Peladeira que é peladeira, está sempre correndo atrás da bola, seja aonde for. Que o diga Sabrina Cirat da Silva, que vem de Copacabana para o JB duas vezes por semana só para treinar, às 21h.  Com 44 anos, ela descobriu o projeto Delas graças a uma prima que frequenta o Clube Militar. O horário não é o ideal, mas ela entende. “Eu amo futebol e desde criança procurava lugar para jogar. Era muito difícil. Na verdade, ainda é. Nesta sexta, tenho um jogo no Méier, no qual os maridos é que vão para o gol”, diverte-se Sabrina, que, em campo, é pivô.

Na guerra dos sexos no esporte, o skate vem chamando a atenção, principalmente após o sucesso que a modalidade teve nas Olimpíadas de 2020. Inspirada pela vitória da Rayssa Leal, Nina Paes Leme, de apenas 9 anos, decidiu se dedicar ao esporte. A pequena, que já fez dança, balé e acrobacia, afirma que achou todas essas atividades “horrivelmente chatas”. Além disso, ela quer mostrar para todos que “não sou fofa, sou radical”, comenta a menina, que pratica o esporte com Felipe Ribeiro, do Skate RJ, na quadra da Lagoa, em frente ao Monte Líbano.

A concentração de Betina Gradel

Outra que segue fazendo manobras nas pistas é Betina Gradel, de 10 anos.  Durante a pandemia ela se apaixonou pelo skate e, há um ano, pratica o esporte quatro vezes por semana na Lagoa. Sem falar nos finais de semana quando pega o skate para andar na varanda de casa, no play ou na pista. “Qualquer lugar é lugar e hora para dar um rolê”, garante a menina que sonha em disputar uma Olimpíada.

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