Quem não conhece o Cineclube Estação Botafogo, bom sujeito não é. A rede de cinemas aberta em 1985 – período em que a cultura fervia na cidade em vários segmentos, do surgimento do Circo Voador à primeira edição do Rock in Rio – fez história. E agora ganhou um registro eterno com o livro “Eu que amava tanto o cinema”, escrito por Marcelo Mendes França, um dos sócios-fundadores do grupo, que acaba de ser lançado pela editora Cobogó.
Segundo o autor, o Estação surgiu da ideia de cinco amigos que se reuniam aos sábados no Cineclube Macunaíma e decidiram levar adiante sua paixão, abrindo, mesmo sem dinheiro, seu próprio cineclube. E assim o sociólogo Adhemar Oliveira, o economista Nelson Krumholz, a jornalista Ilda Santiago, a então estudante de ciências sociais Adriana Ratters e o autor, então estudante de cinema, decidiram criar o Cineclube Estação Botafogo.
As 332 páginas do livro promovem uma viagem a um tempo que fez parte de uma geração carioca ávida consumidora de cultura. Como escreve Arthur Dapieve – um dos quatro jornalistas convidados para a orelha do livro –, “A história do Cineclube Estação é a história cultural do Rio de Janeiro nos anos 80. Importante assim, não é possível dissociá-las.” E até quem não era da Zona Sul atravessava a cidade para assistir àqueles filmes “cabeça” ou mesmo clássicos, que só o Estação abria espaço em sua grade de exibição.
O espaço despretensioso e apertado, em uma galeria de Botafogo, se transformaria em uma rede de cinemas, distribuidora de filmes, editora e produtora de um dos mais importantes festivais do país, o Festival do Rio. Nestas três décadas de existência, suas salas se espalharam pelo Rio e movimentou mais de 20 milhões de cinéfilos de todas as idades. Em tom de crônica, o autor faz uso de referências cinematográficas, bom humor e fluidez para narrar as aventuras, conquistas e crises do cineclube e, consequentemente, da história do cinema no Brasil. A obra está dividida em oito capítulos, com vários artigos curtos, pontuando situações, homenagens, perrengues e sucessos. Desde o começo, quando abriu como Cineclube Coper Botafogo, no espaço onde funcionou o cinema Capri (1968-1982), e tinha Marcelo como gerente e Rogério Durst como baleiro. Estão lá as noites de exibição de Rock Horror Picture, a passagem relâmpago de Maria Bethânia e até mesmo os frequentadores mais assíduos (e barraqueiros).
Leia, divirta-se e emocione-se. Com ou sem pipoca.
Eu que amava tanto o cinema – Uma viagem pessoal pela aventura do Cineclube Estação Botafogo
Marcelo França Mendes
Editora Cobogó
R$ 65,00
332 páginas
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