A história do ator Luiz Fernando Guimarães com o Jardim Botânico começou por conta de um armário. Morador da Fonte da Saudade, ele estava satisfeito com seu apartamento, mas sentia falta de armários. Prático e objetivo, ele começou a procurar outros imóveis até achar o que mora atualmente, onde fez algumas reformas e todo o tipo de técnicas de harmonização da casa, como feng shui.
– Eu não estava na onda de mudar, gostava muito do meu antigo endereço, mas foi uma necessidade, porque gosto de espaço. Ao mesmo tempo, mudar é bom, traz um outro astral, muda o ângulo de vida, não só do apartamento, mas do comércio ao redor. Você não muda à toa – acredita ele, que se considera básico, com poucas coisas para carregar.
Para Luiz Fernando Guimarães, o Jardim Botânico tem um “quê” melancólico, associado a seu lado bucólico, propício à contemplação: “Olhar para os micos e os bichos da região dá tranquilidade e equilíbrio a meu lado mais inquieto, que gosta de festas e agitos”. Ele aproveita bem o bairro, onde tem os amigos e a família sempre por perto. Como adora carnaval – com muitos desfiles na avenida no currículo –, já curtiu bastante os blocos da região, especialmente o Suvaco: “Eu não esperava que a gente fosse ter carnaval este ano. Fiquei feliz, porque é sinal de que as coisas estão voltando”, afirma ele que pretende assistir ao desfile das campeãs.
A rotina do ator na região também é básica. Ele acompanha o vaivém comercial, tem seu mercado preferido e gosta de barbearia, especialmente “aquelas que fazem tudo, e a gente quase dorme na poltrona”. Por conta disso, já experimentou a Barber House, aberta recentemente na rua Jardim Botânico. Também frequenta o Bar Joia e adora o Shopping da Gávea, embora não seja consumista: “Eu tenho uma ligação afetiva, pois já trabalhei em todos os teatros de lá. Me sinto à vontade. Mas, em questão de consumo, sou péssimo, acho que tudo fica pequeno em mim. Além disso, tenho horror ao provador de roupas. Quando gosto de uma blusa, já compro várias cores para não ter trabalho”, revela.
Com 30 anos de Jardim Botânico e 72 de idade, Luiz Fernando está vivendo um novo momento com os filhos Dante e Olívia, com 11 e 9 anos, respectivamente, adotados na Amazônia durante a pandemia. “Fizemos algumas tentativas aqui no Rio até que a nossa advogada nos convidou para buscarmos em outros lugares e, assim, partimos para o Norte do Brasil, mesmo lugar onde a Regina (Casé) adotou o Roque”, explica o ator.
Assim que voltou do Amazonas, Luiz Fernando levou as crianças para fazer adaptação no seu sítio em Mazomba, no município de Itaguaí, no interior do Estado do Rio. Foi lá que ele e Adriano Medeiros, com quem vive há 22 anos, se refugiaram durante a pandemia. O sítio fica isolado e tem espaço de sobra para ele criar seus 13 cachorros, de raças diferentes, e montar sua horta. “Eu vou para o sítio e esqueço do tempo. Com os bichos é uma linguagem única, eu me comunico direto, e de forma diferente com cada um, pois eles têm uma hierarquia entre si”, explica. Luiz acaba de ganhar um novo integrante para a família: um gato, da raça bengal, que, segundo ele, parece uma onça: “É lindo”. O bichano vai residir no Rio, mas o ator já está pensando em como vai fazer para apresentá-lo ao resto da “família pet”.
Para facilitar a vida dos filhos, que estudam na Gávea, Luiz Fernando alugou um apartamento próximo à escola. “O apartamento do JB é a estação de férias, onde eles vêm para brincar, quando a agenda de festas infantis permite”, garante ele, que, apesar de festeiro, evita esse tipo de evento. Ele e o companheiro dividem as tarefas com as crianças, como estudar e reuniões na escola. O ator curte levá-los ao teatro e fazer passeios pela cidade. Quando eles chegaram ao Rio, Luiz Fernando tratou de fazer um tour básico por todos os pontos turísticos da cidade. “Foi aquele intensivão que a gente faz com amigo que chega de fora”, brinca ele. Aqui no bairro, a família gosta de passear pela Lagoa e pelos parques Lage e Botânico. A praça Pio XI logo foi adotada como playground pelas crianças.
A viagem para a adoção foi uma oportunidade para ele conhecer a Amazônia, que sempre teve curiosidade de visitar. Apesar de ter rodado todo o Brasil com a peça “Fica comigo esta noite”, com a amiga e vizinha Deborah Bloch, ele nunca havia ido até lá. Ver a floresta de cima deixou o ator impactado com a sua imensidão: “Ela é muito forte e poderosa. É que nem aqui, você derruba e ela cresce. A terra tem um valor especial, mas temos que cuidar dela. Eu sei bem disso, pois sou dono terra e sei do seu valor,” atesta o artista que mora de frente para a encosta do Corcovado e adora o verde que o cerca.
Com uma carreira marcada por personagens icônicos, como o Rui, de “Os Normais”, Luiz Fernando Guimarães não reclama de trabalho e diz que já parou de correr atrás: “Agora ele chega naturalmente”. O ator fez parte do grupo teatral Asdrúbal Trouxe o Trombone, que lhe deu amigos de vida e de profissão, como a atriz Regina Casé. Entre os inúmeros trabalhos, destacam-se as novelas “Vereda Tropical”, “Cambalacho” e “O Tempo não para”, sua última, em 2018. A consagração veio com séries de humor, como “TV Pirata”, “Programa Legal” e “Os Normais”, que o levou duas vezes às telas de cinema com a amiga Fernanda Torres, indicada por ele para o papel de Vani. A agenda de trabalho está começando a normalizar, e ele já está escalado para uma série e uma peça de teatro, mas ainda não está liberado para falar sobre eles. Além disso, está em produção uma biografia sua, que deve sair até o final do ano:
Com parte da trupe do Asdrúbal; com Fernanda Torres, na África; e com Deborah Bloch, em cena. (📷 acervo pessoal)
– Não gosto de divulgar quando os projetos ainda estão no papel. Prefiro esperar as coisas acontecerem, mas posso adiantar que tem coisa boa vindo aí. Quem sabe “Os Normais” não volta para mais uma edição, com as idades atualizadas? – encerra Luiz Fernando Guimarães, com o humor que fez dele um dos maiores artistas dos país.
*Por Chris Martins
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