Uma vida calcada na sustentabilidade, que preza a coletividade e valoriza a natureza. Parece coisa de conto de fadas, mas faz parte da transformação que a atriz Laila Zaid começou a empreender a partir do nascimento de sua primeira filha, há cinco anos. Foi aí que a moradora da Gávea percebeu que era preciso muito mais do que consciência ecológica e partiu para a ação. Em seu novo papel, Laila compartilhará suas vivências na edição 2022 do LivMundi, que acontece nos dias 11 e 12 de junho, no Parque Lage*.
Conhecida por personagens em novelas da Globo e da Record (de “Malhação” e “Orgulho e Paixão” a “Bete, a Feia”) ou no cinema, como a personagem Ana Cláudia, do filme “Somos tão jovens” (sobre a vida de Renato Russo, da Legião Urbana), ela decidiu usar a fama em benefício de seu propósito. Um dos primeiros e mais importantes passos para isso foi a adoção de um modelo de creche parental, em que pais e mães e revezam e participam ativamente da educação dos filhos. Começou de maneira informal, com um grupo de amigas que engravidaram na mesma época que ela. Com carreiras que permitiam flexibilidade de horário, as famílias se organizaram para acolhimento dos bebês em suas próprias casas, em esquema de revezamento. O próximo passo foi a contratação de uma educadora profissional, seguido pela ocupação de uma casa que estava à venda na Gávea.
– No início, cada um participava como e quando podia, dando aula de música, yoga ou preparando uma receita. Quando veio a pandemia, a gente quis, de alguma maneira, dar continuidade a isso. A solução foi todo mundo se mudar para a serra, inclusive as duas educadoras. A experiência coletiva deu super certo e colocamos em funcionamento um modelo de escola florestal – explica a ativista socioambiental, que este ano matriculou seus filhos numa escola da região e não apoia a educação domiciliar em discussão na Câmara de Deputados, por acreditar que a medida priva os estudantes do convívio com educadores e colegas.
O período de “isolamento coletivo” foi bom também para que Laila tirasse da gaveta o livro “Manual para super-heróis: o início da Revolução Sustentável”, lançado há um ano pela Editora Melhoramentos. No livro, Laila apresenta 12 missões – da economia de energia e de água à reciclagem e redução de consumo – para salvar o planeta. A conscientização ecológica e sustentável já dominava as redes sociais da autora bem antes da pandemia. Nelas, Laila faz campanha contra plásticos e agrotóxicos, incentiva o consumo consciente, a separação de lixo, a compostagem e outras práticas sustentáveis: “Só posto o que eu faço realmente”, afirma ela, que não ganha dinheiro com isso, mas se tornou influencer socioambiental, com seus mais de 186 mil seguidores no Instagram.
Em outubro de 2020, ela gravou um vídeo recomendando o uso da ferramenta de buscas na internet Ecosia, ao invés do Google, por ela destinar parte do valor arrecadado com publicidade ao plantio de árvores em áreas com desmatamento e queimadas, inclusive no Brasil. O vídeo viralizou e atraiu mais usuários para a plataforma alemã.
Outras formas de atuação que a escritora considera importantes são as palestras – de escolas da rede municipal do Rio de Janeiro à edição de 2021 do TEDx, em que apresentou o tema “Não há nada mais educador na primeira infância do que a natureza” – e os abaixo-assinados. Um exemplo foi impulsionado pelo crescimento dos pedidos de comida durante a pandemia, que a levou a abraçar a campanha “#DeLivreDePlástico”, da Oceana, parceira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Em vídeo, Laila convidava a população a assinar a petição “Quero meu delivery sem plástico descartável”, que reuniu mais de 20 mil nomes e estabeleceu metas para a redução do uso desse material em parceria com os aplicativos de entrega.
Foi o vôo de tucanos que, em 2014, abriu os olhos de Laila para a Gávea e a natureza que a cerca, estimulando-a a trocar o Leblon pelo bairro. Depois da longa temporada no mato, sem internet e televisão, ela está de volta à cidade, sempre ligada na vida comunitária e coletiva a fim de preservar a alma do lugar. Mesmo sem fazer parte oficialmente da associação de moradores, ela se engaja nas campanhas em que acredita, como a conclusão da estação do metrô no bairro, que, na sua opinião, além de colocar em risco todo seu entorno, valorizaria muito a Gávea e diminuiria o tráfego de automóveis na região. O trânsito, aliás, é o único ponto que a incomoda.
– É um privilégio morar aqui, não dá para reclamar. Ainda tem muito verde, as pessoas se conhecem. É um bairro com alma própria – acredita a atriz, que apresenta o programa Rural Sustentável, do canal Futura, e faz parte do elenco da série da Netflix sobre o incêndio na Boate Kiss “Toda dia a mesma noite”, cuja estreia está prevista para 2023, 10 anos depois da tragédia em Santa Maria (RS).
Para preservar sua qualidade de vida, Laila está sempre se engajando em alguma luta, seja na escala planetária, por justiça climática; seja no âmbito local, com um grupo de What’sApp da rua em que mora. Ela usa essa ferramenta para chamar a atenção para questões do bairro, como a construção de um condomínio na famosa Casa Rosa e o projeto de Parque Sustentável, que, apesar do nome, desperta sua desconfiança.
Formada em Publicidade pela PUC-Rio, Laila defende a ocupação dos espaços públicos como forma de preservação. Um dos lugares que ela mais frequenta em sua vizinhança é o Parque da Cidade: “Adoro e costumo levar meus filhos para brincar lá, quando não vamos para a serra. Outro programa que gostamos de fazer em família é pedalar na Lagoa”, conta ela, que, antes da pandemia, costumava ir ao cinema toda semana no Shopping da Gávea, ao qual acaba recorrendo quando precisa comprar alguma coisa realmente necessária. Questionar o consumo é constante em seu cotidiano. Ela dribla as idas ao supermercado comprando o que não é produzido em seu sítio agroecológico na Tito Orgânicos ou na feira da praça Santos Dumont, às sextas:
– Infelizmente, não tem nada orgânico lá. Eu vou porque gosto de gente! – admite.
*LivMundi – Parque Lage
Diálogo Educação Transgressora: com Laila Zaid, Jota Marques e Luciane Coutinho, com mediação de Maria Clara Parente.
Domingo, 12 de junho, às 11h
*Por Betina Dowsley
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