11 de agosto de 2022
OS GARÇONS QUE SÃO A CARA DA REGIÃO

🎵“Garçom, aqui, nessa mesa de bar / você já cansou de escutar / centenas de casos de amor / Garçom, no bar, todo mundo é igual / Meu caso é mais um, é banal / Mas preste atenção, por favor”. 🎶

O clássico do cantor e compositor Reginaldo Rossi é certeiro. Mais do que servir, um bom garçom precisa saber ouvir. E é por essa cartilha que rezam Jorginho (José Jorge de Souza), do Bar Rebouças; Antonio Maia, garçom do Joia há 42 anos; e Chico (Francisco de Assis), do Belmonte. Os três são bons ouvidos e unânimes quanto ao maior segredo da profissão: discrição.

Desses três, o mais famoso é Jorginho. Sua simpatia e eficiência emprestam charme especial ao boteco da rua Maria Angélica, onde dá expediente há mais de 30 anos, de segunda a sábado, das 9h até as 2h da manhã. No pequeno espaço, ele “se vira nos 30”, alternando o trabalho no atendimento, na cozinha, na limpeza e, algumas vezes, até na entrega na vizinhança. Mesmo com tantas funções, o funcionário número 1 – e único! – do Rebouças não deixa o copo de ninguém ficar vazio e nem a cerveja esquentar na mesa.

O famoso Jorginho

Passando mais tempo no bar do que em casa, Jorginho conhece todo mundo e atende sempre com um sorriso estampado no rosto. A simpatia lhe rendeu o prêmio de melhor garçom na edição 2011 de “Comer & Beber”, da revista Veja Rio. Ele gosta de conversar com as pessoas, ouvir seus problemas e até dar conselhos. É uma espécie de analista. Tem cliente que sugeriu a ele escrever um livro quando parasse de trabalhar, coisa que, para ele, está longe de acontecer.

– Aqui vem muita gente famosa. Já conheci Sérgio Malandro, Lobão, Renato Gaúcho, Sivuca… Esse tem uma história engraçada, que aconteceu nos anos 1990, quando um cara estava tocando mal um violão na porta do Rebouças. Sivuca pegou o instrumento, afinou-o e devolveu – conta ele, habituado a atender, com a mesma deferência, de Eric Nepomuceno, Deborah Colker e Toni Platão aos trabalhadores que costumam comer o PF do lugar.

Para Jorginho, todo cliente é igual e merece respeito: “Quando aparece algum inconveniente, tem sempre um outro para chamar a atenção que o bar é familiar”, atesta. Dentre suas melhores lembranças no Bar Rebouças está o dia em que conheceu o ídolo Seedorf. Ele lembra que, em 2013, o presidente do Botafogo, Maurício Assumpção, apareceu no Rebouças no dia de seu aniversário com uma camisa autografada por todos os jogadores do clube na época e – melhor de tudo – acompanhado pelo ídolo da temporada: “Inesquecível”, garante.

Antonio está há 42 anos no Jóia

Com 42 anos de experiência somente no Bar Jóia, Antonio também conheceu muitos famosos graças à profissão. Além da trupe do teatro O Tablado, serviu os saudosos Moraes Moreira, Belchior e Tom Jobim, que gostava de sentar para tomar um chope no final da tarde, depois de passear pelos parques do bairro. Chico Buarque, quando morou na rua Itaipava, também frequentava o Jóia, só que de manhã, para tomar uma água de coco depois de sua caminhada na orla da Lagoa. Atendendo agora no período da manhã, ele especializou-se no pão na chapa, que faz sucesso entre os moradores e, volta e meia, troca uma prosa com outro Chico, o Diaz, ator de teatro, cinema e TV.

Esse papo de valorizar celebridade, no entanto, não cola nem no estabelecimento nem com o garçom. Para Antonio, todo cliente é igual. Os da noite ficam mais tempo e consomem mais; já quem para no bar de manhã está sempre correndo para encarar o batente. Cliente inconveniente, porém, tem a qualquer hora:

– Os piores são os que chegam de manhã cedo, depois de uma noitada, e querem continuar bebendo. No Jóia não tem isso. De manhã, a ordem do patrão é vender bebida alcóolica só para viagem”, avisa Seu Antonio.

Mais novo da turma, Chico confirma que para desempenhar a função de garçom é preciso gostar de lidar com o público, ser simpático e atencioso. Cearense, ele começou a trabalhar como garçom em um restaurante em Copacabana a convite de um tio nos anos 1990. Apesar da carga horária puxada, incluindo finais de semana e feriados, ele tomou gosto pela coisa e, desde 2004, bate ponto na filial do Belmonte no Jardim Botânico.

– A gente tem que ser muito discreto. Às vezes ouvimos algum comentário e não podemos deixar o cliente perceber que ouvimos e, muito menos, dar nossa opinião sobre o tema da conversa. O mais constrangedor é quando somos questionados sobre outros clientes. Melhor mudar de assunto ou pedir licença e se afastar – sugere, com sabedoria.

Em um dos pontos mais boêmios da região, o Braseiro da Gávea aposta no coletivo. Ali, todos os 18 atendentes jogam juntos, revezando-se nos turnos da manhã e da noite: “O Dia do Garçom é de todos, e a comemoração é única”, atesta um dos sócios do restaurante, que faz sucesso na Gávea desde 1995.

*Por Betina Dowsley

*Fotos: Chris Martins

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