Os registros de Evandro passa por várias editorias, da política à esportiva, passando pela cultura e pelos fatos do cotidiano. Aos 88 anos, o fotógrafo sai pouco de seu apartamento na Gávea, onde mora há mais de 30 anos
Baiano de Irajuba, o fotógrafo desembarcou no Rio de Janeiro em 1957 para trabalhar no jornal Diário da Noite, que integrava os Diários Associados. Seis anos depois, aceitou o convite do Jornal do Brasil, do qual saiu, aposentado, três dias antes da última edição impressa do periódico no final de agosto de 2010. Ao longo desse período, suas lentes captaram personalidades – da Rainha Elizabeth II e Lady Di ao bailarino Rudolf Nureyev e o Papa João Paulo II, passando por Ayrton Senna, Pelé, Cartola, Oscar Niemeyer, Fidel Castro e Carlos Drummond de Andrade, entre muitas outras –, eventos e fatos históricos, que ilustram o golpe militar de 64, a repressão ao movimento estudantil em 1968 e a cobertura de diversas edições de Olimpíadas, Copas do Mundo e grandes prêmios da Fórmula 1.
A profissão o levou a “entender” um pouco de tudo e hoje, depois de ter rodado o Brasil inteiro fotografando, ele não hesita em afirmar que tem preferência pelas fotos do cotidiano: “Minha paixão é a foto ‘Casamento em Paraty’, que fiz numa saída para uma matéria de turismo, em 1969, antes da inauguração da estrada Rio-Santos. Depois do almoço, ao ver o casal saindo da igreja, saltei do carro correndo para fotografá-lo. Os dois haviam acabado de se casar e compraram biscoito ‘cream cracker’ e leite para comemorar. O mais engraçado é que essa foto foi parar no Centro Georges Pompidou, em Paris, sem eu saber e pude ver os visitantes apontando para ela”, lembra.
Casamento em Paraty, 1969. (Evandro Teixeira/Acervo IMS))
Evandro quer mudanças e faz questão de sair para votar no próximo dia 2 de outubro. Como não sabe fotografar com celular, levará no bolso, como de hábito, uma de suas quatro câmeras Leica, que cabe na palma de sua mão. Seu voto já está definido, mas ainda vamos ter que aguardar para ver se suas imagens entrarão para a história deste dia tão importante para a democracia brasileira.
A icônica foto de Dorival Caymmi, virou estátua (Evandro Teixeira/Acervo IMS )
Logo que me aposentei, saía e viajava muito, fazendo palestras, participando de workshops e mostras. Vou para Canudos (BA) no final do mês para participar da terceira edição da Feira Literária de Canudos, mas agora ficou tudo mais difícil, preciso ter sempre uma pessoa me acompanhando. Comprei até um bastão para dar mais firmeza para caminhar – afirma ele, que pegou Covid duas vezes e ficou sem força nas pernas e com secura na garganta, mesmo após as quatro doses da vacina.
Canudos é um destino corriqueiro para ele, que passou a frequentar a cidade pelo menos uma vez por ano desde 1994. Sua ligação com o lugar é forte e representa o reencontro com a história de sua família, tanto que o fotógrafo baiano transformou as imagens das primeiras viagens à cidade de sua avó no livro “Canudos –100 anos”, lançado em 1997. Ao todo, Evandro tem mais de 150 mil fotos de Canudos. Outros livros publicados pelo fotógrafo são “Fotojornalismo” (1983) e “A Passeata dos 100 mil” (2008). Em 2014, foi biografado por Silvana Costa Moreira, no livro “Evandro Teixeira – Um certo olhar”, que reúne muitas e ótimas histórias que viveu atrás das câmeras.
A Passeata dos 100 mil (Evandro Teixeira/Acervo IMS)
Evandro mudou-se para a Gávea em 1988: “Vendi meu apartamento no Jardim de Alah e comprei esse em frente ao Planetário ainda em construção. A oferta era boa e o local também agradava”, recorda-se. Não demorou a descobrir, próximo ao novo endereço, os prazeres da boa mesa, tornando-se fã da picanha, com farofa de ovo, arroz de brócolis e batata portuguesa do Braseiro da Gávea, que faz questão de apresentar a amigos e colegas de fora do Rio: “O prato dá para quatro pessoas”, avisa.
Seu programa favorito antes da pandemia, porém, era ir à padaria na esquina da Marquês de São Vicente com a rua Professor Manoel Ferreira. Ele costumava ficar de três a quatro horas jogando conversa fora e cantando com vizinhos como Moraes Moreira.
– Agora não temos mais Moraes nem a padaria, que virou farmácia! Em 500 metros, temos nove desses estabelecimentos – espanta-se.
Apesar disso, Evandro destaca entre as coisas boas do bairro o fato de ter tudo perto de casa: supermercado, hortifrúti, shopping e até feira de antiguidade, que costumava frequentar aos domingos na praça Santos Dumont: “Gosto muito daqui, é tranquilo e tem lugares como o Planetário, o Jockey Club e o Instituto Moreira Salles”, destaca.
O IMS passou a ocupar um lugar de maior destaque em sua vida a partir de 2019, quando confiou a guarda de seus arquivos – cerca de 50 caixas que ocupavam quase todo seu escritório – à instituição: “Foi ótimo, mantive algumas fotos penduradas na parede e ganhei espaço. Fico tranquilo de saber que estão no lugar certo, aqui estavam se estragando”, atesta Evandro, que antes de sair do JB negociou os direitos sobre o que produziu no jornal até 2002. Nos últimos tempos, ele tem ido toda semana ao Moreira Salles para tratar de uma exposição sua, com curadoria de Sergio Burgi (coordenador de fotografia do IMS) programada para março de 2023, na unidade de São Paulo do Instituto, quando a casa daqui estará fechada para obras de restauro e ampliação.
Evandro no IMS (Laura Liuzzi/IMS)
Atualmente, Evandro considera a vista de sua varanda como um dos pontos mais fotogênicos da Gávea, com o Planetário e o morro Dois Irmãos ao fundo. De lá, constatou o corte de uma árvore ao lado da estátua de seu conterrâneo, o médico Clementino Fraga, que desde 2012 está na praça Santos Dumont. A arborização, contudo, não é o principal problema do bairro, na opinião do fotógrafo, que destaca, neste quesito, a obra inacabada da estação do metrô, que coloca em risco os prédios de seu entorno.
A profissão o levou a “entender” um pouco de tudo e hoje, depois de ter rodado o Brasil inteiro fotografando, ele não hesita em afirmar que tem preferência pelas fotos do cotidiano: “Minha paixão é a foto ‘Casamento em Paraty’, que fiz numa saída para uma matéria de turismo, em 1969, antes da inauguração da estrada Rio-Santos. Depois do almoço, ao ver o casal saindo da igreja, saltei do carro correndo para fotografá-lo. Os dois haviam acabado de se casar e compraram biscoito ‘cream cracker’ e leite para comemorar. O mais engraçado é que essa foto foi parar no Centro Georges Pompidou, em Paris, sem eu saber e pude ver os visitantes apontando para ela”, lembra.
Casamento em Paraty, 1969. (Evandro Teixeira/Acervo IMS))
Evandro quer mudanças e faz questão de sair para votar no próximo dia 2 de outubro. Como não sabe fotografar com celular, levará no bolso, como de hábito, uma de suas quatro câmeras Leica, que cabe na palma de sua mão. Seu voto já está definido, mas ainda vamos ter que aguardar para ver se suas imagens entrarão para a história deste dia tão importante para a democracia brasileira.
Encontro com o amigo Sebastião Salgado no JBRJ em 2013. (Chris Martins )
Outro exemplo de reconhecimento de sua trajetória foi a homenagem da edição 2019 da ArtRio, que reservou um estande para imagens emblemáticas capturadas por Evandro nos anos 1960-1970. Entre os cliques, estavam fotos de Leila Diniz, de maiô, filmando na praia; Dorival Caymmi com seu violão em Copacabana, que inspirou a estátua do compositor instalada no local; e a mítica imagem de Chico Buarque, Tom Jobim e Vinícius de Moraes deitados em cima de uma mesa de bar na comemoração do aniversário do “Poetinha”.
A icônica foto de Dorival Caymmi, virou estátua (Evandro Teixeira/Acervo IMS )
Logo que me aposentei, saía e viajava muito, fazendo palestras, participando de workshops e mostras. Vou para Canudos (BA) no final do mês para participar da terceira edição da Feira Literária de Canudos, mas agora ficou tudo mais difícil, preciso ter sempre uma pessoa me acompanhando. Comprei até um bastão para dar mais firmeza para caminhar – afirma ele, que pegou Covid duas vezes e ficou sem força nas pernas e com secura na garganta, mesmo após as quatro doses da vacina.
Canudos é um destino corriqueiro para ele, que passou a frequentar a cidade pelo menos uma vez por ano desde 1994. Sua ligação com o lugar é forte e representa o reencontro com a história de sua família, tanto que o fotógrafo baiano transformou as imagens das primeiras viagens à cidade de sua avó no livro “Canudos –100 anos”, lançado em 1997. Ao todo, Evandro tem mais de 150 mil fotos de Canudos. Outros livros publicados pelo fotógrafo são “Fotojornalismo” (1983) e “A Passeata dos 100 mil” (2008). Em 2014, foi biografado por Silvana Costa Moreira, no livro “Evandro Teixeira – Um certo olhar”, que reúne muitas e ótimas histórias que viveu atrás das câmeras.
A Passeata dos 100 mil (Evandro Teixeira/Acervo IMS)
Evandro mudou-se para a Gávea em 1988: “Vendi meu apartamento no Jardim de Alah e comprei esse em frente ao Planetário ainda em construção. A oferta era boa e o local também agradava”, recorda-se. Não demorou a descobrir, próximo ao novo endereço, os prazeres da boa mesa, tornando-se fã da picanha, com farofa de ovo, arroz de brócolis e batata portuguesa do Braseiro da Gávea, que faz questão de apresentar a amigos e colegas de fora do Rio: “O prato dá para quatro pessoas”, avisa.
Seu programa favorito antes da pandemia, porém, era ir à padaria na esquina da Marquês de São Vicente com a rua Professor Manoel Ferreira. Ele costumava ficar de três a quatro horas jogando conversa fora e cantando com vizinhos como Moraes Moreira.
– Agora não temos mais Moraes nem a padaria, que virou farmácia! Em 500 metros, temos nove desses estabelecimentos – espanta-se.
Apesar disso, Evandro destaca entre as coisas boas do bairro o fato de ter tudo perto de casa: supermercado, hortifrúti, shopping e até feira de antiguidade, que costumava frequentar aos domingos na praça Santos Dumont: “Gosto muito daqui, é tranquilo e tem lugares como o Planetário, o Jockey Club e o Instituto Moreira Salles”, destaca.
O IMS passou a ocupar um lugar de maior destaque em sua vida a partir de 2019, quando confiou a guarda de seus arquivos – cerca de 50 caixas que ocupavam quase todo seu escritório – à instituição: “Foi ótimo, mantive algumas fotos penduradas na parede e ganhei espaço. Fico tranquilo de saber que estão no lugar certo, aqui estavam se estragando”, atesta Evandro, que antes de sair do JB negociou os direitos sobre o que produziu no jornal até 2002. Nos últimos tempos, ele tem ido toda semana ao Moreira Salles para tratar de uma exposição sua, com curadoria de Sergio Burgi (coordenador de fotografia do IMS) programada para março de 2023, na unidade de São Paulo do Instituto, quando a casa daqui estará fechada para obras de restauro e ampliação.
Evandro no IMS (Laura Liuzzi/IMS)
Atualmente, Evandro considera a vista de sua varanda como um dos pontos mais fotogênicos da Gávea, com o Planetário e o morro Dois Irmãos ao fundo. De lá, constatou o corte de uma árvore ao lado da estátua de seu conterrâneo, o médico Clementino Fraga, que desde 2012 está na praça Santos Dumont. A arborização, contudo, não é o principal problema do bairro, na opinião do fotógrafo, que destaca, neste quesito, a obra inacabada da estação do metrô, que coloca em risco os prédios de seu entorno.
A profissão o levou a “entender” um pouco de tudo e hoje, depois de ter rodado o Brasil inteiro fotografando, ele não hesita em afirmar que tem preferência pelas fotos do cotidiano: “Minha paixão é a foto ‘Casamento em Paraty’, que fiz numa saída para uma matéria de turismo, em 1969, antes da inauguração da estrada Rio-Santos. Depois do almoço, ao ver o casal saindo da igreja, saltei do carro correndo para fotografá-lo. Os dois haviam acabado de se casar e compraram biscoito ‘cream cracker’ e leite para comemorar. O mais engraçado é que essa foto foi parar no Centro Georges Pompidou, em Paris, sem eu saber e pude ver os visitantes apontando para ela”, lembra.
Casamento em Paraty, 1969. (Evandro Teixeira/Acervo IMS))
Evandro quer mudanças e faz questão de sair para votar no próximo dia 2 de outubro. Como não sabe fotografar com celular, levará no bolso, como de hábito, uma de suas quatro câmeras Leica, que cabe na palma de sua mão. Seu voto já está definido, mas ainda vamos ter que aguardar para ver se suas imagens entrarão para a história deste dia tão importante para a democracia brasileira.
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