Moradores da Gávea, Jardim Botânico e Horto não precisam ir muito longe para entrar no clima da ArtRio 2022, que acontece na Marina da Glória esta semana. Arborizada e bucólica, a região abriga a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, o Instituto Moreira Salles, ateliês de artistas do porte de Beatriz Milhazes, Gabriela Machado e José Bechara, e cada vez mais galerias de arte, que oferecem programa cultural gratuito.

O movimento começou simultaneamente no Horto e no Baixo Gávea, no início dos anos 2000. Se no primeiro muitas das casas foram transformadas em ateliês, preservando as fachadas e o ambiente tranquilo e inspirador; no segundo, a região tradicionalmente frequentada por artistas e intelectuais pareceu o local ideal para galerias. Uma das primeiras foi a Galeria da Gávea, instalada numa simpática casa amarela no alto da Marquês de São Vicente. Fundada em 2009 por Alexandre Sant’Anna, Ana Stewart, Bruno Veiga, Isabel Amado e Ricardo Fasanello, e atualmente sob direção de Ana Stewart, o espaço apresenta um recorte atual da fotografia brasileira contemporânea e emergente. Anualmente, a galeria promove cerca de cinco exposições – individuais e coletivas – e funciona também como uma plataforma de intercâmbio, palestras e lançamento de publicações.

O estilo arquitetônico das galerias varia do colonial (Galeria da Gávea) ao moderno (Silvia Cintra + Box 4).

Em 2010, a Silvia Cintra Galeria de Arte trocou Ipanema pela Gávea, onde construiu um prédio com formas modernas especialmente para abrigar seu acervo e exposições temporárias. A mudança marcou também o momento em que a galeria se juntou à Box 4, de Juliana Cintra, filha de Silvia, voltada para novos artistas. Três anos depois foi a vez da galeria Anita Schwartz construir seu edifício-sede no BG. O prédio tem aproximadamente 700 m² de área, distribuídos em três andares, com salão principal de 140 m² e pé direito de 6,8 m para receber grandes mostras, instalações e projetos especiais. O segundo andar conta com uma sala de exposições de 96 m² e terraço com um container próprio para videoinstalações, que comporta até 20 espectadores.

Em 2017, a tradicional Galeria de Arte IBEU – criada na década de 1960, em Copacabana – foi transferida para a casa do curso de inglês, na Rua Maria Angélica, em comemoração aos 80 anos da instituição. O espaço ficou fechado durante a pandemia, mas foi reinaugurado no mês passado.

Também em 2017, a Carpintaria foi o primeiro estabelecimento a ser aberto na Vila Portugal, polo cultural e gastronômico do Jockey Club. A galeria pertence à Fortes D’Aloia & Gabriel (fundada Galeria Fortes Vilaça), mas foi batizada com esse nome por ter assumido o espaço onde funcionou a carpintaria do clube. O galpão foi reformado por Pedro Évora e Pedro Rivera, da Rua Arquitetos, que se inspiraram nas portas das cocheiras dos cavalos e mantiveram as telhas originais. Entre os artistas que já expuseram na Carpintaria, há nomes como Ernesto Neto e Adriana Varejão, que decorou com seus azulejos um canteiro no jardim da galeria.

No mesmo ano, foi inaugurado também o Studio OM.Art, aberto a projetos multidisciplinares, envolvendo teatro, dança, fotografia, cinema e outras manifestações artísticas. O projeto arquitetônico foi de Bel Lobo, que precisou adequar o desejo do proprietário – o empresário e artista Oskar Metsavah – de utilizar um contêiner e preservar as árvores existentes no local (um coqueiro e um pé de atemoia, espécie de fruta-de-conde).

Nos últimos anos, quatro casas antigas da região foram transformadas em galerias de arte. É o caso da C. Galeria, no Jardim Botânico; da Mercedes Viegas, no Horto; e da Danielian e da Movimento, na Gávea. A primeira foi criada em 2016 pela moradora do Jardim Botânico Camila Tomé, que, dois anos depois, optou por reduzir a distância entre casa e trabalho, trazendo a C. Galeria para a rua Visconde de Carandaí. Já a museóloga Mercedes Viegas fundou sua própria galeria em 2000, na Gávea. A mudança para o Horto ocorreu durante a pandemia e completará dois anos no próximo mês de outubro.

A galeria Danielian ocupa, desde 2019, um imponente casarão histórico de três andares no Baixo Gávea. Seu acervo abrange desde a produção do século XIX até os mais recentes nomes da arte contemporânea. Já a Movimento Galeria instalou-se na mesma região no ano passado em um casarão centenário, que ficou fechado por mais de uma década e exigiu de Ricardo Kimaid Junior – da terceira geração de uma família de marchands, cuja trajetória teve início nos anos 1930 – empenho na realização de uma grande reforma.

Confira as exposições em cartaz atualmente no circuito artístico do eixo Gávea-JB-Horto:

GÁVEA

Anita Schwartz Galeria de Arte
Rua José Roberto Macedo Soares, 30 – Gávea
Exposição “KLANGFARBENMELODIE: melodia de timbres” – até 29/10
De segunda a sexta, das 10h às 19h; sábados das 12h às 18h.
Entrada gratuita.

Danielian Galeria
Rua Major Rubens Vaz, 414 – Gávea
Exposição “Di Cavalcanti – 125 anos”, até 22/10
De segunda à sexta, das 11h às 19h
Entrada gratuita.

Galeria da Gávea
Rua Marquês de São Vicente, 432 – Gávea
Exposição “Av. Brasil 24h”, a partir de 16/9
Visitação de segunda à sexta, das 11h às 19h

Galeria Movimento
Rua dos Oitis 15 – Gávea
Exposição “Cartas ao Afeto”, até 8/10
Terça a sexta, das 11h às 19h, e sábados, das 13h às 18h.
Entrada gratuita.

Galeria Silvia Cintra + Box 4
Rua das Acácias 104 – Gávea
Exposição “Tempo”, até 24/9
De segunda à sexta, das 10h às 19h. Sábados, das 12h às 16h.
Entrada gratuita.

JB / HORTO

C. Galeria
Rua Visconde de Carandaí 19 – Jardim Botânico
Exposição “Trono sem Rei”
De quarta a sexta, das 11h às 19h
Entrada gratuita.

Galeria Carpintaria: Rua Jardim Botânico 971 (Jockey Club)
Exposição “Fala Coisa”, até 29/10
De terça a sexta, das 10h às 19h / sábados, das 10h às 18h.
Entrada gratuita.

Galeria de Arte Ibeu
Rua Maria Angélica 168 – Jardim Botânico
Exposição “Como sobreviver a um naufrágio”, até 23/9
Funcionamento: Quartas e quintas, de 13h às 19h; sextas, de 12h às 18h
Entrada gratuita.

Mercedes Viegas Arte Contemporânea
Rua Abreu Fialho 5 – Horto
Exposição “A carne das folhas”, até 14/10
De segunda a sexta, das 13h às 18h30
Entrada gratuita.

Studio OM.Art
Rua Jardim Botânico, 997 (Jockey Club)
Exposição “Ateliê aberto”, até 18/9
De quarta a sexta, das 14h às 19h, e sábados e domingos, das 12h às 20h
Entrada gratuita.

*Por Betina Dowsley