O jovem Thiago Süssekind, 23 anos, tem feito muita gente olhar diferente para o chão pelas ruas da cidade. O estudante de direito e amante da história do Brasil, sempre teve interesse pelo assunto, mas foi a grafia de um bueiro na porta do seu prédio, no Jardim Botânico, que despertou sua curiosidade. Depois de pesquisar sobre várias siglas de bueiros ele gravou o vídeo “A história pelos bueiros do Rio de Janeiro”, que viralizou na internet e hoje, só no seu perfil no aplicativo TikTok, já ultrapassou 36 mil curtidas. Mas acredita-se que, de compartilhamento em compartilhamento, em diferentes mídias, o vídeo já tenha alcançado mais de dois milhões de visualizações. Ele se diz surpreso com a repentina fama.
– Eu não imaginava esta reação. Coloquei o vídeo no Tiktok – que nem uso muito – e depois no Instagram, onde está incompleto, por conta das limitações do aplicativo e aí aconteceu. Outro dia, quando estava dando entrevista para uma TV, uma pessoa passou e, vendo a cena, perguntou: é o cara do bueiro?, conta o estudante.
Fotos: Chris Martins
Tudo começou com “’Prefeitura do District Federal’, inscrito no bueiro em frente ao prédio em que ele mora no Jardim Botânico desde 2002. A partir dali o estudante de direito da UERJ começou uma pesquisa por vários sites até encontrar um texto sobre a história do saneamento na cidade, com algumas das siglas que buscava. Ao todo dez bueiros serviram de fonte de estudo, mas apenas oito estão no vídeo publicado em 16 de fevereiro. “Fui seguindo a lógica: para saber de quando era o bueiro com a inscrição District Federal, ele tinha que ser anterior a 1961, ano da fundação de Brasília. Mas eu queria saber quando o ‘c’ mudo sumiu e vi que foi com o acordo ortográfico de 1931. Então ele foi feito entre 1891 – ano da constituição da nossa primeira República -, e 1931. Provavelmente é desse período”, explicou.
Morador do Jardim Botânico em diferentes ruas desde que nasceu, Thiago é um andarilho. Não tem carro, não sabe dirigir e anda pouco de bicicleta. O que curte é sair caminhando pelo bairro, com direito a parada no Jardim Botânico. Quando criança, seu programa favorito era jogar bola na Pio XI, mas hoje a praça serve apenas de espaço para os passeios com o seu buldogue francês Penelope. O lazer atualmente está focado no Bar Joia – onde costuma encontrar os amigos antes de seguir para os jogos do Fluminense, time do coração – e nos restaurantes japoneses da região, como Temakeria e Bla Blá, que frequenta com a namorada e na La Byciclete, que substituiu o Le Pain du lapin, que Thiago frequentava quando novo. Como trabalha no centro da cidade, o que mais sente falta na região, é de uma estação de metrô. “Seria perfeito”, sonha.
Em suas caminhadas, o pesquisador descobriu que os bueiros mais antigos do Jardim Botânico são da RIC, abreviação do pomposo nome da empresa The Rio de Janeiro City Improvements Company Ltda – responsável pelo saneamento na cidade na cidade de 1862 a 1947 – e o CTB, Companhia Telefônica Brasileira, empresa que durou de 1923 a 1976. “O Jardim Botânico foi um dos primeiros bairros a ter rede de esgoto, junto com Botafogo e Tijuca. Por isso temos tantos bueiros com a inscrição RIC”, atesta ele.
Reprodução do vídeo
Mas o favorito do estudante é o RGT, Repartição Geral dos Telégrafos (1881-1931), que é mais visto no centro, perto do Fórum, onde frequenta por ossos do ofício. “É comum você achar o RGT no Paço Imperial e próximo à Marechal Âncora, já que é um serviço que surgiu no começo da República”, – explica Thiago que é professor voluntário de história do Brasil, em um curso de pré vestibular social na Rocinha.
No momento, o futuro advogado tem como meta finalizar sua tese de conclusão de curso – “Como conselho de segurança da ONU lidou com a COVID-19” – e faz estágio em um escritório de advocacia especializado em direito criminal, sem saber ainda em qual área deverá atuar. Mas o jovem desde o ensino médio é engajado politicamente e, por dois anos, liderou o movimento “eu acredito” no Rio de Janeiro.
Satisfeito com o resultado positivo do vídeo, Thiago já pensa em uma segunda edição, focando mais nos bueiros do bairro do Flamengo, por onde andou durante o carnaval. E avisa que quem tiver curiosidade como ele e quiser mandar fotos ou vídeos de novos bueiros, é só encaminhar para o seu perfil Instagram.
– O Rio de Janeiro tem uma história rica e os bueiros podem revelar um pouco sobre os bairros antigamente. Despertar a curiosidade das pessoas sobre o nosso passado, nem que seja olhando para o chão da cidade, já fez tudo valer a pena.
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