Texto e foto da capa: Chris Martins
A Dra. Margareth Dalcolmo já era uma referência na medicina quando, em março de 2020, a pandemia da Covid-19 pegou o mundo de surpresa. A partir desta data a atual Presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT) e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), virou uma celebridade, marcando presença diária em todos os veículos de comunicação do país. Foram quase três anos de luta para vencer o vírus, encontrar a vacina e ainda combater o negacionismo e práticas pouco ortodoxas para tratar o vírus.
Foram mais de 500 inserções, palestras, reuniões e testes e mais testes para descobrir a vacina em um período que computou também algumas perdas. A pandemia levou companheiros de profissão, amigos, a enteada e, no começo de 2022, ela perdeu também o marido, o imortal Cândido Mendes de Almeida, que faleceu de embolia pulmonar. A própria Margareth foi vítima da Covid-19, em 2020 e teve que se isolar para o tratamento da doença. “Foi um momento muito duro, a vacina ainda não existia. Fiquei sozinha para não contaminar outras pessoas, mas não tinha forças, não conseguia fazer nada e acabei me internando”, conta a médica que recebeu a dose número 1 da vacina Astrazeneca, na Fiocruz.
Fotos: Acervo Pessoal
Mas, como diz o ditado popular, “depois da tempestade vem a bonança” e a pneumologista agora vem reconstruindo a vida e colhendo os frutos por seu trabalho, com prêmios, títulos e homenagens. Em outubro ela se tornou a quinta mulher viva a tomar posse na Academia Nacional de Medicina e no final do ano recebeu o Prêmio Jabuti, na categoria Ciências, pelo livro “Um tempo para não esquecer – A visão da ciência no enfrentamento da pandemia do coronavírus e o futuro da saúde”, em que faz um balanço sobre a vida e a medicina durante a pandemia da COVID-19. E o ano de 2023 começou animado, com o convite para participar da Banda de Ipanema, durante o carnaval; e depois para desfilar, com o Zé Gotinha na abertura do Desfile das Campeãs, no Sambódromo.
– Eu relutei um pouco para ir na Banda de Ipanema, mas quando estava lá fiquei muito comovida com o carinho do público. E tinha muita gente idosa no cortejo, inclusive, muitos pacientes meus. Eu nem sou tão foliã, mas foi uma experiência maravilhosa. – confessa.
A próxima aparição de Margareth Dalcolmo como celebridade será como embaixadora do movimento nacional pela vacinação, a convite da Ministra da Saúde, Nísia Trindade. A partir desta quinta-feira, dia 9/3, Margareth estará, em rede nacional, estrelando a nova campanha do Programa Nacional de Imunização (PNI), junto com artistas como Emicida e Mônica Martelli, entre outros.
A campanha chega no momento certo para recuperar o antigo prestígio do Brasil como referência mundial em imunização, desde quando o PNI foi criado, em 1976. Este protagonismo se perdeu por conta da postura do governo federal no combate à Covid-19. Mas isso faz parte do passado, pois Margareth assegura que agora é hora de investir em campanhas de conscientização para trazer de volta o orgulho do brasileiro em mostrar a caderneta de vacinação completa.
– O Brasil nunca teve resistência à vacina, ao contrário de países como França e Alemanha, em que 30% da população não se vacina. O que houve foi uma negligência com o SUS (Sistema Único de Saúde). A proposta agora é aumentar a vacinação – inclusive para adultos – e a cobertura para outras imunizações, como a antipneumocócica e o sarampo. E já está na ANVISA para ser aprovada a vacina contra a dengue, por exemplo, que tem uma incidência de vários casos e corre o risco de virar uma epidemia. – alerta a médica.
(Fotos: Acervo Pessoal)
Margareth está animada com a boa cobertura da bivalente para a Covid-19. “Vamos vacinar todos com idade acima de 12 anos. E os pequenos ainda contam com a Pfizer Baby”, diz ela, reforçando a importância da vacina. “Nestes casos de virose com transmissão respiratória, o que resolve não é remédio, é vacina!”
Capixaba de Colatina, Margareth veio ainda criança morar no Rio, onde residiu na Gávea. Quando casou, escolheu a Lagoa, no começo da Epitácio Pessoa, onde vive até hoje. Sua rotina se divide entre a unidade da Fiocruz em Jacarepaguá, a PUC – onde leciona – e o seu consultório, no edifício Touch, no Jardim Botânico. A história dela com o bairro é um caso de amor antigo. “Eu sempre tive simpatia por esta praça (Pio XI) e um dia passando na porta, vi este prédio e parei para perguntar se tinham salas para alugar. E já se vão cinco anos” – conta ela, que vez ou outra recorre ao Mercado Afonso Celso para pequenas compras.
O tempo da doutora é totalmente voltado para o trabalho, mas este ano ela se permitiu tirar duas semanas de férias, para passear pela Europa visitar uma sobrinha que tem como filha, na Suécia. “Fui para acompanhar o nascimento do meu netinho do coração, mas ele nasceu depois. Agora tenho que encontrar tempo para outra fugida, para ver esta coisa fofa” – diz a médica, mostrando orgulhosa a foto do mais novo membro da família.
Amante da cultura, Dalcolmo reserva o pouco tempo livre que tem para a leitura. “Eu tenho duas paixões: a medicina e a literatura. Tenho livros, de todos os tipos espalhados por toda a casa, até no lavabo. Quando um convidado vai ao banheiro e demora a sair, imagino que ele achou algo interessante para ler”, brinca a médica que confessa que luxo para ela é passar um dia em casa lendo e ouvindo música clássica e em sua poltrona preferida.
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