7 de junho de 2024
UM ANDARILHO A SERVIÇO DA ESCRITA 

 Abel Silva é um andarilho do Jardim Botânico. O compositor está sempre caminhando pela região e, apesar de ser discreto e tentar passar sem chamar a atenção, é impossível não identificá-lo, pelo seu estilo calça jeans, camisa social, boné e óculos escuros. É a marca do poeta, que está com livro novo na praça.  “Vou te contar”, seu 23º livro da carreira, deixa de lado (só um pouco) a poesia e apresenta 26 crônicas, escritas ao longo dos seus mais de 50 anos de carreira.

 O lançamento da nova obra acontece na próxima segunda, dia 10 de junho, no Bar Belmonte do Jardim Botânico, a partir das 18h.  Desta vez não estão confirmadas leituras, mas quem conhece Abel, e seus amigos, sabe que isso é mais do que possível de acontecer.  Abel gosta de lugares diferentes para fazer suas sessões de autógrafos.  No último livro, “o caderno vermelho das manhãs”, o local escolhido foi a Padaria Século XX, onde acabou acontecendo um grande sarau de poesia, com amigos como o ator Antonio Pedro, Roberto Menescal e Nevile d’Almeida recitando um poema ou outro.

 As crônicas reunidas no livro, foram uma coletânea de narrativas diferentes. A ideia surgiu depois de uma conversa com Roberto Menescal, amigo e parceiro de composições. “Ele me chamou a atenção que a gente precisa não esquecer o que fez. Fui para casa, olhei todos aqueles livros que eu tinha escrito e decidi voltar no tempo”, explica Abel.

“A pista”, é uma das primeiras crônicas a abrir o livro e acabou sendo adaptada e transformada no curta “P.S. Te amo”, do cineasta Sérgio Rezende, em 1977, quando ele foi aluno de Abel. Na apresentação, o jornalista Hugo Sukman revela um pouco do que o leitor vai encontrar:

 – O passeio de Abel Silva pela literatura narrativa fascina pela variedade de procedimentos. “Os peregrinos”, por exemplo, assume uma estrutura dramática – meio roteiro de filme buñueliano, peça de teatro rodrigueana – para ironizar a sociedade burguesa. “A morena do Catumbi” parece uma estranha notícia de jornal popular. No confessional “O In- pássaro no Impasse”, o tom é de ensaio literário, uma reflexão sobre a escrita, a loucura e a vida que cita explicitamente influências literárias como a outridade de Paz, a “consciência da excentricidade” de Cortázar, o “ser gauche” de Drummond, para (in) definir tudo isso. “Vertigem” é um contundente panfleto político. Há contos propriamente “literários” como “Rajah das veredas” ou “O aprendiz e o tigre” e o muito denso “Açougue das almas”, mas também um cordel – poesia “narrativa” por excelência, por isso coube neste volume de “histórias” – “O romance do cocar de penas com o boné vermelho”. 

 A inspiração para os poemas e crônicas vem das suas caminhadas matinais pelo Jardim Botânico, bairro onde mora há quase 50 anos. Os últimos anos foram difíceis. O compositor teve que lidar com a perda de alguns amigos e parceiros musicais, como Moraes Moreira, Suely Costa, João Donato e Gal Costa, que eternizou com sua voz o seu maior sucesso, “Festa do Interior”. Mas ele não se arrefece e busca novos caminhos. Agora tem praticado fazer letra e melodia ao mesmo tempo.  “Meus parceiros partiram. Eu tenho que me virar”,  brinca ele, deixando no ar que novas parcerias estão surgindo. Nem a violência, que tem assustado os moradores do bairro, tira sua tranquilidade ou muda seu roteiro de caminhada. Os exercícios, aliás, foram atualizados para o pilates, que ele começou a fazer pilates, há um ano, junto com a mulher Lena. As aulas eram na Gestos, mas agora estão perto de casa, na Sauer Danças.  “Estou adorando. Sempre caminhei muito, mas quase não fazia nada com os braços. E a gente vai aonde a Roberta Repeto professora estiver. Ela é ótima!”,  brinca.

Cheio de energia, Abel está animado e cheio de planos. Em julho, se apresenta na Casa do Choro, com os amigos Roberto Menescal e Leila Pinheiro. E até o final do ano, quer fazer uma festa para celebrar os 50 anos de carreira. “A gente tem que olhar o que já fez e comemorar!”.

 E motivos não faltam, afinal, nesta bagagem Abel Silva carrega mais de 300 músicas compostas, dois “Prêmio Sharp”, pela autoria de “Voz de mulher” (com Sueli Costa), registrada por Edson Cordeiro, e “Sempre você” (com Dominguinhos), além de outro “Prêmio Sharp” por sua composição “Amor escondido”, em parceria com Fagner.  Seu maior sucesso, “Festa do Interior”, feita com o compadre Moraes Moreira em 1981, já ganhou versões em mais de 10 idiomas incluindo japonês, italiano, espanhol, finlandês, inglês e outros. Por tanto talento a serviço do público, Abel Silva merece todas as comemorações!

“VOU TE CONTAR”

ABEL SILVA

EDITORA 7LETRAS | 127 PÁGINAS | VALOR: R$ 65

LANÇAMENTO:

DIA 10/06 – TERÇA – 18H

BAR BELMONTE | RUA JARDIM BOTÂNICO

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