Texto e fotos: Marcella Sobral
Rafa Costa e Silva diminuiu para crescer. Ao se mudar do casarão da Conde de Irajá, onde atendia até 45 pessoas por noite, para o Largo dos Leões, num balcão para até dez pessoas, o chef conseguiu dar ainda mais brilho ao seu ofício preciso de construção de uma nova gastronomia carioca, através do seu Lasai Restaurante.
Um trabalho de uma década, reconhecido no mundo inteiro, com a chancela de duas estrelas Michelin, conquistada recentemente, e a posição 14 e 58 nas listas Latina e mundial do World’s 50 Best Restaurants. Com ingredientes únicos, a mágica acontece sem qualquer especiaria. No máximo com azeite de oliva brasileiro, um limão-galego aqui ou acolá, e flor-de-sal – sempre, inclusive na sobremesa – e nada que seja de fora do Brasil. Antes do espetáculo começar, os protagonistas da noite são apresentados aos comensais. Uma bandeja com uma gama de cores impensável, com ingredientes das hortas próprias no Itanhangá e no Vale das Videiras, na Região Serrana do Rio, e de pequenos agricultores da região. Dão pinta por lá o rabanete-melancia, a beterraba amarela, os limões caviar, verde e rosa, maxixe e afins.
O chef Rafa Costa e Silva em ação (Foto: divulgação)
A opção de fazer o jantar harmonizado é irresistível. Em busca do que há de mais inspirador a ser degustado, está Maíra Freire. Há oito anos por lá, ela acaba de conquistar uma estrela Michelin para chamar de sua, pelo seu trabalho irrepreensível como sommelier.
As primeiras nove etapas são vapt-vupt no relógio, mas longevas na memória. Snacks para comer com as mãos, para sentir a temperatura, a textura. O sabor começa antes mesmo da primeira mordida, quando a equipe dá os primeiros passos de uma coreografia de exata demonstração de técnicas e processos, sem intermediários. É das mãos de quem fez para as de quem vai comer.
Crocantes de araruta, chia, quinoa e mandioca servem como moldura para as combinações marcantes de cada bocado. Leves, divertidos, cheios de bossa. Combinações impensáveis, como mandioca, abobrinha e ouriço, couve-flor, aveia e noz pecan e chia, beterraba e siri azul e o desejado pão de queijo com goiabada. Na sequência, os pratos combinam riqueza, simplicidade e magia a cada garfada. Cenoura, brócolis, semente de girassol e mel, rabanete, peixe e chuchu, porco, banana-da-terra e vagens.
Alguns dos pratos servidos no jantar harmonizado
As sobremesas seguem as mesmas premissas de todo o cardápio. Equilibradas e instigantes, combinam azedinha, limão-doce, ruibarbo e ioGastrgurte, juçaí, ricota e mel de Uruçú amarela e batata-doce e kikan. Claro que no balanço dos melhores ingredientes, tudo pode mudar. Mas o que se vê por lá é um roteiro muito bem amarrado, sem furos.
Num lugar onde a comida e o serviço têm o mesmo valor, tudo acontece de forma encantadora. A vontade é de sair de lá chamando a todos para comer pipoca e assistir um filme de Sessão da Tarde no sofá de casa. Uma barreira difícil de ser quebrada num lugar, aparentemente, de tantos protocolos.
As reservas são feitas apenas pelodo restaurante e com pagamento antecipado.
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