Texto: José Miranda | Fotos: Chris Martins
Abaixo do Cristo Redentor, de frente para a Lagoa e cercado pelas frondosas árvores do Parque Lage e do Jardim Botânico, se encontra a Sociedade Hípica Brasileira. O espaço mantém a bela arquitetura tradicional de 1938, quando foi fundado com a fusão do Clube Esportivo de Equitação – com sede na Quinta da Boa Vista -, e o Centro Brasileiro de Hipismo que, na época, era sediado na Praia Vermelha. Os moradores do entorno do clube podem dormir sossegados e não precisam se preocupar com a possível construção de um shopping center ou algo similar no local. Os 54 mil metros quadrados de área são protegidos pela Lei de Tombamento Municipal, que impede que o terreno seja utilizado para qualquer fim diferente da prática do esporte equestre.
Atualmente, o clube tem no seu quadro, mais de 350 sócios que, com dependentes, chegam a mais de mil pessoas circulando pela área. Deste total, 33% são moradores do entorno divididos entre Humaitá, Jardim Botânico, Horto, Gávea e parte da Lagoa. A instituição cumpre bem o seu papel de representar e disseminar o hipismo no Rio de Janeiro, promovendo várias provas e concursos hípicos nacionais e internacionais, e oferecendo bolsas para atletas. Como é o caso de Mayara Alves, de 17 anos, moradora do Vidigal.
Mayara Alves é uma das bolsistas da SHB e sonha em ser veterinária
– Meus pais sempre me disseram que não tínhamos condições de arcar com os custos do esporte. Mas, desde pequena, eu sou apaixonada por cavalos e soube que a Hípica oferecia uma aula experimental grátis. Eu vim sem esperar nada, mas montei bem e ganhei uma bolsa integral. Meu sonho é me profissionalizar e fazer medicina veterinária – diz a atleta em entrevista ao Globo Esporte em dezembro de 2024.
Ao longo do ano acontecem várias provas, a maioria com entrada franca. A próxima será o Torneio de Verão Sanol Dog, nos dias 6, 15 e 16/2. A ideia de promover o esporte inclui abrir o espaço para aulas de equitação para todas as idades – incluindo uma turma infantil, para crianças a partir de oito anos – e, para isso, não é necessário ser sócio ou proprietário de um cavalo.
A escola de equitação conta com 15 animais, que são selecionados de acordo com a máxima “cavaleiro novo, cavalo experiente”, e disponibilizados aos montadores iniciantes, por não oferecerem riscos. Além desses, a SHB cuida de 290 cavalos que residem ali, sendo a maioria, de propriedade dos sócios. Eles são exercitados diariamente e mantidos em condições de excelência. São os donos do pedaço e tudo é pensado para o conforto deles, dos obstáculos nas pistas aos picadeiros cobertos.
Com 20 anos de clube, Carlos Alberto Ferreira, o Cabelinho, treina jovens.
Acreditando nos laços entre humanos e cavalo, a SHB oferece equoterapia, método terapêutico, que usa o contato com o animal para promover o desenvolvimento de habilidades psicossociais em crianças com alguma deficiência. Além de salutar, o método une equitação e educação, tornando o esporte mais acessível e inclusivo. E como bom vizinho, a Hípica ainda disponibiliza, uma vez por semana, um pônei, um tratador e um professor do Pônei Clube, para distrair as crianças internadas e promover interações com o animal, no Hospital da Lagoa.
Um bom exemplo de sócio que juntou à escola de equitação antes de ser sócio ou ter seu próprio cavalo é Antônio de Mello, atual presidente, que assumiu seu segundo mandato no começo do ano e vai até 2027 à frente do clube. Apaixonado por equitação, ele trouxe junto com a diretoria propostas que visam a democratização do espaço.
– O hipismo é um esporte com custo alto e, por conta disso, as pessoas pensam que o esporte não é para todos. Mas estamos querendo mudar um pouco essa imagem e atualmente seguimos o slogan “Sociedade Hípica Brasileira, um clube para todos”. Abrimos as portas para os que desejam iniciar no esporte ou apenas aproveitar o que a Hípica oferece. – explica o presidente.
Antônio se orgulha em dizer que, desde 2022, quando assumiu seu primeiro mandato, o número de sócios vem aumentando. Para ele, o clube é um “Oásis no meio da cidade”, e oferece para seus associados spa, quadras de tênis, futebol, colônia de férias e sauna. Tudo com exclusividade. Esse oásis está cada vez mais próximo do público e seu excelente restaurante está aberto a todos.
O Festival Varilux tranforma o antigo picadeiro e uma sala de cinema.
Mas nem tudo na Hípica está ligado ao universo equestre. A cultura tem peso no clube que, em 2023, recebeu o Festival Varilux, transformando uma de suas cocheiras em uma sala de cinema estilizada. Em 2016, ele foi a sede da comitiva francesa durante os Jogos Olímpicos. Ademais, ao longo do ano, acontecem shows de jazz e música clássica fechados para os sócios, e também eventos abertos para o público. Dia 1º de março, o clube recebe a edição carnavalesca do famoso Bailinho, festa criada e realizada pelo DJ Rodrigo Penna. Os eventos são bem-vindos, mas o cuidado com o som alto está no radar da diretoria, que em outros anos teve problemas com a vizinhança e com a Associação dos Moradores do Jardim Botânico (AMAJB).
– A boa convivência com a vizinhança é uma das nossas prioridades. Por isso, em qualquer festividade no espaço, alugamos equipamentos de isolamento acústico de alta qualidade, baseado em controle de decibeis. O cuidado não é apenas para os moradores, mas também para os cavalos, que são sensíveis ao barulho.
O muro grafitado da Hípica encanta moradores e turistas que circulam pelo JB.
A arte é para todos e a Hípica sabe disso. Tão bem, que a levou para sua área externa. Em 2019 o clube presenteou o bairro convidando 24 artistas brasileiros para criarem grafites em toda a extensão do muro, que vai rua Jardim Botânico até a Oliveira Rocha. Além de preservar a fachada e combater a pichação, a rua se tornou uma verdadeira galeria a céu aberto, com mil metros quadrados de arte, encantando moradores e turistas que circulam pela área. Esse projeto terá uma nova edição, provavelmente no segundo semestre de 2025.
João Soares é feliz no clube. Há 40 anos.
O espaço é um solo fértil para o cultivo de memórias afetivas, com uma atmosfera familiar. “A gente quer que o sócio veja esse lugar como uma segunda casa”, diz o presidente. Os funcionários têm uma relação afetiva com tudo que diz respeito ao lugar. Alguns estão ali há muito tempo. Como João Soares, que atua como guarda-vidas do clube há 40 anos. “Comecei com 19 anos e não saí mais. Venho trabalhar feliz todos os dias”, afirma.
Rua Jardim Botânico 421
Informações: 21.2156-0190
Reserva para o Bistrô (de terça à sexta): 2156-0155 (a partir de 11h30)
Bela reportagem sobre esse tradicional clube da zona sul do Rio de Janeiro