Texto: Zé Miranda | Fotos: Chris Martins
Basta uma rápida leitura da história do Flamengo para entender que o clube, fundado no bairro homônimo, está por toda parte. Mas é na sede Gávea, que está a grande novidade que, desde 2023, traz torcedores de todos os cantos do Brasil e do mundo. O Museu do Flamengo ocupa uma área de 1.200 m2, na sede social do clube, na Gávea, e usando de recursos tecnológicos e interativos, transporta o público para momentos históricos do clube e da cidade. Um mapa na entrada mostra, eletronicamente, uma rede de flamenguistas conectados pelo mundo mais a frente, um pagode japonês guarda, como um templo, todos os registros da conquista do Mundial de Clubes, em 1981. Em um espaço que reproduz um estúdio da TV Fla, Zico e Júnior, em reprodução holográfica, fazem a resenha. Telões espalhados pelo espaço reproduzem jogos icônicos e entrevistas de outros grandes ídolos do clube em várias modalidades esportivas, além de acervos históricos.
E ninguém melhor do que um torcedor rubro-negro de carteirinha para falar de um espaço tão especial. Para esse esforço de reportagem, o estagiário Zé Miranda foi convocado e desempenhou a tarefa com louvor e sorriso no rosto, certamente cantarolando mentalmente “quero cantar ao mundo inteiro, a alegria de ser rubro-negro”. O relato é tendencioso sim, mas certamente quem visitar o museu vai dar razão.
Zico e Junior em uma holografia simulam um encontro na TV Fla
Vesti a camisa e saí por aí, atrás da história do meu Mengão
Texto: Zé Miranda
Quando a Chris me falou que eu visitaria o Museu do Flamengo, meu time de coração para escrever uma matéria, agradeci novamente por trabalhar no JB em Folhas. Vesti o manto sagrado, montei em minha bicicleta e pedalei até a sede do clube, na Lagoa. Ao chegar, recebi uma chamada: Como jornalista, eu deveria me vestir de maneira neutra. Mas como fazer isso se estou prestes a ver a história do Mengão em primeira mão? História essa que, inevitavelmente, faz parte da minha própria, tal como a de aproximadamente 42 milhões de torcedores.
O Museu do Flamengo foi inaugurado em agosto de 2023 e, até agora, tem média de 8 mil visitantes por mês e, nos seus 18 meses de existência – já acumula um número próximo a 150 mil pessoas no total. É uma atração inédita no Brasil, ao nível dos melhores museus esportivos do mundo. Logo de cara, após subir a escada e me deparar com a estátua de Zico, passamos por um corredor cujas paredes nos abraçavam com vídeos de momentos marcantes do clube e seus seguidores, guiando-nos a uma sala com 163 troféus espalhados pelos três metros de pé direito – uma pequena porção da coleção gigantesca do clube. Lá, fomos apresentados a Guilherme Augusto Andrade, historiador, flamenguista roxo e educador, que nos guiaria pelas 14 instalações do espaço que, juntas, contam parte da trajetória da nação rubro-negra. Segundo ele, mais do que um conjunto de itens e alusões ao time, é parte da cidade do Rio de Janeiro.
Zé e Guilherme: histórias daTaça da Libertadores da América 2019
– Eu gosto de observar o museu não como um espaço exclusivo e direcionado somente para o torcedor do Flamengo. Eu entendo que aqui é um aparelho cultural da capital carioca. Tratamos de assuntos que estão permeados no legado dessa cidade. Aqui nós podemos observar muitos recortes históricos do Brasil que, inevitavelmente, influenciam no que o clube é hoje. Temos um viés educativo muito forte. – explica o historiador.
Ao contrário do que muitos podem pensar, as salas mostram o aspecto poliesportivo do time da Gávea, exibindo troféus de ginástica, tênis de mesa, judô, remo e até mesmo cabo-de-guerra. Alguns rivais podem enxergar isso como algo risível, e eu até entendo, mas são justamente essas atitudes de valorização do esporte em geral que nos levaram a conhecer craques e campeões olímpicos, como Rebeca Andrade, Rafaela Silva, Diego Hypólito e tantos outros formados pelo clube, que representaram o país em Olimpíadas. E não tem como falar dos campeões sem falar da torcida, que em 1927, numa disputa promovida pela água mineral Salutaris para eleger a maior torcida, recebeu o prêmio “O clube mais querido do Brasil”, simbolizado por uma taça de um metro e meio banhada em prata, exibida na terceira sala do tour.
Apesar de tratar do passado, o museu tem claras intenções de construir um futuro melhor e a sala “O Futuro da Nação”, trata dos projetos sociais promovidos pelo time em prol da educação. A instituição organiza mensalmente um sorteio entre as escolas públicas da região metropolitana do Rio de Janeiro, oferecendo aos alunos uma visita educativa pelas instalações da sede da Gávea, com direito a lanche e transporte por conta da casa. Além disso, com a iniciativa “vem ler, vem ler, vem ler”, o clube dissemina a cultura e a construção de hábitos edificantes, realizando atividades em bibliotecas comunitárias e aparelhos culturais de áreas periféricas – em parceria com ONGs e associações de moradores. Uma parede com trechos de redações feitas pelos jovens visitantes, mostra a paixão pelo clube através da escrita.
A seleção de futebol feminino Sub-20 visita pela primeira vez no museu.
Nesse passeio entre tantas insígnias lendárias da tradição rubro-negra, não é raro ver os heróis em carne e osso e as resenhas se desdobrando na nossa frente. Justamente no dia da nossa visita, encontramos com elenco Sub-20 Feminino, consagradas campeãs Brasileiras na categoria, após uma goleada de 7×0 em cima do Botafogo, em novembro de 2024. As atletas tiveram a oportunidade de ver a história gigantesca da qual fazem parte, e se sentirem ainda mais orgulhosas de vestir a camisa rubro-negra com excelência.
Se o caro leitor me permitir, vou falar um pouco mais sobre a minha pessoa para explicar o motivo da minha instalação favorita ser a Sala de Imersão “Isso aqui é Flamengo”, deixada para o final da excursão. Por mais que o nome “José” conste em minha certidão de nascimento, eu me chamo Zé. Duas letrinhas que compõem o apelido que talvez seja o mais comum da nossa língua – tão comum que é usado como vocativo em Minas Gerais e algumas outras regiões do Brasil. Tão comum como ser flamenguista. Um entre 42 milhões de torcedores. Não é um clube exclusivo para os seletos. É o clube dos comuns, que juntos formam o extraordinário. É justamente essa união de tantas pessoas, de tantos lugares diferentes, de tantos estados do Brasil, que fazem o Flamengo ser uma nação. Um elenco chamado de seleção, pelo simples fato de uma vitória do “urubu” espalhar alegria por todo o território nacional.
Sala de Imersão “Isso aqui é Flamengo!” (Foto: Divulgação)
Voltando à Sala da Imersão, o espaço com uma tela circular extensa e um som arrebatador, nos transporta para o meio da torcida, que por gerações enaltece e vive a emoção de torcer para o mais querido. Lá, senti algo próximo do que deve ser passar pelo túnel no Maraca e ter os ouvidos engolidos pelos cantos entoados no estádio lotado – que é algo comum quando se fala do Mengão. Se você for comum, como eu, acho difícil não sair da Sala de Imersão com os olhos marejados e o coração esmurrando o peito de tanta emoção.
Eu poderia gastar páginas e mais páginas tecendo panegíricos ao clube e explicando como a experiência foi incrível, mas não quero dar spoiler. Meu conselho é: visite o Museu. Flamenguista ou não, vale a pena. O espaço funciona todos os dias e tem visitas guiadas.
Pagode japonês guarda os registros do Mundial de Clubes, em 1981
MUSEU DO FLAMENGO – Sede Gávea
Rua Borges de Medeiros 997 – Lagoa
Visitação: diariamente das 10h às 18h
www.flamengo.com.br
Metrô: Estação Jardim de Alah
Entrada: adulto: R$80
Meia-entrada: R$40
Familiar (2 adultos e 2 crianças): R$190
Mirim (6<12 anos): R$20
Ingresso Carioca: R$60 (válido para moradores do estado/RJ)
Museu Flamengo + Tour da Gávea: R$ 110 (Adulto individual)
Sócios do Flamengo pagam tarifa especial de R$40.
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