10 de abril de 2025
ADOLESCÊNCIA, O QUE PODEMOS APRENDER COM A SÉRIE

Desde sua estreia, dia 13 de março, a minissérie “Adolescência”, da Netflix, vem causando um estardalhaço. A obra inglesa evidenciou problemas modernos que demandam soluções modernas, como o uso ilimitado de redes sociais, que permite acesso a conteúdos inapropriados e nocivos para crianças e adolescentes.  

Os filhos muitas vezes parecem seguros por estar em casa, ao alcance dos tutores, mas a verdade é que em plataformas como o Discord, Instagram, Whatsapp, entre outras, eles têm acesso a um mundo virtual em que  são expostos a todo o tipo de agressividade e ideais retrógrados. A falta de contato humano, olho no olho, faz com que esses aplicativos sejam um solo fértil para a violência. São facilitadores da disseminação de discursos de ódio, como misoginia, racismo, homofobia e aporofobia. Além disso, o conteúdo selecionado para aparecer na timeline dos jovens é pensado para intensificar suas inseguranças para impulsionar a vendas de produtos, cuja única procedência é o investimento em marketing. Em uma entrevista no programa “The 60 minutes interview”, da emissora norte-americana CBS, Frances Haugen, uma ex-executiva do facebook, abriu o jogo sobre a maneira que esses algoritmos operam e o quão prejudiciais podem ser para a saúde mental dos usuários. Se uma menina deletar uma selfie, por exemplo, o sistema é capaz de atribuir o ato à baixa autoestima, e aproveita essa vulnerabilidade para mostrar anúncios de cosméticos, procedimentos estéticos e reiterar os padrões de beleza inalcançáveis.

Com todas as cartas na mesa, o que resta são dúvidas. E a principal delas é: “Como podemos evitar que meu filho ou filha caia nessas armadilhas?”. A psicopedagoga Zanella Bethlem Grandi, especialista em orientação parental e moradora do Jardim Botânico, acredita que antes de pensar em proibições, os pais devem construir uma relação afetiva e aberta com os filhos, por meio do convívio genuíno, fazendo com que conversas sinceras sejam algo viável e habitual na relação. Em seus atendimentos, ela sugere abordagens e atividades que podem ser feitas em família para fortalecer essa dinâmica. Aplicativos de controle, como Qustodio, que permitem que os pais limitem o acesso às redes sociais e bloqueiem diversos sites e apps, podem ser usados, mas não antes de um diálogo aberto, enfatizando o respeito à autonomia. É importante prestar atenção ao comportamento das crianças e dos adolescentes, que muitas vezes não sabem verbalizar um problema. Se um menino detesta ir para a escola e encara isso com sofrimento, pode ser um sinal de que algo o aflige. 

“Mudar padrões comportamentais herdados é um dos maiores desafios. Por isso é fundamental que os pais tenham uma rede de suporte e compreendam a importância de se cuidar e rever seus comportamentos. Assim, eles são mais preparados para criar relações mais humanas com seus filhos e estabelecer o bem-estar da família. 

Não adianta falar para um pai numa palestra ou reunião: “você pode ser um pai melhor. Você tem que fazer um bolo com o seu filho”.

Tem que falar porque é bom fazer um bolo com o filho e repassar os ingredientes que não podem faltar, como respeito, escuta e empatia… É uma metáfora um pouco simples, mas é por aí. Essas convivências criam uma relação que abre espaço para o diálogo. E nós nunca podemos nos fechar para os diálogos.”,  define a profissional.  

Para ela, é  importante que as crianças se sintam à vontade para falar sobre o assunto que estiver na cabeça dela, e os pais também podem assumir quando não souberem como abordar algum tema, buscando ajuda. “Evitar falar sobre as questões que afetam a criança só faz com que ela vá buscar a informação sozinha, e é aí que a internet entra.” – explica a criadora do programa de educação parental dentro do projeto “Nascer e crescer juntos”, da Fiocruz. 

Zanella e o jabuti Timo

Zanella defende que, diante da problemática, as pessoas devem se responsabilizar sem se culpar. No entanto, o problema das redes sociais é global; e a tomada de medidas em larga escala é necessária e essencial. Como ocorreu no Brasil, em 13 de janeiro de 2025, quando foi sancionada a lei 15.000/2025, que proíbe o uso de celulares nas escolas públicas e privadas do país. Outras iniciativas vêm ganhando projeção, como a da própria psicopedagoga, que está desenvolvendo, juntamente com sua irmã gêmea, a psicóloga Sissel Bethlem Grandi, o aplicativo “Timo”. Timo é um lindo jabuti, um personagem lúdico que auxilia os pais no exercício da parentalidade. A interface, que leva o nome de uma glândula linfoide especializada no sistema imunológico, está prevista para ser lançada até o final do mês de abril e será gratuita. É uma abordagem moderna que vai auxiliar na resolução de problemas atuais e universais.  As irmãs escreveram um texto, publicado no site Projeto Colabora,, sobre a percepção delas sobre a série “Adolescência”. Atenção, contém spoiler!

Além do app, existem ONGs focadas em auxiliar na educação e saúde mental de um público infanto-juvenil, tornando os tratamentos psicológicos e pedagógicos mais acessíveis. A Organização Cultural Alternativa (OCA) é uma dessas organizações. Desde 1998, eles realizam um projeto voltado para fornecer esse apoio ao público infanto-juvenil com deficiência. Possuem uma equipe multidisciplinar, composta por pedagogos, fisioterapeutas e fonoaudiólogos. Graças à tecnologia de videochamadas, são capazes de atender o Brasil inteiro com consultas à distância. O projeto, no entanto, não se limita aos estudantes, uma vez que oferece sessões de terapia para mães solo. A OCA, que opera sem fins lucrativos e em total transparência, tem lidado com desafios financeiros nos últimos anos, e dependem do auxílio público para ajudar cada vez mais pessoas necessitadas. 

André (à direita) com a equipe da OCA.

“Precisamos de doações, mas elas não são a única forma. A gente também busca profissionais da área da psicologia, terapia ocupacional, fonoaudiologia e terapia.” – explica André Nogueira, advogado pós-graduado em Gestão de negócios e presidente da OCA desde 2015.

Outra ONG ativa nessa área é o Projeto Girassol, que oferece atendimento psicossocial gratuito em escolas públicas do Rio de Janeiro. Há 25 anos, a psicóloga Solange Cantanhede, junto com sua filha e um colega, montaram um projeto para  democratizar o atendimento psicológico. Eles conversam com o corpo docente das instituições e abrem uma sala dentro da própria escola para  atender os alunos. Além das sessões, são realizadas oficinas de arte, bijuteria, literatura, mosaico e o que mais algum voluntário puder e quiser ensinar. O projeto não se limita à terapia e, consequentemente, aceita voluntários que não possuem formação na área da saúde ou pedagogia. 

Solange (cabelo curto) coordena o grupo do Projeto Girassol 

“As crianças passam o período das oficinas achando que estão apenas aprendendo mosaico, mas, na verdade, estão se organizando, aprendendo a socializar… Elas falam mais quando estão concentradas em alguma outra coisa.” – explica Solange.

Quem quiser se inteirar mais sobre o assunto, pode ouvir a entrevista de  Vanessa Cavalieri – titular da Vara da Infância e Juventude do Rio de Janeiro -, no podcast Fio da Meada, da Rádio Novelo. A conversa com Branca Vianna girou em torno de crimes digitais e o uso de redes sociais por crianças e adolescentes.

Paralelamente às medidas em larga escala, micro-revoluções podem ser feitas. Estar presente, ouvir, fazer algo junto das pessoas que ama são hábitos e atitudes que podem conectar indivíduos e criar relações verdadeiras que salvam da apatia agravada pelo mundo virtual. 

ONG OCA
Email: servicosocial@ongoca.org
Whatsapp: (21) 96818-1005
Inscrições: ong.oca

PROJETO GIRASSOL
Email: girassol@projetogirassol.org.br
Whatsapp: 21 99221-6984
Doações: paypal
Pix: 02.208.913/0001-59

Zanella Bethlem Grandi
Orientação parental: 21 98817-7155

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