Se para você Horto é sinônimo de natureza, você precisa conhecer Roberto Luiz Fonseca da Silva, a personificação do Horto Natureza. Nascido e criado na região, Beto, como é conhecido, oficializou o projeto em 2020, mas, desde 2001, atua na limpeza do Rio dos Macacos e de seu entorno.
Beto ganha a vida como caseiro. Em suas horas vagas, é o meio ambiente que ganha mais vida com seu trabalho e dedicação. O amor pela natureza é de família e foi cultivado desde cedo nas conversas e exemplos de seus pais e avós. O avô de Beto era alfaiate e morava na Lopes Quintas antes de se mudar para o Horto, para perto de seu irmão, o lendário Orlando Pereira da Silva, o Folha Seca, que faleceu aos 100 anos, em 2017, após ter trabalhado por cerca de 70 anos no Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Dos 45 anos de idade de Beto, 20 deles foram dedicados ao trabalho de guardião do Rio dos Macacos. Ele já retirou muito lixo do leito e das águas do rio, mas também muito luxo, como uma banheira de 1827, jarros de prata mexicano, placas de ferro e estacas utilizadas por escravos para manejo de pedras. Essas peças estão guardadas em sua própria casa, enquanto o Museu do Horto não consegue uma sede própria: “O Emerson (de Souza, presidente do museu e da AMAHOR) está tentando organizar um lugar na sede da associação para uma exposição”, afirma.
Admirador do biólogo Mário Moscatelli, com quem teve a oportunidade de cooperar, Beto fez um curso do projeto Rio Águas, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente em 2001. A orientação que recebeu foi importante e estimulou-o a criar e manter o Horto Natureza. Uma de suas mais importantes cruzadas foi a de provar que a poluição da Lagoa Rodrigo de Freitas não é provocada por lixo proveniente do Rio dos Macacos.
– Detectei 29 pontos de saída de esgoto em toda a orla da Lagoa. O pior deles fica na altura da sede náutica do Vasco, onde o esgoto dos prédios é despejado diretamente na água – avisa ele, que destaca também o Jockey Club como poluidor.
Depois de a região passar alguns anos esquecida do poder público, neste mês de abril Roberto participou de uma reunião com integrantes da atual prefeitura, que prometeram ajuda de custo para compra de material e gratificação de voluntários. Por enquanto, são poucos seus apoiadores, como o grupo Mico Preto Capoeira, que pagou os coletes de identificação do Horto Natureza e pela cartilha de educação ambiental impressa e distribuída nos acessos às cachoeiras.
– Não gosto de ficar pedindo. Faço o que acho que deve ser feito, mesmo que tenha que comprar sacos e ferramentas com meu próprio dinheiro. No início do ano, o Clube 17 doou latas de tinta e conseguimos pintar os muros das casas – afirma ele, que busca sensibilizar moradores e comerciantes da região.
As negativas ou falta de retorno de lojistas, entretanto, não esmorecem sua dedicação. Atualmente, Beto reúne jovens para lições informais de educação ambiental às margens do rio. A conversa fala da importância de jogar lixo no lugar certo, incentiva o plantio de árvores frutíferas para alimentar os animais que vivem na floresta, como forma de evitar a invasão das casas por macacos-prego, gambás e porcos-espinho, que correm risco de morrer ao utilizar postes e fios em suas travessias. Beto protege até as cobras e se oferece para ir à casa das pessoas tirar os répteis desgarrados. Segundo ele, isso acontece principalmente no verão, nas manhãs de vento quente:
– Em geral, as cobras saem de suas tocas e vão para a beira do rio. Só este ano, resgatei nove jiboias e uma jararacuçu, fora um gambá e quatro porcos-espinho. Não gosto de matar nada, nem barata! – explica ele, que aprendeu como laçar cobra com os bombeiros e tem o cuidado para soltá-las na mata mais acima, depois da Vista Chinesa, onde a circulação de pessoas é menor.
Na hora do lazer, Beto prestigia toda a região: desce a Estrada Dona Castorina de carrinho de rolimã, frequenta as festas juninas da praça Pio XI e, por 16 anos, participou ativamente do bloco Vagalume, O Verde, do qual acabou se afastando devido ao aumento de trabalho no Horto Natureza. No carnaval deste ano, com a pandemia, sua atuação foi com o Bloco da Limpeza, que reuniu 25 voluntários de fora do Horto para recolher lixo no rio.
Orgulhoso de seu trabalho, Beto não descansa nem nos dias de chuva. Como mora às margens do Rio dos Macacos, ele monitora a chuva e o volume das águas. Quando o rio transborda, Beto avisa à TV Horto, que passa o alerta para toda a comunidade.
– Onde quer que o Folha Seca esteja, quero que ele tenha orgulho de ver que seu sobrinho-neto segue cuidando da natureza!
Horto Natureza: 98198-2693
*Por Betina Dowsley
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