Criado em 2014, o projeto de educação ambiental Mão na Jaca Permacultura e Gastronomia tem como proposta mapear jaqueiras e apresentar o vasto potencial da jaca na elaboração de pratos, ensinando a retirar os frutos do pé e como aproveitá-los integralmente, inclusive seus muitos caroços. E abundância é palavra-chave em se tratando de jaca. Para Marisa Furtado, uma das fundadoras do projeto, “a fruta é a própria expressão de coletividade, já que é difícil colher, carregar e comê-la sozinho”, como costuma pontuar.
O Mão na Jaca desenvolve um trabalho importante de retirada de jacas de estradas e áreas que representem perigo. Infelizmente tem quem não entenda o bom trabalho desenvolvido e acuse o projeto de tirar comida dos macacos e estar impedindo o direto de ir e vir dos moradores, quando as vias são interditadas para a retirada da fruta. É bom explicar que uma jaca pode pesar, entre 2kg e 11kg. É só imaginar o estrago que a queda de uma unidade pode provocar em uma pessoa, uma criança, uma bicicleta e um carro. Por isso há necessidade de fazer este trabalho preventivo, para evitar maiores acidentes.
Em janeiro de 2023, o Mão na Jaca fez um trabalho no Horto, distribuindo uma tonelada de jaca para moradores da região e doou 2t para o projeto Mesa Brasil, do Sesc. E do total de 600 moradores, apenas três ficaram reclamando. Para Marisa, é importante cada vez mais conscientizar os moradores, inclusive estes três que reclamaram. “Na próxima ação, vamos fazer um trabalho maior com placas e avisos, para que todos entendam que o transito vai ficar lento por causa da coleta.
Moeradores e o Sesc recolhem as doações de Jaca na Estrada Dona Castorina
As jaqueiras não são naturais do Rio de Janeiro, mas há séculos fazem parte do cenário da cidade. Quem mora nas saias do Corcovado ou já fez um passeio pelo Parque Lage ou pelas trilhas das cachoeiras do Horto no verão reconhece, de longe, o odor da fruta e, muito provavelmente, já enfiou o pé na jaca – literalmente.
Por muito tempo, a jaca foi vítima de preconceito e teve seus atributos nutricionais desprezados. A virada de mesa veio com a turma natureba, que popularizou as “coxinhas de jaca” preparadas pela chef do Favela Orgânica, Regina Tchelly, que acredita que a fruta pode ajudar a combater a fome no Brasil. Outra cozinha onde a jaca é valorizada é a de Tati Lund, do restaurante Org.Bistrô, frequentado por celebridades de todos os tipos.
A dica para quem não gosta do cheiro, da textura e do sabor da fruta madura é tirá-la ainda verde do pé. Gomos, palmito, fibras, biomassa e sementes, o Mão na Jaca ensina a usar tudo isso. Considerando que a casca vai para a compostagem, dá para dizer que o aproveitamento da jaca é total. Com um leve cozimento prévio, a jaca dá consistência aos mais diferentes tipos de receita: de curry a estrogonofe, passando por lombo de seu palmito e suas sementes torradas, que são um ótimo aperitivo.
Além do valor social, econômico, cultural e ambiental (vale lembrar que ela serve de alimento para animais silvestres), há de se considerar também o valor nutricional da jaca. A fruta é rica em vitaminas A e C, fibras, carboidratos e antioxidantes, ajudando a prevenir inflamações e o envelhecimento celular, além de auxiliar no controle da pressão arterial e ser ótima fonte de energia.
Os interessados nas diversas formas de consumo da fruta podem assistir às videoaulas do Mão na Jaca, gravadas por Marisa, que é documentarista, e Pedro Lobão, professor. A primeira videoaula ensina a limpar e a dar um primeiro cozimento na jaca. Na segunda, eles mostram o passo a passo para debulhar a fruta pré-cozida e, na terceira, a chef Carol Vaz prepara uma receita de “jacalhau” de dar água na boca. O conteúdo é semelhante ao que era apresentado nas oficinas presenciais e, até o final do ano, estará disponível gratuitamente no canal do Mão na Jaca no YouTube. Ao todo, serão disponibilizadas seis videoaulas e uma web-série com entrevistas e dicas de geógrafos, biólogos, candomblecistas, chefs, nutricionistas e agricultores urbanos sobre a fruta.
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