Silvia Buarque é atriz, mãe de Irene e moradora do Jardim Botânico. Seus laços familiares, porém, revelam muito mais sobre ela. Silvia é neta do historiador e fundador do Partido dos Trabalhadores Sérgio Buarque de Hollanda; sobrinha das cantoras Miúcha, Cristina Buarque e Ana de Hollanda (que foi Ministra da Cultura do governo de Dilma Rousseff); primogênita do cantor, compositor e escritor Chico Buarque e da atriz de teatro, cinema e TV Marieta Severo; além de afilhada do poeta e diplomata Vinícius de Moraes. Apesar de ter se acostumada à exposição pública desde cedo, somente na pandemia ela abriu seu perfil no Instagram para divulgar seu trabalho e, sobretudo, registrar seus valores e sua maneira de pensar. Para ela, diante dos acontecimentos políticos e sociais absurdos a que os brasileiros vêm sendo submetidos, é fundamental se posicionar, seja defendendo a cultura, as minorias, o SUS ou o Museu do Meio Ambiente:
– Ando muito preocupada com o bairro, que está ficando muito comercial. Achei um absurdo o Museu do Meio Ambiente, que foi ameaçado de virar hotel-boutique, ser usado por uma feira de moda com fins consumistas e patrocínio de shopping – diz a atriz, que aderiu à campanha do JB em Folhas “O Museu do Meio Ambiente é Nosso” e segue usando a rede social para demonstrar sua insatisfação com o atual “desgoverno” federal.
Seu mais recente trabalho em cartaz nos cinemas atualmente é “Homem Onça”, uma crítica ao processo de privatizações. O filme é baseado em uma história real vivida pelo pai do diretor Vinícius Reis e protagonizado por seu ex-marido Chico Diaz. Para quem ainda não se sente confortável em ir a uma sala de cinema, pode aguardar a chegada do filme ao streaming do Canal Brasil, daqui a menos de um mês, em 7 de outubro.
Outro projeto filmado antes da pandemia é “Os escravos de Jó”, do diretor Rosemberg Cariry, ainda sem data de estreia no cinema. Silvia vive uma professora de Neobarroco na Universidade de Ouro Preto, onde várias histórias se entrelaçam. “Em novembro, começam os trabalhos de “Mais pesado do que o céu”, de Petrus Cariry, filho do Rosemberg: “Adoro o trabalho deles, são minha família cearense”, avalia.
Silvia passou por diversas fases na pandemia, mas não teve nenhuma experiência de interpretação on-line. A retomada aconteceu ainda em setembro, com sua participação presencial na série Dramaturgia em Leituras, no teatro Prudential, ao lado de Guida Viana. “A menina escorrendo dos olhos da mãe” é um projeto da dramaturga Daniela Pereira de Carvalho, que convidou a atriz a acompanhar o processo, com encontros semanais on-line ao longo do período. A montagem da peça, porém, ainda aguarda por um momento mais seguro.
Silvia veio para o Jardim Botânico em 2002. Na época, ela procurava um apartamento para comprar no Alto Leblon, que não cabia em seu orçamento. Em entrevista ao JB em Folhas em 2007, ela lembrou que, antes de mudar para o JB, tinha receio do trânsito da via principal do “bairro de passagem”, mas acabou seduzida por suas pequenas ruas transversais. De 2012 a 2016, a atriz morou na Fonte da Saudade, mas não se adaptou e voltou: “Senti falta da vida a pé, de acompanhar a revitalização do Horto, com suas casas e vilas, e da proximidade de restaurantes como o Venga! e o Grado, que costumava frequentar”, conta ela, que continua achando horríveis os prédios espelhados, que não respeitam a arquitetura original do bairro.
Como a maior parte das pessoas nesse período de isolamento, Silvia alternou momentos de alto e baixo astral, às vezes acordando cedo ou trocando o dia pela noite. De rotina, só a psicanálise e as aulas de yoga on-line. O longo período em casa resultou em uma pequena obra em seu apartamento, de pintura basicamente, “em respeito aos vizinhos”, já que todos estavam presos em casa. Sua segunda dose da vacina contra a Covid-19 e a primeira de sua filha dão um pouco mais de segurança para pequenas programações fora de casa, como as aulas de pilates no estúdio Gestos.
– A turma tem apenas três pessoas, contando comigo e a sala é espaçosa e bem arejada – avisa ela, que sempre levou a filha única para brincar na pracinha Pio XI e sente falta de uma vida cultural mais animada na região, com a retomada do Teatro Tom Jobim ou um cinema, quem sabe.
Entre os privilégios de morar aqui, Silvia destaca a facilidade de caminhar na orla da Lagoa ou no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, do qual é sócia. A atriz é cliente do Mercado Afonso Celso e do cabeleireiro Bruno Donati, que “sempre tenta falar comigo em italiano, apesar de eu sempre dizer que só nasci em Roma e não parlo niente do idioma”.
Para Silvia, o Parque Lage não é um “divisor de águas” do bairro. Ela não vê a hora de voltar a encontrar os amigos no Bar Joia e frequentar lugares como o restaurante indiano Taj Mahal, na J.J. Seabra; o Buddario, na Visconde da Graça, e o Sabores de Gabriela, na Maria Angélica, com direito a um passeio de reconhecimento da Janela Livraria. Antes da pandemia, ela andava muito por ali e considera que o fotógrafo e designer Cafi era cara do JB:
– Cruzava muito com o Cafi nos arredores da Maria Angélica e do Bar Rebouças. Atualmente, acho que o Leo Aversa está assumindo esse posto. Ele faz belas homenagens ao Jardim Botânico e divulga o bairro de um jeito gostoso. É muito bom encontrar com ele. Curiosamente, ele também é fotógrafo – observa.
*Por Betina Dowsley
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