Apesar de ter apenas cerca de 200 metros de extensão, a rua Capistrano de Abreu é cheia de histórias e curiosidades. É o endereço da Escola Brasileira de Psicanálise e do Instituto de Clínica Psicanalítica do Rio de Janeiro, além de ter abrigado, até o primeiro semestre deste ano, o Ensino Fundamental da Escola Sá Pereira, que promoveu, na rua, seu bloco de carnaval de 2003 a 2020. Foi lá também que começou a feirinha da Junta Local, em 2017, mesmo ano do início das atividades da Pizzaria Domenica.
Em termos históricos, é justamente o número 45 o mais importante da rua. Por 30 anos, o casarão na esquina da rua Marques foi a residência de Capistrano de Abreu, que faleceu no porão do imóvel. O historiador cearense trabalhou na Biblioteca Nacional, lecionou no colégio Pedro II e dedicou-se aos estudos sobre o período colonial e o povoamento do interior do país, com obra marcada pela interseção entre história e geografia. Capistrano é patrono da cadeira 15 de Academia Cearense de Letras e da cadeira 23 da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Foi convidado a ser um dos “imortais” da Academia Brasileira de Letras (ABL), na época de sua fundação, mas recusou. Ele foi bisavô da jornalista Anna Maria Ramalho, que escreveu uma crônica com histórias de sua família em 2017. Uma de suas célebres frases ainda hoje faz sentido:
“Eu proporia que se substituíssem todos os capítulos da Constituição por: Artigo Único – Todo brasileiro fica obrigado a ter vergonha na cara.”
O imóvel foi tombado pelo governo estadual em 2001 por seu valor histórico. Uma vistoria técnica dez anos depois registrou uma edificação com janelas de esquadrias em madeira pintadas na cor azul e cobertura de telhas de cerâmica, tipo “francesas”. O estado de degradação do imóvel, porém, denunciava um longo período sem obras de manutenção, da fachada – que apresentava musgos e vegetação – ao telhado. As obras de renovação tiveram por objetivo a manutenção do pé direito alto frontal e a recuperação dos gradis, esquadrias, cantarias de pedra e outros detalhes ornamentais da fachada, que conta com inscrição da data de construção do imóvel: 1897.
Cento e vinte anos depois, o casarão foi ocupado pela Pizzaria Domenica, que fez questão de preservar a história do lugar. O projeto arquitetônico do restaurante manteve as paredes de tijolos aparentes e construiu um mezanino, que ocupa apenas a metade do salão, deixando à amostra o pé direito e a estrutura de madeira do telhado. As pizzas artesanais preparadas em forno à lenha logo conquistaram a clientela, que, em tempos pré-pandemia, chegava a formar fila na porta.
*Por Betina Dowsley
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