25 de outubro de 2024
A DIFÍCIL TAREFA DE SE LOCOMOVER NO RIO

Ser carioca é para os fortes. E os últimos acontecimentos da semana provaram isso. Não é toda cidade que tem quebra-quebra provocado por hooligans uruguaios em um dia, e tiroteio na Avenida Brasil no outro. Mas nada se iguala à batalha diária que é se locomover pela cidade.  Seja usando o seu próprio veículo – e tendo que lidar com o asfalto ruim do dia a dia – lidando com a péssima rede de transporte público – e todos os riscos de assalto, bala perdida e falta de ônibus – ou depender de aplicativos como Uber e 99, que circulam pela cidade com carros em situações precárias. E, para piorar, o único serviço de excelência que era o metrô integração saiu de linha. Aí eu pergunto ao leitor: como a gente faz para andar nesta cidade que atualmente está mais para o caos do que para a beleza? 

A Câmara Municipal do Rio de Janeiro aprovou, em agosto, um projeto de lei que derrubou o limite de dez anos de vida útil para táxis do Rio. Atualmente, dos 33 mil táxis da capital, cerca de 14% têm esse tempo de duração. Caso o PL seja sancionado pelo Prefeito, taxistas não serão mais obrigados a fazer a permuta, como é chamada a troca de carros, passando apenas por uma vistoria anual presencial.

Penso que a Câmara deveria se preocupar em criar projetos de lei que punissem severamente as empresas de ônibus que trafegam com seus veículos sem condições, sujos, com estofados rasgados e sem ar condicionado. Também deveriam se preocupar em cobrar o mesmo dos táxis e carros de aplicativos e atender da melhor maneira o passageiro, que é o responsável por fazer a moeda girar no nosso mundinho capitalista. Mas, na prática, isso não acontece e fica a sensação de que eles estão fazendo um favor ao nos transportar. 

Já peguei veículos em situação deplorável (e não é exagero), com forro rasgado, amassado por fora e até com cheiro de gás no interior. A pior de todas as viagens aconteceu ano passado, voltando de um hospital na Barra com meus primos, de madrugada. Como já estava tarde, decidimos nos arriscar no carro amassado, e com a lanterna quebrada, mas a surpresa maior foi descobrir que o motorista estava DE CUECA!! Pode isso, Arnaldo? E quando isso acontece, você reclama para quem?  Porque a gente pode esperar 20 minutos e ter várias viagens canceladas, sem receber uma justificativa. Já quando é o contrário, é cobrada uma taxa de cancelamento para, como explica o site da 99, “evitar que os motoristas parceiros tenham prejuízos quando o usuário decide cancelar a corrida”. Fica a sensação de que a frase “o cliente tem sempre razão” caiu em desuso e nunca foi aplicada nos transportes coletivos. 

Acho que também é necessário criar leis efetivas que organizem o transporte de duas rodas na cidade, dando direitos aos donos de bikes e aos pedestres, que sofrem justamente com a falta de uma legislação efetiva. Toda semana leio em algum grupo de moradores que o Rio virou a cidade sem lei e é verdade. A gente não sabe o que fazer, o que exigir e fica todo mundo reclamando da mesma coisa sem ser ouvido. 

Ouvir. Verbo importante. Nunca se chiou tanto sobre uma decisão quanto esta de tirar de circulação a linha de integração do metrô, um transporte que funcionava, “nos trinques”, com ar condicionado e era o sonho de consumo de todo passageiro.  Foi retirado sem uma explicação maior, sem ouvir quem usava, sem direito a diálogo. Fico pensando aqui, será que é porque dava certo?  No lugar dele, entraram ônibus velhos, linhas antigas, que param em qualquer lugar, sem nenhum respeito. Novamente, terra sem lei. 

E a gente segue a nossa rotina diária, sem ter para onde correr, ou melhor, sem ter como se locomover.  Fica a sugestão para os novos governantes e vereadores que assumem em primeiro de janeiro tirarem o foco do seu umbigo, e dos interesses pessoais, para pensar mais na população. Afinal, deve ser muito bom viver em uma cidade em que o transporte (público e privado) funcione corretamente e valorize seu passageiro.  Fica a dica. 

 

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