12 de julho de 2024
A DONA DO PEDAÇO É VIZINHA!

Texto Chris Martins | Foto capa: Bruno Torrera

Desde o dia 5 de julho às redes sociais e o mundo audiovisual só tem um assunto:  “Pedaço de mim”, primeira novela da Netflix, que conquistou, em menos de uma semana, o quinto lugar do Top 10 da Netflix no mundo. O segredo do sucesso está na trama que envolve Liana (Juliana Paes), casada com Tomás (Vladimir Brichta), que descobre estar grávida de gêmeos de pais diferentes, fruto de um caso raro de superfecundação heteroparental. A dona da história é Angela Chaves, autora e roteirista da obra, reside há 30 anos na região entre Humaitá e rua Fonte da Saudade e pode ser vista diariamente caminhando pela Lagoa. Satisfeita com o resultado, ela credita o sucesso à mistura das linguagens que está transformando novela e série em um produto híbrido e também ao esforço coletivo. 

– Eu tenho o DNA da novela e trabalho com o que gosto, então estou sempre pronta para contar uma boa história que emocione e cause impacto. E acho que esse sucesso de “Pedaço de mim” é um reconhecimento a todo esse esforço, que contou também com o talento de outros roteiristas, como Guilherme Vasconcelos – meu parceiro em outros projetos – Laura Rissin, Marina Luísa Silva e Juliana Sabá (assistente de roteiro).  – afirma.

Angela é do tipo que lê jornal impresso e ouve disco de vinil. E tomou como hábito arquivar reportagens com histórias interessantes. Ela acha que foi em 2010 leu uma matéria sobre superfecundação heteroparental, que aconteceu nos Estados Unidos e decidiu guardar esse registro para uma boa oportunidafe.

–  Uma americana tinha um amante, transou com os dois na mesma semana e ficou grávida de gêmeos, sendo um negro e outro branco. Quando a Netflix me procurou pedindo uma história, eu lembrei desse caso e desenvolvi o roteiro. – relembra a autora.

Angela acompanhada de Juliana Paes e Vladimir Brichta na apresentação da novela  (foto: Divulgação/ Netflix)

Formada em Letras pela UFRJ, com mestrado em Literatura Brasileira, Angela Chaves lançou alguns livros infantis, mas seu forte já era a TV e sua entrada na Globo aconteceu através de um curso de roteiro que a emissora ofereceu, nos anos 1990.  “Até então a gente só tinha como referência o livro “Roteiro – Arte e Técnica de Escrever para Cinema e Televisão”, de Doc Comparato. Fora isso, só livros importados.”, conta a escritora. Ela acabou sendo aproveitada depois do término do curso e entre idas e vindas, permaneceu na Globo por 24 anos.  Durante este tempo fez de tudo um pouco: programa de auditório, seriados e games. A grande oportunidade aconteceu em 2003, quando foi convidada para integrar a equipe dos colaboradores do dramaturgo em  Celebridade.  

– O Gilberto foi muito generoso e eu entrei para trabalhar junto com nomes que já eram uma referência na dramaturgia, como Márcia Prates, Denise Bandeira, Sérgio Marques e Maria Helena Nascimento. Imagina a responsabilidade. – lembra Angela que depois trabalhou com Manoel Carlos em Páginas da Vida e outros nomes. 

Sua primeira novela solo, como autora foi em em 2019, quando assinou o remake de “Éramos Seis”.  Em 2021 ela foi desligada da Globo, mas logo em seguida veio o convite da Netflix para fazer “Pedaço de mim.”

“Pedaço de mim” abre um novo ciclo profissional para a escritora, Se na Globo, as novidades alimentam a imprensa, no streaming, tudo é guardado no maior sigilo e a roteirista vende a obra fechada, participando pontualmente de alguns momentos, só para pequenos acertos. Agora mesmo, enquanto recebe os louros pelo sucesso deste trabalho, Angela já está envolvida em novos projetos, que ela ainda não pode revelar.

Foto: Carla Britto 

Quando passou a ser dona do seu negócio, e do seu horário,  Angela estabeleceu uma rotina que inclui exercício ao ar livre pela manhã e trabalho até às 18h. Nestas novas descobertas, incorporou o treino diário de canoa havaiana na Lagoa, pelo Vasco e já tem até o seu lugar favorito da remada, perto do Clube Caiçaras.  “Sou apaixonada pela Lagoa, é um privilégio morar neste lugar e gosto de aproveitar ao máximo, seja caminhando, andando de bicicleta ou remando. A gente se desliga completamente ali no meio do espelho (da Lagoa).”., 

Como moradora, a roteirista faz a linha básica, gosta de tomar café da manhã na Padaria Lagoa, ir na cachoeira e fazer passeios pelos parques da região. Para encontrar os amigos a preferência é pelo Bar Jóia ou Cevicheria La Carioca, mas confessa que está em uma fase mais caseira. 

  • Eu já fui bem boêmia Agora, estou na vibe matinal, porque acordo cedo para remar e prefiro reunir os amigos em casa. É mais divertido. – confessa. 

 

Aproveitando o sucesso da novela, o JB em Folhas pediu a alguns moradores e amigos da autora, perguntas que ela responde abaixo.

Carla Cure | Qual foi a cena  mais difícil para escrever?

Angela Chaves |  Sempre tem uma cena mais difícil, faz parte do trabalho.  Mas a cena do abuso foi uma cena forte, trouxe muitos gatilhos.

Marta Maia | Como  conseguiu elaborar tantas personagens interessantes num enredo por si só já teria muito desenvolvimento. Algum foi mais especial?

AC | Eu quis contar a história de um deficiente visual que tivesse uma relação leve com a doença e pedi ao diretor Maurício Farias que seria bom se o ator tivesse esse problema.  E surgiu o Bento Veiga, que interpretou o personagem na fase adulta, tem a doença e ainda é músico.. Ele foi um achado.  Outro ponto foi a profissão da Liana, que é terapeuta ocupacional. Foi uma oportunidade de falar um pouco desse trabalho tão importante e pouco divulgado. Enquanto o médico cura e o fisioterapeuta reabilita, o terapeuta ocupacional oferece ferramentas para que o portador de qualquer deficiência possa se adaptar às situações. E ela fala isso em um momento para sobrinho. “Você não vai se curar, mas eu vou te dar ferramentas para você ser autônomo.

Lísia Palombini | O termo pedaço de mim, que remete à música, geralmente é associado à relação de uma mãe com um filho. Mas a série vai além, é um conjunto?

AC | Eu gosto de escrever relações de mãe e filhos. Isso mexe muito comigo. Mas a novela aborda o tempo todo a relação entre irmãos. Liana tinha uma ligação com irmão, que é diferente da Silvia com o Tomás, que também não é a mesma do Mateus e do Marcos. A relação entre irmãos é forte e bonita. E tem vários tons.

Bruno Torreira | Por que expor a corrupção ativa apoiada pelos advogados?

AC | Eu quis mostrar essa ironia, a facilidade que o profissional tem para  burlar a lei, sendo ele um representante dela. A gente quando escolhe a profissão dos personagens tem sempre um motivo. Mas sei que estou devendo um advogado bonzinho. Fica para a próxima.

Elisa Vieira | Os personagens  Silvia /Vicente foram realmente pensados em ser a antítese de relacionamento da Liana e Tomás? Tipo um alívio, uma esperança que é possivel ter um relacionamento saudável?

AC | Sim, tinha que ter um homem que inspirasse mais, já que o Dante só entra depois.

Pedro Sutter | O texto está espelhando no que você escreveu originalmente? A gente sabe que é praxe mudar muita coisa na hora de gravar.

AC | Eu entreguei o roteiro bem completo, mas tiveram pequenos ajustes, que são normais por conta da produção.

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