Egrégora. Esse substantivo feminino é o nome que se dá a força espiritual que nasce a partir de um coletivo que une suas capacidades físicas, mentais e espirituais. Essa palavra – que, convenhamos, não é usual – pode ser usada para descrever Luciana Igarashi, que desde 2019, após o falecimento de Jun, seu marido, assumiu a liderança do Estúdio Igarashi, localizado na Lopes Quintas, onde todos são bem-vindos para criar conexões profundas com o próprio corpo.
A educadora física niteroiense de 43 anos cultivou, desde cedo, o hábito de realizar atividades físicas. Aos 11 já era atleta de luta livre olímpica e em 2004, ano das olimpíadas de Atenas, decidiu se aposentar para seguir a carreira acadêmica e formar uma família. Mas não foi parar tão longe da área, que já sabia ser sua vocação. Formou-se em educação física na Estácio de Sá e, junto com seu então marido, abriu o primeiro estúdio em 2008, num espaço de 25 metros quadrados, no bairro do Jardim Botânico. A maneira inovadora e inclusiva de olhar a ginástica, da excelência do serviço, e do carisma arrebatador de Jun, criou um ambiente acolhedor e o boca-a-boca fez sucesso, trazendo alunos de todos os lugares, inclusive artistas renomados.
Lu passou também a ser requisitada pela TV Globo para realizar treinos específicos para artistas do seu cast. Mas ali no estúdio, todos são iguais e recebem o mesmo tratamento. No ambiente informal, é comum encontrar alunos treinando de pijamas, sem aquela vaidade superficial presente em outros lugares.
Lu com parte da equipe do Estúdio Igarashi
– Esse espaço acolhe a todos e a turma interage e desenvolve amizades e isso rende, muitas vezes, até outros trabalhos e projetos. – revela a professora.
Os benefícios das atividades físicas são incontáveis, e Lu acredita que quanto mais cedo o aluno começar esse processo, melhor. Com o legado corporal, se conquista saúde mental e física, além de naturalmente criar hábitos saudáveis, auxiliando numa boa rotina de sono, alimentação e reduzindo os níveis de estresse e ansiedade.
Como a maçã não cai longe do pé, os filhos Kazushiko e Hiroko, de 15 e 10 anos, respectivamente, já se iniciaram nesta jornada, sendo alunos do Estúdio comandado pela mãe, que trabalha num método de 4 etapas desenvolvido por Jun Igarashi. Os treinos são personalizados e acompanhados de perto pelos professores extremamente capacitados da academia, misturando os conceitos do pilates, das artes marciais e do levantamento de peso olímpico, buscando corrigir os movimentos, de modo que os alunos desenvolvam autonomia e não se lesionem ao realizar as atividades.
– A gente acaba virando produto do meio e nos habituamos com os padrões corporais do nosso entorno. Nossos corpos ficam viciados. O meu trabalho é devolver ao indivíduo sua função mais primária. Começamos adequando o seu corpo para essa etapa inicial, para depois alcançarmos esse objetivo. Se você tem um sonho muito grande de escalar o Monte Everest, eu vou te preparar para isso! – Afirma a preparadora.
Toda essa confiança não é marra. Lu já mostrou a que veio. O baque de perder um sócio e um marido há cinco anos, de um infarto fulminante, não a desmotivou, e a academia segue firme e cada vez mais forte. Ela já cuidava da parte financeira e administrativa do negócio há 20 anos e, como muito bem colocou: “Eu não tive problema em assumir. Problema são questões de saúde, ou financeiras. Isso é um desafio. Com desafio a gente toca o barco e segue em frente”.
A professora explicando um movimento para seus alunos
Jun foi um verdadeiro showman, com sua imagem imponente e brilhante dando cara ao Estúdio Igarashi. Mas, após seu falecimento, muitos alunos puderam perceber que, junto daquela estrela, havia um sol chamado Luciana. O toque feminino de sua gestão fez com que o espaço se tornasse ainda mais radiante e acolhedor. Com todas essas mudanças, a professora não deixa de pensar em tudo o que construiu e aprendeu com seu parceiro de vida.
– O Jun foi uma pessoa muito amada. Nós construímos um legado muito poderoso e isso se perpetua. Eu tive uma rede de apoio e acolhimento que foi muito poderosa. Isso foi uma verdadeira nutrição para mim. Por isso digo que vi beleza na morte, apesar do sofrimento. Me agarrei na esperança de que eu sou uma pessoa humana, forte e resiliente. Entendi que às vezes tem pessoas que precisam de menos tempo de vida aqui na Terra. E o Jun era assim. Foram 44 anos muito bem vividos e tive o privilégio de viver 21 anos com ele. Então temos que aprender a ser gratos ao que há de vir e ao que a gente já teve. Ele me ensinou tanto na vida quanto na morte”, reflete. Lu.
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