21 de janeiro de 2021
AS MUITAS FACETAS DE BATMAN ZAVAREZE

O nome de batismo é Marcelo Felipe, mas todo mundo – literalmente – o conhece como Batman Zavareze, entrevistado da coluna Ilustre Morador do JB em Folhas, na edição 56, em 2014. Por trás de suas múltiplas máscaras de artista gráfico e digital, cenógrafo, videoartista, diretor de arte de shows e espetáculos teatrais, Batman revela talento de sobra para encantar as mais diversas plateias. Sua mais recente produção é a 16ª temporada do Festival Multiplicidade, do qual é idealizador e curador.

O tema desta edição é “O que eu quero ainda não tem nome”, pinçado da obra “Perto do coração selvagem”, de Clarice Lispector. Segundo Batman, o título reflete os meses de pandemia e o consequente mergulho interior pelo qual todo mundo foi involuntariamente arrastado em 2020. No seu caso, o isolamento social obrigou-o a uma mudança de hábito radical. O alerta já havia sido dado por sua esposa, Mirian Peruch, no final de 2019: “Ela chamou a atenção para o fato de que, em 12 meses, eu havia passado nove deles fora de casa, viajando a trabalho”, lembra Batman.

– A luz vermelha se acendeu, mas o início de 2020 ainda foi de muito trabalho e viagens. Tinha cinco espaços diferentes espalhados aqui na região, um para cada tipo projeto – conta ele que, logo no início da pandemia, pegou COVID-19.

Depois disso, sua rotina mudou. A primeira providência foi concentrar suas atividades em um único endereço, na Gávea. A quarentena, porém, exigiu mais e o levou a olhar para dentro e procurar se adaptar ao dia a dia da família: “Estava tão distante do cotidiano deles que pensei ‘como eles vão me aturar?’. Precisei inventar uma nova dinâmica para me inserir na rotina da casa”, observa Batman, que tornou as refeições momentos inegociáveis, compartilhados com Mirian e os filhos Luca e Ugo, de 13 e 10 anos.

Outra mudança positiva do ano passado em sua vida pode ser percebida em seus hábitos de consumo. Sem o corre-corre diário, Batman procurou prestigiar pequenos produtores e estabelecimentos locais, evitando as grandes cadeias.

– A rotina mais calma me permitiu buscar um atendimento afetuoso. Passei a prestar a atenção e procurar entender o funcionamento da feirinha orgânica do Jardim Botânico, por exemplo, ou a produção de caseira de pães, tentando achar a melhor maneira de ajudar a manter a roda ativa – destaca ele, que fez a ponte entre os porteiros de sua rua e um fornecedor de quentinhas do Humaitá.

A edição 20_21 do Festival Multiplicidade é resultado desse novo ritmo, ainda que na reta final ele tenha se acelerado. A condição inicial para a realização de um evento em formato 100% mediado pela tela foi admitir o princípio “nós vamos errar”. Outra mudança de paradigma desta edição é que, pela primeira vez, Batman dividiu a curadoria do evento com outros cinco profissionais.

Tudo isso proporcionou a ele mais tempo para manter o convívio familiar e traçar rotas alternativas de casa até o novo escritório. Mesmo que os trajetos ficassem mais longos, garantiam-lhe mais tempo para pensar. Mais do que nunca, a versão 2021 de Batman não dispensa pequenas oportunidades de curtir a natureza da região, o casario do Horto ou de fazer uma pausa e sentar na grama em frente à galeria OM, no Jockey: “Brinquei com o Oskar (Metsavaht – propiretário da galeria) que ultimamente tenho estado mais lá do que ele”.

– Esse lugar que a gente vive é privilegiado. Estou com uma saudade tremenda de fazer minhas caminhadas alternativas e aglomerar no Parque Lage. O lugar é muito especial para mim, estudei, dei aula e, por três anos, realizei o Festival Multiplicidade lá – conclui, embalado pela esperança despertada pelo início da vacinação contra COVID-19 no Brasil e pela simbologia da data de abertura do evento este ano: 21/01/2021, às 20h.

*Por Betina Dowsley

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