Foto capa: Chris Martins
Em um ano, o ator e diretor Enrique Diaz participou de um programa de dança, fez novela, filme, outra novela, filme de novo, mais uma novela e voltou ao teatro com uma peça que dirigiu há 15 anos para atuar. Pode isso, Arnaldo? Pode! E nesse corre-corre cênico ele ainda arruma tempo para estar com as duas filhas – Elena e Antonia, fruto do casamento com Mariana Lima – arrumar a nova casa que passou por uma reforma e pedalar.
Com 57 anos e mais de quatro décadas dedicadas ao ofício, Enrique é uma figura singular no cenário artístico brasileiro. Seu talento e versatilidade permite que ele transite entre diferentes meios e linguagens, consolidando uma carreira que se estende pelo teatro, cinema e televisão. Em 2024, o artista protagonizou um de seus anos mais intensos, fazendo participações nas novelas “Renascer” (no começo) e “Rancho Fundo” (no final) . Entre as novelas ele encontrou tempo para atuar nos filmes “O Auto da Compadecida 2” – que acaba de estrear – e “Dona Lourdes”), sem falar na sua boa atuação no quadro “Dança dos Famosos”, do programa Domingo do Huck, no final de 2023. Atualmente, ele divide o tempo entre a novela “Volta por cima” – onde entrou no meio da trama, como o contraventor Gerson Barros – e a peça “In On It”, que dirigiu há 15 anos e que agora encena, dividindo o palco com o ator Emílio de Mello.
Kike dominou a TV em 2024, atuando em Renascer, Riacho Fundo e agora está em Volta por cima.(Fotos: Divulgação/ TV Globo)
– Esse volume de trabalho reflete o meu desejo constante de desafiar e ampliar meus horizontes artísticos. Quando vem uma proposta que foge da rotina, eu me questiono: por que não? Faz parte do meu trabalho novas experimentações. – reflete Kike, como é conhecido no meio artístico.
Para ele, a obra é um exercício de conexão profunda, tanto emocional quanto física. “Sou tragado toda vez que trabalho com ela: vendo os atores, os espaços, vivendo a peça. Me impressiona porque realmente não tem fim”, afirma o ator, que valoriza a proximidade com o público, especialmente no Teatro Poeirinha, onde estão em cartaz até 23 de fevereiro, de sexta a domingo.
Depois de 15 anos, Kike está de volta com “In on It”, contracenando com Emílio de Mello (foto Elisa Maciel)
A construção de vilões e heróis
Embora tenha apreço por desafios, como interpretar vilões, o ator confessa que prefere figuras menos estereotipadas. “Quando o personagem é muito estampado como vilão, gosto menos”, revela, destacando o contraste com o amado personagem Timbó, de “Mar do Sertão”, um papel que o aproximou do público com sua personalidade cativante e visual excêntrico. Ao contrário dos dois vilões, Coronel Firmino Correia – conhecido como Coronel Pica-pau – (“Renascer”) e Durval (“Amor de Mãe”). Para Enrique, a construção de personagens é resultado de uma parceria com outros profissionais, como figurinistas e diretores. Ele destaca a experiência de interpretar o Coronel Pica-Pau, na novela “Renascer”, em que o trabalho coletivo foi determinante para criar uma figura memorável.
Além das novelas, Enrique explorou sua relação com a popularidade ao participar do quadro “Dança dos Famosos” no Domingão do Huck. Embora já tivesse experiência em dança devido à sua formação teatral, a competição foi um desafio à parte.
– Sempre gostei de dançar, mas essa experiência me levou e explorar algo muito popular. Foi divertido, desafiador, mas também saudável, no sentido rítmico, esportivo e expressivo”, comenta.
A experiência no quadro “Dança dos Famosos”, no Domingão do Huck trouxe popularidade ao ator (Foto: divulgação/ TV Globo)
Raízes e conexões no Jardim Botânico
Enrique tem uma ligação afetiva com o bairro do Jardim Botânico, onde morou desde pequeno, primeiro com os pais e depois já casado, Para ele, o melhor do bairro é a proximidade com a natureza e o acesso a espaços como o Parque Lage, onde costuma caminhar e refletir. “Amo essa mata, acho um milagre estar numa cidade onde você pode ir a pé a lugares tão bonitos”, afirma. Ele lembra com carinho das brincadeiras na praça Sagrada Família e das andanças com amigos pelas ruas arborizadas. “Quando criança, éramos de rua, uma turma que se encontrava para explorar o bairro, brincar e criar histórias. A gente pedia dinheiro na rua como se fosse para comprar camisa para o nosso time de futebol, mas era mentira, a gente gastava tudo em pizza”, recorda, achando graça.
Embora o tempo livre seja escasso, Diaz valoriza atividades simples pela vizinhança, como sentar em um café, ler ou simplesmente contemplar a paisagem. Ele também gosta de pedalar pela região em sua bicicleta elétrica, que considera uma forma de lazer e mobilidade sustentável. Uma de suas rotas diárias é ir treinar no Estúdio Igarashi, na Divina Providência. “A sensação de liberdade ao pedalar, com o vento no rosto e música nos fones, é impagável”, diz o ator, que lamenta apenas o aumento do trânsito em algumas ruas do bairro desde sua infância.
Enrique acredita que o Jardim Botânico mantém seu charme, mas sugere que um cineclube no local seria uma adição bem-vinda. Para ele, o bairro continua a oferecer uma qualidade de vida ímpar, onde é possível conciliar a agitação do trabalho com a tranquilidade da natureza.
Sobra tempo para descansar?
Apesar de sua rotina exaustiva, Enrique Diaz reconhece, porém, que é importante encontrar pequenos momentos de pausa em meio ao trabalho. “Eu não reclamo de trabalho, eu só negocio comigo mesmo qual é o espaço que eu consigo garantir para o descanso, seja mental ou físico. Às vezes, simplesmente não quero festa, quero ficar parado em casa lendo, porque isso me ajuda a sobreviver aos esforços”, reflete.
A meta agora é arrumar a casa, que passou por uma reforma entre todas essas produções. “Preciso praticar o desapego, tenho muita coisa guardada”, confessa o artista, mostrando uma lona que cobre o chão do apartamento, que serviu para proteger o piso novo em uma festa das filhas. Outra preciosidade são duas caixas de som, herdadas da casa do José Wilker. “Elas estão quebradas, mas tem jeito. São uma raridade. Não dá pra jogar fora. E é do Wilker”, justifica, rindo.
A busca por equilíbrio também se reflete na maneira como Diaz lida com as pressões do mercado cultural. Ele lamenta a falta de financiamento para produções teatrais, mas encara os desafios como parte da realidade do setor. “Atuamos sem ter certeza de que vamos pagar e ganhar algo. Mas a peça é o nosso patrimônio e mantendo ela viva, estamos ressaltando a importância de manter o teatro acessível e relevante”, pontua Kike..
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