1 de abril de 2021
A NOVA VERSÃO DE DANIEL HERZ

Morador do Jardim Botânico há 15 anos, Daniel Herz acaba de lançar o filme/peça “A melhor versão”, que tem texto de Julia Spadaccini e atuações de Armando Babaioff, Michel Blois e Ana Paula Secco. Diretor de teatro – e agora de cinema, com a parceria de Luis Felipe Sá – Daniel avalia a pandemia como um terremoto e acredita que estamos vivendo um período de estarrecimento com o que aconteceu em nossas vidas. Para ele, a classe artística já vivia um terremoto particular e acabou ficando no epicentro da situação catastrófica, com a paralisação das atividades artísticas.

– Num primeiro momento, a sensação foi de abandono. A Lei Aldir Blanc surgiu como um respiro e possibilitou que o filme “A melhor versão” fosse realizado. A lei é uma forma concreta de demonstrar o reconhecimento de que a cultura é lugar de fortalecimento de uma sociedade, peça fundamental na elaboração da sua identidade e de sua própria existência – analisa Daniel.

O filme da peça foi gravado na Cidade das Artes (Teatro de Câmara e Sala Eletroacústica), onde a equipe, toda testada para COVID-19, se reuniu por nove dias, seguindo todos os protocolos de segurança. Toda a estrutura do espaço – do palco às coxias, passando pela plateia e áreas abertas – foi utilizada para contar a história. Satisfeito com a mistura da linguagem teatral ao fazer cinematográfico, o diretor ainda percebe melancolia no ar: “Ainda estamos em escombros, mas já dá para perceber que é possível fazer esculturas a partir deles”. E, assim, vai descobrindo novas maneiras de se expressar.

Daniel dirige o ator Armando Babaioff em cena de “A melhor versão”

O primeiro trabalho de Daniel neste período pandêmico, foi o espetáculo “Fronteiras Invisíveis”, com a Companhia Atores de Laura, que dirige há 30 anos. A proposta foi uma investigação usando uma plataforma virtual, explorando seu saber teatral e a experiência audiovisual de seu parceiro Luis Felipe Sá, marcando a primeira colaboração entre os diretores. A vídeo-peça expôs o ambiente doméstico de cada ator, numa banalização da vida. Para Daniel, o resultado foi positivo e gerou entusiasmo, além de demonstrar que ainda há muitos desafios a serem vencidos.

Há um ano, Daniel acreditava, por exemplo, que dar aula prática de teatro on-line não daria certo, mas acabou se surpreendendo com a experiência: “As aulas via Zoom não são melhores ou piores do que as presenciais. É diferente, dá para compartilhar a tela com os alunos e dividir a turma em salas, com grupos menores. Aprendi coisas novas que nem imaginava”, atesta.

Não foi só o trabalho que mudou. No dia a dia, o ritmo agora é diferente do que quando Daniel foi entrevistado para a coluna Ilustre Morador da edição 58 da versão impressa do JB em Folhas, em 2015. Naquela época, ele tinha compromissos profissionais em Copacabana, Ipanema e Botafogo e ia para todo lado de bicicleta, para garantir que não se atrasaria. Ele ainda usa a bicicleta para se deslocar pela cidade, mas os passeios estão quase restritos a visitas à sua mãe, no Leblon. O jeito é completar a malhação correndo pelas vias de seu condomínio ou em casa mesmo. As subidas até a Mesa do Imperador diminuíram muito, pois tomam, no mínimo, três horas para ir e voltar. Nos finais de semana, o programa mais comum acaba sendo caminhar pelas ruas do Horto.

E se o tempo mudou, o que dizer de determinados hábitos? As compras são quase todas on-line, do Zona Sul aos orgânicos da Junta Local. A comida japonesa do restaurante Origami, no Shopping da Gávea, chega em casa via delivery. A pé mesmo, só a Bicyclette, para o pão nosso de cada dia, e a Bicicletaria, para a regulagem de sua bike, ambos estabelecimentos da rua Von Martius.

Enquanto o filme “A melhor versão” segue disponível gratuitamente no YouTube até 30 de maio, Daniel trabalha em um novo projeto. O monólogo “O Corcunda de Notredame”, com o ator Maurício Grecco, que utilizará a garagem de sua casa para ensaios. A ideia, a princípio, é montar o espetáculo no palco do Oi Futuro, no segundo semestre deste ano. “Mas tudo vai depender de como a situação estará até lá e dos protocolos do momento”, avisa.

*Por Betina Dowsley

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