O Brasil tem uma trajetória de fome. E por ser um território grande, o país está sempre com algum estado em uma situação dramática, necessitando de mais ajuda. O ano começou com as atenções voltadas para os Yanomamis, um dos mais populosos povos indígenas, que está passando pela maior crise humanitária do Brasil neste século. Fome, desnutrição, malária e contaminação, por conta do garimpo, são algumas das mazelas sofridas por esta tribo nos últimos quatro anos, por conta do descaso do governo Bolsonaro. De 2019 para 2022, a área desmatada para garimpagem mais do que dobrou, passando de 1200 hectares para 2300 hectares.
Várias instituições estão se movimentando para ajudar os Yanomamis e aqui no Jardim Botânico, o Bloco da Pracinha saiu em defesa desta tribo com duas ações: a primeira foi retirar a marchinha ‘Índio quer apito” (de Haroldo Lobo) do repertório da apresentação, no próximo sábado, dia 11/2. “Ela já não era politicamente correta e nos tempos atuais, não dá pra pensar em cantar algo tão agressivo”, afirma Barbara Lau, cantora e educadora musical, responsável pela direção artística do grupo, que monta um repertório totalmente focado no público infantil. E, durante o evento, a cantora divulgará a campanha SOS YANOMAMI e o PIX, da Ação da Cidadania, para quem quiser fazer doação. O valor arrecadado será usado para comprar alimentos e outros itens de primeira necessidade para a tribo.
– Os indígenas têm uma dieta alimentar diferente, que inviabiliza a arrecadação de alimentos e além disso, por ser em Roraima, a logística para o envio de qualquer material é mais complicada, – explica Daniel de Souza, presidente do Conselho da Ação e Cidadania e herdeiro do legado de seu pai, o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho.
Betinho criou a ONG em 1993, quando o mapa do Ipea indicava que 32 milhões de brasileiros estavam abaixo da linha da pobreza no país. Na época, o sociólogo movimentou artistas e personalidades para estimular a população a se trabalhar junto para acabar com a fome no país. Com a “Carta de Ação da Cidadania”, ele deu, oficialmente, origem ao movimento de Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e Pela Vida, criando em abril do mesmo ano o Comitê Rio da Ação da Cidadania.
“Quem tem fome, tem pressa” é o lema da instituição, que conta com uma extensa rede de mobilização, formada por comitês locais da sociedade civil organizada, com a participação de todos os setores sociais. Prestes a completar 30 anos de atividades, a Ação da Cidadania, atua em várias áreas, com projetos destinados à Segurança Alimentar (Hortas comunitárias, Natal sem fome), Cidadania (apoio à líderes comunitários), Cultura (Circo do Porto, espetáculos musicais, cineclube e filmes), Empreendedorismo (programa mini empresa e Universidade da correria) e Formação (formação de lideranças e laboratório audiovisual), além de uma forte atuação em políticas públicas.
Uma de suas maiores e mais conhecidas mobilizações solidárias é o “Natal Sem Fome”, criado em 1994 e que já ajudou mais de 22 milhões de pessoas no país, com distribuição da cesta básica para todos os estados brasileiros. No Natal de 2022, quase duas mil toneladas de alimentos foram arrecadadas, alcançando mais de 700 mil pessoas. Em 2014, o Brasil conseguiu sair do mapa da fome elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU). Mas em 2017, ele retornou, infelizmente, por conta do desmonte do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) pelo então governo federal.
Agora, o foco são os Yanomamis. A distribuição para os indígenas em Roraima começou no dia 23 de janeiro, com a entrega de 17 toneladas de comida. Mas ainda há muito a ser feito e toda a ajuda é bem-vinda, seja através de doações ou com trabalho voluntário. Participe.
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