Morador do Jardim Botânico quando criança, o poeta Vinícius de Moraes escreveu em “Soneto de Fidelidade”, de 1939, a frase que ganhou a eternidade: “que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”.
Como se adequa a frase aos dias atuais? A equipe do JB em Folhas fez um giro pela região e descobriu almas gêmeas que se amam na alegria e na doença, mas também em casa e no trabalho.
Barba, cabelo e…amor
Conceição de Santana, baiana de 52 anos, vivia em São Paulo, onde trabalhava como babá. Há 25 anos, sua patroa decidiu se mudar para o Jardim Botânico e ela acompanhou as crianças de quem cuidava, sem nunca imaginar que estaria dando os primeiros passos para encontrar o amor de sua vida. Graças a uma amiga que fez as vezes de cupido, ela conheceu o paraibano Manoel de Arruda, que trabalhava como barbeiro no Jardim Botânico.
O namoro engatou e Manoel convenceu Conceição a fazer um curso de cabeleireiro. Em pouco tempo, os dois estavam trabalhando juntos e decidiram abrir seu próprio negócio, a Barbearia do Bairro. O casal, que mora em Botafogo, gosta de curtir o Jardim Botânico depois do trabalho e costuma frequentar o Bar Jóia Carioca e o Mercadinho 63, possíveis locais para celebrar o 12 de junho.
Um encontro às cegas que deu certo
O instinto casamenteiro do amigo em comum de um casal querido do JB foi decisivo. Mesmo sabendo que eles seriam o par perfeito, era difícil juntá-los, uma vez que não gostavam de encontros às cegas. Por isso, bolou uma estratégia: sem avisar o que pretendia, chamou-os para tomar um drinque, em Botafogo. Foi assim, de surpresa, que Carlos Lacerda, 46, e Thiago Lacerda, 40, se conheceram e começaram um romance, que segue firme há 16 anos.
A conexão foi inevitável. Com um ano de namoro eles começaram a morar juntos e, em 2019, se casaram. Carlos trabalhava como advogado e Thiago era executivo de uma multinacional. O casal não estava satisfeito com a vida agitada e estressante do mundo corporativo, que não lhes permitia tempo para encontros e viagens, e resolveram mudar de carreira. Como moradores do Humaitá, sentiam falta de um lugar aconchegante que servisse uma boa comida de almoço, a um preço acessível para a semana. Foi assim que surgiu o Comida de Casa, que oferece almoço com comida caseira.
Thiago e Carlos não veem dificuldades em trabalhar juntos: “A gente se complementa muito bem”, explicam, em uníssono. O casal, ao invés de comemorar a data no dia 12, vai fazer uma viagem para Foz do Iguaçu em breve, mas os dois ainda estão decidindo se, no dia mesmo, vão pernoitar em algum hotel, ou ficar em casa, com Luke, seu cão, da raça Shar-pei, de 6 anos.
Um presente de aniversário para a vida toda
Fabiana, 46, foi um presente de aniversário na vida de Felipe Nascimento, 38. Ele comemorava seus 23 anos em um bar quando começou a trocar olhares com a mulher que viria a ser sua companheira até os dias de hoje. O amor foi tão intenso que, com somente duas semanas de namoro, foram morar juntos. O resultado dessa paixão é Antônio, 11, que estuda bem próximo do trabalho dos pais.
Felipe nasceu em Irajá, mas começou a frequentar o Jardim Botânico em 2004, quando veio trabalhar na loja de seu pai, a JB Bazar e Construção. Foram precisos alguns anos conciliando o serviço de comerciante com a faculdade de administração, antes de assumir o comando do negócio familiar. As coisas melhoraram muito quando Fabiana, administradora de empresas, se juntou à loja em 2021 e deu a ela um olhar mais “detalhista e acolhedor”. No trabalho, assim como na vida a dois, eles se complementam: Felipe é o cérebro, enquanto Fabiana é o coração. Ela foi capaz de compor um ambiente humano e sensível, rompendo com a lógica clássica das casas de construção “onde o cliente vai ao balcão, fala o que quer e vai embora”, explica. Sua mesa, repleta de brinquedos, é o ponto turístico dos filhos que têm de acompanhar os pais na missão de comprar material para a casa.
O comerciante acredita que o amor é uma conquista diária e, por isso, o Dia dos Namorados é só mais uma oportunidade de estarem juntos, celebrando o amor. E eles fazem isso de um jeito original: “A gente vai inventar alguma coisa na cozinha e jogar Mortal Kombat”, contam animados.
Unidos pela arte…e pelo estômago
Foi a arte que uniu o casal que comanda a Casa da Táta. Há 30 anos, Álvaro Albuquerque, 61, carioca nascido em São Paulo, trabalhava como baterista em diversas regiões do Brasil, até decidir fincar os pés por um tempo. Foi tocar no Teatro Carlos Gomes, onde uma atriz despertou seu interesse. Era Marta Jubé, 65, a própria Táta, uma goiana formada em arquitetura, que se mudou para o Rio de Janeiro, a tempo de ver o primeiro Rock In Rio, em 1985, e ficou. O amor não espera, e em seis meses de relacionamento já moravam juntos na Gávea, onde Álvaro já vivia, e esperavam pelo nascimento de Téo, 29, o primogênito. Dois anos depois, veio Nina, 27. Com a família completa, surgiu a ideia de ter mais um filho: o restaurante familiar, que está prestes a comemorar 25 anos.
Táta é quem cuida da cozinha, criando as receitas e treinando funcionários, enquanto Álvaro, o workaholic do casal, assume o lado administrativo. Mesmo cuidando de um negócio, nunca abandonaram a arte por completo e estão sempre promovendo encontros musicais no restaurante. Atualmente, a Casa da Táta abre as portas para o projeto “Para Ouvir o Samba”, uma série de encontros onde um artista é homenageado. As inscrições são feitas por WhatsApp, e o próximo a ter sua obra enaltecida será ninguém menos que Monarco.
Apesar da dificuldade de separar a relação de sócio da relação afetiva, Álvaro e Táta conseguem achar um tempo para fazer trilhas pelo Parque da Cidade, frequentar sambas, shows, cinema e etc. No Dia dos Namorados, estarão trabalhando para oferecer aos casais o melhor da culinária do bairro. Uma das excelentes opções é o Café na Cama, que já teve ampla aprovação no Dia das Mães.
A amizade que virou romance
Lilika Ramos, 47, se mudou de Codó, no Maranhão, para o Rio de Janeiro em 1997 e logo começou a trabalhar como babá, no Leblon. Depois de 18 anos na cidade, ela conseguiu um emprego no Talho Café, onde conheceu Carlos André – mais conhecido como Lucas -, pernambucano que veio a se tornar seu melhor amigo. Nesses dez anos juntos trabalhando na Gávea, ela cuidava do caixa enquanto ele fazia os sanduíches. A amizade foi sendo temperada com intimidades e risadas nos intervalos, até a relação evoluir para o casamento em Pernambuco, em 2019.
Dificuldades de trabalhar e voltar para casa com a mesma pessoa todos os dias? Esse casal não sabe o que é isso. “A gente gosta mesmo é de ficar junto. Isso é tudo de bom”, explica o marido, com Nino, o gato branco de 15 anos, no colo. Lilika e Lucas, moradores da Rocinha, gostam da proximidade entre a casa e o trabalho, para o qual vão juntos de moto todos os dias, exceto às segundas-feiras, quando folgam.
Eles atribuem o relacionamento alegre ao fato de serem, antes de mais nada, melhores amigos. A dupla, de férias no momento, retorna ao batente dia 10/06, preparada para atender aos enamorados no dia 12. A comemoração a dois já tem data e programa: “Um jantar, uma cervejinha e ficar de boa em casa, que é o que a gente mais curte”, afirma Lilika.
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