Se as estantes e prateleiras da livraria Malasartes falassem, quantas histórias de vida não iriam contar? Fundada em 1979 pela jornalista e escritora Ana Maria Machado, pela animadora de festas infantis Maria Eugênia Silveira e pela psicóloga Renata Moraes, ela logo tornou-se referência na região como um lugar para conhecer e se encantar pela literatura infantil.
Localizada no Shopping da Gávea, a loja foi pioneira no mercado e impulsionou a abertura de outras livrarias infantis e de seções específicas para esse público em grandes redes. No início, a seleção do que seria vendido na Malasartes era feita pela própria Ana Maria, que zelava para que as publicações não contivessem conteúdo racista, violento ou outro tema inadequado. Em entrevista à Associação Estadual de Livreiros do Rio de Janeiro, a imortal revelou que o maior responsável pelo sucesso inicial da livraria foi Chico Buarque, que fez questão de fazer o relançamento de seu livro “Chapeuzinho Amarelo” na Malasartes, então frequentada por ele e suas filhas. Naquela época, não havia nada muito interessante no terceiro andar do shopping e, para divulgar a livraria, um cartaz foi elaborado com os seguintes dizeres: “Lá na Gávea tem um shopping, nesse shopping tem três andares, no terceiro tem uma loja, nessa loja tem uma livraria, nessa livraria tem todos os encantos do mundo: Malasartes”.
Outras estratégias adotadas para atrair a clientela foram a “Hora do Conto” e o “Sebinho”. A primeira acontecia duas vezes por semana, com contação de histórias para crianças; enquanto a segunda consistia em um caixote de plástico onde era possível comprar ou vender livros usados a preços irrisórios. Fez sucesso também uma máquina de escrever antiga, na qual as crianças podiam datilografar alguma coisa. Como as folhas eram penduradas em uma cortiça, o equipamento acabou sendo adotado também por adolescentes, que deixavam recados uns para os outros em tempos pré-celular.
Até hoje, os livros não são divididos por idades, mas por categorias: “para os rasgadores”, “começando a ler”, “romance e aventura”, “para ajudar na pesquisa” e “encantos para sempre”. A magia do lugar aumentou com a presença de Yacy Mattos de Moraes, mãe de Renata e Cláudia, hoje à frente da livraria. Lembrada como Dona Yacy, Vovó Yacy, Fada Yacy, entre outros apelidos carinhosos, por muito tempo ela foi a própria personificação da livraria. Ela sabia os nomes das crianças e as preferências de cada uma delas e recebia os pequenos avisando que ali eles podiam pegar nos livros e mexer no que quisessem: “Aqui não tem mãozinha para trás. Pode pegar os livros, eles estão esperando por vocês”, alertava a senhorinha.
Falecida há mais de três anos, a figura mítica ainda vive nas lembranças daqueles que se sentaram à mesinha vermelha ou foram acolhidos por seu olhar atencioso e sensível. O reconhecimento pode ser medido pelas mensagens de carinho postadas no perfil da Malasartes no Instagram em fevereiro deste ano, com depoimentos emocionados de inúmeras pessoas, incluindo o ator e roteirista Gregório Duvivier, a ilustradora Mariana Massarani e a autora Flávia Lins e Silva.
Com a pandemia, a frequência do Shopping da Gávea diminuiu e a livraria está tentando driblar os obstáculos explorando o universo digital. As armas da Malasartes sempre foram a conversa com o público e o contato das crianças com os livros, coisas difíceis de serem transportadas para o ambiente on-line. Buscando minimizar as perdas e se aproximar de seus clientes nesses tempos de isolamento, a loja criou um perfil no Instagram e passou a se comunicar e realizar vendas por What’sApp. O JB em Folhas – que em seus tempos de jornal impresso tinha lugar de exposição garantido na livraria – reconhece a importância da Malasartes como ponto de cultura e apoia a campanha da livraria. Se você tem uma boa lembrança ou história do lugar, não deixe de contá-la em vídeo, em foto ou em palavras, marcando o perfil do JB em Folhas no Instagram ou enviando um e-mail para o jornal: jbemfolhas03@gmail.com.
Telefone: 2239-5644
What’sApp: 99916-9846
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