Chris Martins
Quem ainda não viu Othon Bastos em “Não me entrego, não” tem que ver. Antes que acabe. Não se trata apenas um bom espetáculo, um entretenimento, mas uma lição de vida. Impossível não sair emocionado.
Com 91 anos de idade e comemorando mais de 70 de carreira, Othon Bastos decidiu que estava na hora de encarar o seu primeiro monólogo e convocou o amigo Flávio Marinho para escrever o texto e dirigir a peça, que está em cartaz no Teatro Vannucci até 29 de setembro. Ele começa lembrando a professora de português, Eliete, “muito bonita” como ele ressalta, que aconselhou o aluno a nunca tentar nada com artes porque ele não seria bem sucedido. Conselho que ele tenta seguir, focando na possível carreira de dentista, mas o destino sabe o que faz e sempre a arte no caminho de Othon até uma hora que ele não resistiu.
São quase duas horas de espetáculo que passam sem a gente dar conta. Afinal, quem está em cena é o maior ator brasileiro vivo, com uma carreira marcante tanto no cinema (“Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha). como no teatro (“Um grito parado no ar”, de Gianfrancesco Guarnieri) que, inclusive, são relembrados em cena, propondo uma reflexão sobre cada momento da sua trajetória. É o mural de uma vida dividido em blocos temáticos – trabalho, amor, teatro, cinema e política -, que envolvem citações e referências de alguns dos autores mais importantes do mundo.
Juliana Medela, a memória de Othon em cena (Fotos: Chris Martins)
Othon conta com a ajuda da sua memória, personificada pela excelente Juliana Medela, que assina a assistência de direção e faz uma boa dobradinha com o ator, promovendo algumas risadas e atualizações do Google (só vendo a peça para entender. Segundo eu soube, foi uma “sacada de mestre” de Flávio Marinho, para ajudar o ator a lembrar do texto em alguns momentos. Mais do que natural em se tratando de uma pessoa com 90 anos.
Impossível não se emocionar com a trajetória de Othon e com o espetáculo que, por incrível que pareça, não tem nenhum patrocínio e tem permanecido em cartaz graças ao famoso boca a boca de quem assiste. A peça é uma lição de vida e de resiliência, de como enfrentar os duros obstáculos que se apresentam em nossa existência – e como superá-los. Seja na arte, ou na própria vida. Ao final, a gente sai do teatro agradecendo Othon por não se entregar, ou melhor, por nos entregar uma das melhores peças em cartaz atualmente. Obrigada!
Vale dizer que o Teatro Vannucci – e acredito que outros espaços do Shopping da Gávea – uniram forças e estão fazendo dobradinhas: quem vai assistir “Não me entrego, não”, ganha desconto na peça “A Inquilina”, também em cartaz na casa, e vice-versa. Procure saber. Vale a pena.
FICHA TÉCNICA
Elenco: Othon Bastos
Texto e Direção: Flavio Marinho
Diretora Assistente e Participação Especial: Juliana Medela
Direção de Arte: Ronald Teixeira
Trilha Sonora: Liliane Secco
Iluminação: Paulo Cesar Medeiros
Visagismo: Fernando Ocazione
Alfaiataria: Macedo Leal
Coordenação de Produção: Bianca De Felippes
Assist. de Diretor de Arte: Pedro Stanford
Assistente de Produção: Gabriela Newlands
Desenho de Som e Operador: Vitor Granete
Operador de Luz: Marco Cardi
Contrarregra: Paulo Ramos
Realização: Marinho d’Oliveira Produções Artísticas
SERVIÇO
Não me entrego, não
Com Othon Bastos
Participação Juliana Medeiros
Sexta às 20h00, Sábado às 19h00, Domingo às 18h00
Teatro Vannucci – Rua Marques São Vicente , 52 – 3º andar Loja 371, Rio de Janeiro – Rio de Janeiro
Ingressos entre R$ 50,00 e R$ 120,00
Até 29 de Setembro
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