Devagar, devagarinho, Martinho da Vila reescreveu e atualizou a obra “Memórias póstumas de Teresa de Jesus” que agora, 21 anos depois, acaba de ser relançado, pela Editora Malê, como “Memórias de Teresa de Jesus”.  O livro relata histórias da família do cantor e compositor, a partir das lembranças de sua mãe, Teresa de Jesus, com um leve toque ficcional, afinal, “ninguém domina plenamente tramas de memória”, explica o autor que presenciou ou vivenciou muitos dos fatos narrados. 

Quando escreveu a primeira edição, Martinho se inspirou no clássico “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis. A decisão de atualizar a obra aconteceu naturalmente. “Resolvi reescrever o livro porque já se passaram duas décadas e, neste período, houve mudanças na história da família. Nasceram pessoas, morreram outras”. “Memórias de Teresa de Jesus” ganha um caráter coletivo, já que é possível contar o Brasil por meio das histórias das famílias negras. “Há muitos Martinhos pelo Brasil que não tiveram as portas abertas, nem as oportunidades que eu tive para escrever, contar histórias”, reflete o artista. 

Uma das histórias do livro é sobre o nascimento de Martinho, na fazendinha Cedro Grande, em Duas Barras (RJ), onde seus pais trabalhavam. Na ocasião, a família recebeu muitas visitas, entre as quais um vereador e o padre da cidade. Dona Joana, comadre de Teresa e que fez o parto de artista, logo percebeu que a criança era especial e anunciou que teria sorte e seria “alguém na vida”. Por isso que, no livro, Teresa de Jesus – que era católica – revela que Martinho é protegido por Oxalá. E o filho acha que é mesmo um sujeito de sorte. “Sou mesmo uma pessoa de muita sorte, nasci no interior, morei em favela e consegui subir na escala social, o que é muito difícil para os negros e pobres de uma maneira geral. Então, eu sou um predestinado”, conclui o autor.

A literatura entrou na vida do cantor por meio do pai, seu Josué, que lia muito e alfabetizou o filho. Ao longo dos seus 84 anos, o autor já lançou mais de 12 livros  e mais de 50 álbuns de música.

Inaugurada em 2015, a Editora Malê tem como objetivo aumentar a visibilidade de escritores negros, contribuindo para maior diversidade no mercado editorial brasileiro. Voltada para jovens escritores negros, a editora tem entre seus autores nomes consagrados na literatura afro-brasileira, como Conceição Evaristo, Cuti Silva, Geni Guimarães, Martinho da Vila, Muniz Sodré, além de novos talentos como Eliana Alves Cruz e Cristiane Sobral.

FICHA TÉCNICA
TÍTULO: MEMÓRIAS DE TERESA DE JESUS
AUTOR: MARTINHO DA VILA
EDITORA: MALÊ
188 PÁGINAS
VALOR: 54,90
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