27 de fevereiro de 2025
CARNAVAL COM SUSTENTABILIDADE

Além da música e da energia contagiante dos blocos de rua, o carnaval também pode ser sustentável. Há 20 anos, o bloco Vagalume O Verde prova que é possível unir folia e consciência ambiental. Em 2025, o projeto Plantando Carnaval, liderado pela ONG homônima, no Horto, ganha força com o apoio da Zello Ambiente – cleantech carioca especializada em projetos de créditos de carbono –, consolidando-se como um dos maiores esforços de sustentabilidade do carnaval do Rio.

A ideia de unir carnaval e sustentabilidade nasceu em 2005 com o Vagalume O Verde, fundado pelo nascido e criado no Horto, Hugo José Camarate. Ele criou o bloco a partir de suas lembranças dos antigos carnavais, com o intuito de celebrar a comunidade, seus personagens e valores. Mas o VOV foi muito além e destacou-se por sua proposta sustentável, baseada no reaproveitamento de materiais para confecção de seus estandartes e fantasias. “A questão ambiental sempre esteve presente, da organização ao desfile, quando nossos integrantes passam no final com sacolas recolhendo o lixo deixado pelos foliões”, explicou Hugo, em entrevista concedida ao JB em Folhas em janeiro de 2020.

Bloco Vagalume O Verde desfilando na rua com adereços recicláveis

Desde seu primeiro desfile, o bloco se preocupou com os impactos ambientais causados pelo evento e começou a plantar mudas nativas da Mata Atlântica como forma de compensação de CO2. Com o passar dos anos, a iniciativa cresceu, agregando voluntários, empresas e órgãos ambientais, consolidando-se como um modelo de engajamento sustentável.

– Desde o primeiro desfile, a gente entendeu que o bloco tinha um impacto dentro da cidade e que poderíamos, através do plantio de mudas nativas da Mata Atlântica, compensar esse impacto. Isso lá em 2005, relembra Hugo.

No pós-pandemia, a iniciativa evoluiu para um programa permanente e cíclico, batizado de “Plantando Carnaval”. O objetivo é não apenas compensar os impactos dos blocos de rua, mas também promover a restauração de áreas degradadas com o plantio de espécies nativas da Mata Atlântica. 

Por meio do Jardim Botânico, o Plantando Carnaval solicita mudas nativas do bioma e realiza o plantio em áreas específicas da Floresta da Tijuca, sempre com a devida aprovação do Órgão Ambiental PNT/ICMBio, garantindo que a restauração ecológica siga as diretrizes ambientais adequadas. Além disso, em determinadas situações, o projeto conta com a produção local no Horto/Grotão, o que permite ampliar as iniciativas e atuar em novas frentes de reflorestamento, fortalecendo a biodiversidade e promovendo a recuperação dos ecossistemas naturais.

O programa calcula então a quantidade de carbono emitida durante o desfile do bloco e a compensa com o plantio de árvores. O cálculo inclui fatores como consumo de combustível dos trios elétricos, deslocamento de músicos e foliões e geração de resíduos. 

Este ano, pela primeira vez, a Liga Carnavalesca Amigos do Zé Pereira, que reúne blocos nove tradicionais como o Bola Preta, Céu na Terra e Orquestra Voadora, aderiu à proposta e se tornou peça-chave para o sucesso da iniciativa.

Plantando o carnaval 

A recente parceria entre a empresa Zello Ambiente no programa Plantando Carnaval surgiu a partir da aproximação entre a empresa e o bloco Vagalume O Verde. Em 2024, o bloco realizou a medição de suas emissões de carbono e compensou sua pegada ambiental utilizando créditos gerados em uma plantação de café  em Minas Gerais. Diante disso, a Zello Ambiente propôs um modelo mais local e sustentável, utilizando créditos de carbono gerados pela empresa carioca Ciclo Orgânico, uma de suas clientes.

– Queremos que o Carnaval seja um evento que não apenas celebre a cultura, mas que também deixe um legado ambiental positivo. – , afirma Miguel de Almeida, representante da Zello Ambiente.

Um dos diferenciais do projeto é a participação ativa dos foliões, que poderão contribuir diretamente para a restauração ambiental. A partir deste ano, será lançada uma campanha digital gamificada – usando elementos tradicionais de videogames no cotidiano – para que os participantes dos blocos possam doar mudas de árvores nativas da Mata Atlântica. As doações poderão ser feitas por meio de um QR Code, disponibilizado nos eventos e redes sociais, permitindo que cada folião escolha para qual bloco deseja direcionar sua contribuição.

“O folião do Bola Preta, por exemplo, pode doar uma muda para ser plantada em nome do bloco. Ou alguém que curte o Vagalume O Verde pode querer contribuir especificamente para nossa iniciativa”, explica Hugo. Essa estratégia de gamificação busca aumentar o engajamento do público e ampliar o impacto positivo da ação.

As mudas doadas serão cultivadas no Jardim Botânico até a Semana Mundial do Meio Ambiente, em junho, utilizando adubo orgânico produzido pelo Ciclo Orgânico. Assim, o projeto fecha um ciclo sustentável, garantindo que os resíduos da folia retornem à natureza em forma de novas árvores.

Um estilo de vida sustentável

O Vagalume O Verde não se limita ao período carnavalesco. A ONG mantém um trabalho contínuo de educação ambiental, promovendo ações de reflorestamento ao longo do ano e integrando comunidades ao movimento ecológico. O bloco também incentiva a redução do consumo, o descarte correto de resíduos e o reaproveitamento de materiais, princípios aplicados nas fantasias e nos desfiles.

“Nossa temática todo ano é ligada ao meio ambiente. Essa é nossa pegada: engajar a população na preservação da natureza e fazer o Plantando Carnaval crescer cada vez mais como um projeto sólido”, reforça Hugo.

Além do reflorestamento, a ONG planeja, em parceria com o Parque Nacional da Tijuca e o ICMBio, a criação de um projeto de visitação escolar, onde alunos de escolas públicas e particulares poderão conhecer o processo de produção de mudas e o trabalho de restauração ambiental.

Com 20 anos de história, o Bloco Vagalume O Verde segue demonstrando que é possível unir celebração e consciência ambiental. Em um momento em que o debate sobre mudanças climáticas e preservação da biodiversidade se torna cada vez mais urgente, iniciativas como essa mostram que cada setor da sociedade pode fazer sua parte.

A transformação do Carnaval de rua em um evento mais sustentável não só reduz os impactos ambientais, como também inspira outras cidades e festividades a adotarem práticas ecológicas. O Rio de Janeiro, que já é referência mundial na folia, pode se tornar também um modelo de sustentabilidade.

O Plantando Carnaval 2025 está pronto para mais um desfile — agora, não apenas nas ruas, mas também nas trilhas e florestas regeneradas pelo compromisso ambiental dos foliões cariocas.

VAGALUME O VERDE

DESFILE: 4/3/2025
CONCENTRAÇÃO: A PARTIR DAS 8H
RUA PACHECO LEÃO 

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