Texto: Luciene Carris | Fotos: Chris Martins
Desde 21 de novembro de 2024, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro conta com um novo espaço em seu corredor cultural: foi reaberta ao público, após seis meses de restauração, a residência do antigo diretor do Jardim Botânico, o médico Antônio Pacheco Leão (1872-1931). A novidade se completa com a exposição imersiva e sensorial “Rota do Chá – Botânica, Cultura e Tradição” que marca a comemoração dos 50 anos de relações diplomáticas entre o Brasil e a China. A entrada é gratuita e o espaço funciona de quinta a terça-feira, das 10h às 17h. Os ingressos podem ser retirados pelo site.
Fechado há oito anos, o casario histórico, de estilo eclético, foi restaurado pela Dellarte, a partir do investimento de R$2,7 milhões, patrocinado pelas empresas State Grid Brazil Holding e do Banco BOCOM BBM – através de leis de incentivo à cultura -, sob a supervisão do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Com dois andares, dez salas, quatro banheiros e copa, a obra no imóvel recuperou as cores originais nas janelas, nas portas externas e nos guarda-corpos azuis, além das esquadrias internas verdes. O processo revelou, ainda, as pinturas artísticas de época nas paredes, além da preservação da escada interna e a reconstituição do piso original.
A escolha do local não foi por acaso. Durante sua gestão entre 1915 e 1931, o diretor do JBRJ transformou sua residência em um ponto de encontro para cientistas, que frequentemente se reuniam para compartilhar ideias e pesquisas. Depois, o espaço também abrigou laboratórios de pesquisa e, por alguns anos, o Núcleo de Educação Ambiental.
Antes de depois da Casa do Chá
– A exposição apresenta ao público aspectos da produção do conhecimento sobre plantas, no caso específico, ‘a planta do Chá’, trazendo, a partir de objetos, reproduções iconográficas e textuais o resultado da pesquisa de profissionais do JBRJ e de diferentes campos do conhecimento e de fora da instituição. É um assunto que não se esgota, e nos leva a refletir sobre a produção de conhecimento sobre as plantas e sua circulação em áreas coloniais”, afirma Alda Heizer. historiadora e pesquisadora associada do Instituto de Pesquisas jardim Botânico do Rio de Janeiro, que contribuiu para a pesquisa apresentada na exposição que tem a curadoria de Alexandre Murucci.
Além de médico, Pacheco Leão foi cientista e professor de diversas disciplinas como História Natural e Parasitologia na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, bem como integrou diversas campanhas sanitárias lideradas por Oswaldo Cruz contra a febre amarela, a peste bubônica e a malária que afligiam o Rio de Janeiro, então Capital Federal. Em sua administração, ele diversificou as atividades científicas e promoveu o intercâmbio com importantes instituições internacionais. O Jardim Botânico de Pacheco Leão se dedicou ao cultivo de diversas plantas da flora nacional, o que evidencia o papel de relevância da instituição para a pesquisa científica e para o desenvolvimento sustentável da agricultura, contribuindo para o fortalecimento da economia do país e preservação da biodiversidade.
Ao entrar na exposição “Rota do Chá – Botânica, Cultura e Tradição”, o visitante encontra a escrivaninha de trabalho de Pacheco Leão, com sua foto e um telefone, que reproduz uma saudação do ilustre diretor. Ali começa um passeio onde é possível observar a trajetória do chá desde suas origens ancestrais na China até sua expansão global, destacando as transformações sociais associadas à produção e ao consumo da planta, ressaltando as conexões culturais entre diferentes países, com ênfase especial nas relações entre Brasil e China. Ainda no térreo é possível conferir as antigas rotas do chá e a sua expansão pelo mundo, bem como as inovações feitas ao longo dos anos, como o saquinho de chá, criado em 1904 nos EUA.
Placa informativa da Rota do Chá
O registro da chegada do chá ao Brasil tem destaque na exposição. Até porque o Jardim Botânico, originalmente chamado de “jardim de aclimatação de plantas exóticas”, criado logo após a chegada de Dom João VI ao Brasil, foi o primeiro local no Brasil destinado ao cultivo da planta de chá, cientificamente conhecida pelo nome de Camellia sinensis (L.) Kuntze. Após a criação, cerca de 300 chineses foram trazidos de Macau pelo governo português entre 1812 e 1819 e foram imortalizados pela litografia de Johann Moritz Rugendas, publicada na obra A Viagem Pitoresca através do Brasil em 1835, que também integra a exposição. A ilustração retrata trabalhadores chineses em uma plantação de chá, sintetizando os esforços de D. João VI para introduzir e consolidar o cultivo da espécie no Brasil. Outro destaque é a Vista Chinesa, que homenageia os trabalhadores chineses e sua contribuição à cultura do chá no Brasil. O pavilhão oriental, localizado no alto da Floresta da Tijuca, foi construído durante a gestão do prefeito Pereira Passos, entre 1902 e 1906, e foi registrado pela lente do fotógrafo oficial da cidade, Augusto Malta.
Salão do Chá
Estão lá também ilustres consumidores, como o ator Al Pacino e os músicos David Bowie e Mick Jagger, entre outros. No andar superior, uma sala reproduz o ritual do chá, em outra, estão expostos diferentes bules e recipientes usados consumo da bebida, seguindo a cultura do país, além de, painéis com diversos tipos da erva e sua evolução. A tradição do chá no Brasil merece destaque, ressaltando a sua tradição em cada região, como o Sul e o Sudeste, principalmente no Rio de Janeiro, onde o mate ganhou destaque e ficou popular, principalmente nas praias cariocas.
A “Rota do Chá – Botânica, Cultura e Tradição” é rica em detalhes e pode se passar horas conferindo textos, fotos e vídeos. Para completar a visita imersiva, faltou um espaço para se degustar a bebida. Com tantos cafés no parque, um espaço para se consumir chá tendo como cenário todo o verde ao redor seria muito bem-vindo. Fica a sugestão.
Exposição A Rota do Chá
Casa Pacheco Leão – Rua Jardim Botânico 1008 – Jardim Botânico
Visitação: quinta a terça, das 10h às 17h
Ingressos gratuito pelo site
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