Em pleno século XXI, diante de tantas informações e preocupações ambientais, todo mundo precisa pensar e ser responsável pelo que consome, incluindo aquilo que é descartado. A questão vai além da consciência individual de cada um e foi assumida como política pública no Brasil a partir de 2010, com a Lei 12.305, que estabeleceu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).
Segundo o Centro de Informações sobre Reciclagem e Meio Ambiente, o Rio de Janeiro é uma das poucas cidades brasileiras que tem um programa municipal de Coleta Seletiva que abrange quase todo seu território. A melhor forma de estimular e preservar isso é separando os materiais recicláveis do lixo orgânico, colocando-os em sacos transparentes para que sejam recolhidos pela Comlurb. Atualmente, os caminhões da empresa – devidamente identificados e exclusivos para esse serviço – recolhem cerca de 17 mil toneladas por mês de materiais que podem ser reciclados. Tudo isso é destinado gratuitamente a 35 cooperativas credenciadas, que fazem a separação e encaminhamento do material a ser reciclado, beneficiando mais de 400 famílias de catadores associados.
O aumento de indústrias de reciclagem e o agravamento da crise econômica promoveram uma valorização desse “lixo”, que passou a representar fonte de renda para muita gente. Com isso, de uns tempos para cá, virou rotina ver caminhões alternativos percorrerem as ruas do Jardim Botânico, Humaitá, Gávea e outros bairros, no mesmo dia da coleta seletiva da Comlurb. A estratégia deles é passar antes do caminhão oficial e recolher o que é colocado nas ruas, como relatam moradores.
– O caminhão clandestino começa a circular a partir das 5h da manhã, em alta velocidade, sem qualquer segurança naqueles veículos, que estão em péssimo estado de conservação. Um perigo! Além disso, vão passando e deixando o lixo caído na rua. Deveria ter uma maneira de impedir a ação deles – reclama Julio Beltrame, morador da rua Maria Angélica (foto).
Na rua Pio Correia, por exemplo, o caminhão deixa uma pessoa no local por volta das 7h da manhã para que ele vá reunindo os sacos (foto em destaque), que serão recolhidos ao final do roteiro, após passar por outras ruas do Jardim Botânico. Na última segunda-feira, “os reciclados foram recolhidos por “piratas” antes das 8h30 da manhã na rua Maria Angélica”, avisou Teresa Condé. Enquanto na rua Peri, de acordo com Mercedes Lachmann, “esta semana a coleta foi feita pela Comlurb, mas, normalmente, são os catadores clandestinos que pegam”. A alternância é comum também nas ruas Eurico Cruz, J.Carlos, Engenheiro Pena Chaves, no Jardim Botânico, e Major Rubens Vaz (Gávea) e João Afonso (Humaitá). Na rua Embaixador Carlos Taylor, na Gávea, os caminhões alternativos costumam levar apenas metade dos sacos, deixando uma parte para Comlurb.
À primeira vista, não há nada de errado nisso. A questão é que, diferentemente do serviço prestado pela Comlurb, não há qualquer compromisso ou garantia de que o caminhão alternativo vá passar em dias de chuva ou feriados. Além disso, nem todo o material recolhido nos sacos tem valor e, o que não é vendido, pode acabar descartado incorretamente.
– Eu já encontrei sacos rasgados e materiais recicláveis espalhados pelo caminho por ser difícil encontrar comprador para eles. Tudo o que a Comlurb coleta é distribuído para cooperativas credenciadas e responsáveis. O serviço é gratuito de ponta a ponta, mas se não tiver nada ou pouca coisa sendo coletada, corre o risco de ser ainda mais reduzido ou interrompido – avalia Renato Augusto, funcionário da Comlurb encarregado pela Divisão de Coleta Seletiva na Zona Sul.
Para ele, outro motivo para reclamações no roteiro foi a diminuição de caminhões da Comlurb dedicados a esse serviço: “Antes da pandemia, havia cinco caminhões. Atualmente, são apenas dois circulando, devido à redução de gastos da empresa”, justifica ele, que, para driblar a situação, tem estabelecido parcerias com grandes condomínios, para que a Comlurb faça a coleta internamente.
De fato, todo mundo ganha com o serviço prestado pela Comlurb: os funcionários têm seus empregos preservados; os catadores têm trabalho garantido; a sociedade tem seu lixo coletado devidamente, chova ou faça sol; e o meio ambiente não sofre com as consequências do descarte incorreto.
– É fundamental que todos tenham consciência da importância da coleta seletiva. O serviço realizado pela Comlurb é gratuito, seguro e formalizado. Além disso, o material recolhido é doado às cooperativas – garante Renato.
Como preparar o material reciclável para a coleta seletiva:
- Todo material reciclável deve ser embalado em sacos plásticos transparentes ou translúcidos (azul e verde) para que o gari possa visualizar o seu conteúdo, bem como detectar a possível presença de materiais orgânicos, contundentes ou perfurantes no seu interior. Sacos pretos não são recolhdidos.
- Para garantir a qualidade dos recicláveis, basta uma rápida lavagem. Além da limpeza, esse pequeno gesto, facilita o trabalho das cooperativas.
- O resíduo orgânico, além de representar risco à saúde dos catadores, contamina todo o material potencialmente reciclável, inviabilizando seu aproveitamento e, consequentemente, sua reutilização.
Consulte aqui os roteiros, dias e horários da coleta seletiva porta-a-porta.
Uma opção disponibilizada pela Comlurb são os Postos de Entrega Voluntária (PEV). Na região que vai do Humaitá à Gávea, o endereço mais perto é o Galpão das Artes Recicladas, localizado embaixo do elevado da Autoestrada Lagoa-Barra, onde também é possível descartar o “lixo” eletrônico.
Galpão das Artes Urbanas Helio Pellegrino
Rua Padre Leonel Franca, s/no
Em frente ao Planetário da Gávea
De 2ª a 6ª, das 9h às 17h
*Por Betina Dowsley
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