10 de dezembro de 2020
COMERCIANTE MAIS ANTIGO DO JB EM ATIVIDADE

Amílcar Nunes Morgado tinha 42 anos quando se estabeleceu no Jardim Botânico, na esquina das ruas Jardim Botânico com Maria Angélica, onde funcionou a papelaria Bazar Velasquez. Passados outros 42 anos, vez por outra, ainda é possível encontrá-lo atrás do balcão do Bazar Lagoa, ao lado do primeiro endereço.

O Sr. Morgado – como ficou conhecido – é português e veio para o Brasil por volta de seus 15 anos. Apesar de tantos tempo morando no Rio de Janeiro, ainda guarda o sotaque que denuncia sua origem. Não fosse por isso, seria fácil acreditar que ele nasceu aqui, tamanha sua familiaridade com uma das principais esquinas do bairro, onde ele, aliás, nunca morou.

– No começo, eu chegava na loja às 7h e saía às 20h. Só ia para casa para dormir – recorda-se ele, que precisou se afastar da loja por questões de saúde que vão além da pandemia.

Se o coração deu uma rateada, a memória segue boa. Morgado conta que viu inúmeros prédios serem construídos, inclusive o Parque Monjope, que ocupou o endereço de um casarão enorme, do qual só restou o brasão fixado na entrada. O edifício Botanique, em construção na rua Jardim Botânico 211 atualmente, foi a residência da família Guaraná, que era cliente de suas lojas. “Alguns membros da família ainda moram no Jardim Botânico. Pessoas finas, ‘gente’ demais. O Fernando foi um grande amigo”, afirma.

Outros clientes que se tornaram amigos são o Dr. Mascarenhas e família; e a fotógrafa Ana Carolina Fernandes e sua irmã Isabela, filhas do jornalista Hélio Fernandes, são bons exemplos. Mais antiga, porém, é a amizade com Cristiano Santos Marques. Os dois se conheceram na juventude e se reencontraram em 1978, quando Cristiano abriu a Foods Delicatessen, na rua Maria Angélica (onde hoje funciona o restaurante japonês Okawari), quase ao lado do Bazar Velasquez.

– Tenho saudades do tempo em que a clientela era do bairro e a gente conhecia todo mundo. As pessoas tinham mais calor humano, eram mais unidas. Hoje você vai a um restaurante e vê um casal com filhos sentado à mesa, cada um olhando para seu celular. Acho que a comunicação piorou muito – reflete ele, que, apesar de preferir falar no telefone, acaba usando mais mensagens para falar com os filhos Ricardo (sócio e atual administrador do Bazar Lagoa) e Luiz (que mora em Salvador).

Há cerca de 11 ou 12 anos, quando já somava mais de sete décadas, Morgado achou que era hora de vender um de seus estabelecimentos para ter mais tempo para descansar. A primeira loja a ser comprada foi a primeira a receber uma proposta e, assim, o bairro perdeu uma de suas mais tradicionais papelarias.

De uma maneira geral, Morgado gosta muito do Jardim Botânico, onde fez grandes amigos. A esquina já teve uma patrulhinha e segurança particular, mas o maior problema da região, na sua opinião, continua sendo a segurança e, tempos atrás, chegou a sofrer assaltos na loja.

Atualmente, a maior preocupação de Morgado é a crise provocada pelo coronavírus. Depois de ter passado 15 dias totalmente fechado, o setor de materiais de construção foi um dos primeiros a poder reabrir as portas, ainda que com horário reduzido.

– O comércio ainda não se recuperou completamente, mas o movimento começou a melhorar a partir de setembro. Nós estamos respeitando as orientações da OMS e das autoridades locais. Na minha loja, ninguém entra ou fica sem máscara. A pandemia não acabou – adverte ele, que faz questão de dar o exemplo.

Afastado do dia a dia do negócio nos últimos meses, Morgado só tem vindo ao Jardim Botânico quando o filho e sócio Ricardo permite. Além da idade e da pandemia, ele precisou colocar um stent no coração e ainda está em recuperação. “Tenho saído muito pouco de casa, basicamente para compromissos médicos ou para uma caminhada com minha esposa na orla do Leblon, quando o tempo está bom e sempre de máscara”, garante ele, que exceto pelo recente flagrante do JB em Folhas, não tem fotos suas ou de suas lojas.

– Antigamente não tinha essa cultura de tirar foto o tempo todo. Agora, até foto de parafuso já recebi em meu celular – espanta-se.

*Por Betina Dowsley

2 Comentários

  1. Antônio Neto

    Parabéns ao JBEMFOLHAS pela entrevista, sr. Morgado, pessoa especial, amiga, comerciante de valor. Convivo a 20 anos, sempre atencioso, compreensivo e solícito.

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    • JB em Folhas

      Obrigada, Antônio. Você não é o único a tecer elogios ao Sr. Morgado. Sinal de que atendimento atencioso faz toda diferença.

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