20 de outubro de 2022
DANIEL BECKER, O DR. NATUREZA

Foto home: crédito Marco Weyne

Não poderia haver lugar mais apropriado do que o Jardim Botânico para o consultório de um pediatra que costuma receitar altas doses de contato com a natureza.  Médico e sanitarista, Daniel Becker é figura conhecida no coração da rua Jardim Botânico desde 1995. Nos últimos anos, o reconhecimento profissional extrapolou a geografia com entrevistas em programas de TV, palestras nacionais e internacionais, consultorias e o universo digital, onde atua como criador de conteúdo do perfil @PediatriaIntegralbr, no Instagram, e de canais como o “Criar e Crescer”, no YouTube, em que alguns de seus vídeos somam mais de um milhão de views.

O corre-corre diário é intenso, mas vai melhorar. Se até agora ele apenas não dormia no JB, sua rotina no bairro ficará ainda mais concentrada com a recente compra de um apartamento bem pertinho do consultório: “Era um sonho antigo ter vista para o Cristo e espaço ao ar livre”, afirma o pediatra, que havia morado dois anos na rua Itaipava, na década de 1990. Desde então, ele virou fã das áreas verdes do Humaitá à Gávea:

– Aqui temos os melhores parques do Rio. Além da Lagoa e dos populares Parque Lage e Jardim Botânico, o Parque do Martelo, no Humaitá, e o Parque da Cidade, na Gávea, são ótimos. Este último aceita cachorros e, assim como o Lage, permite uma exploração mais livre e intensa, despertando o senso de descoberta e de criatividade em crianças de todas as idades – analisa o Doutor Natureza, apelido dado por uma amiga, mãe e, como ele, ativista do contato da criança com o meio ambiente.

Daniel e sua assistente Margot

A carreira de médico de Daniel Becker começou bem longe daqui. Estudou Medicina no Fundão, fez mestrado em Saúde Pública na Fiocruz e foi o primeiro brasileiro a trabalhar com os Médicos sem Fronteiras, em 1988, atuando em países como Tailândia e Camboja. De volta ao Brasil, abriu seu primeiro consultório no prédio 700 da rua Jardim Botânico, mas a preocupação com a saúde da coletividade nunca foi deixada de lado. Daniel foi um dos criadores do Estratégia de Saúde da Família, o maior programa do Ministério da Saúde, implantado em 1994. Um ano antes, ele fundou o Centro de Promoção da Saúde (CEDAPS), que dirigiu por 20 anos, tornando-o referência em saúde em comunidades populares. Além disso, foi colaborador do UNICEF, da OMS e de diversas fundações, como a Dreyfus Health Foundation, na qual foi coordenador de programas para a América Latina.

O tema Criança e Natureza é uma constante em seu trabalho nas mais variadas vertentes. Daniel costuma dar entrevistas para programas como “Conversa com Bial”, “Encontro com Fátima Bernardes” e “Roda Viva”; fez palestras no TEDx e LivMundi; e participou do filme “O começo da Vida 2 – Lá Fora”, da produtora Maria Farinha e do Instituto Alana, do qual é colaborador direto. Juntamente com outros autores, escreveu dois manuais da Sociedade Brasileira de Pediatria sobre o assunto e é integrante do Grupo de Trabalho Criança e Natureza da Sociedade Brasileira de Pediatria, além de ser coautor do capítulo “Criança e Natureza” do livro “Pediatria Ambulatorial da Sociedade de Pediatria do Rio de Janeiro”.

Por tudo isso, percebe-se que a preocupação do pediatra vai muito além de curar uma simples virose. Daniel é pioneiro da Pediatria Integral no Brasil, uma prática que amplia o olhar e o cuidado para promover o desenvolvimento pleno e o bem-estar da criança e de sua família. De uns tempos para cá, as dicas e o aconselhamento não estão mais restritos ao consultório e espalham-se pelas mídias digitais

“Nos meus posts, procuro falar de coisas práticas, intercalando cuidados com a criança, de um simples resfriado e remédios caseiros, ao alcance de todos, passando a questões mais amplas, como educação respeitosa, dicas para lidar com crises de birra e angústias maternas. Tudo isso é importante para criar filhos saudáveis” – afirma.

e com a turma do prédio 674 que estava em serviço.

Daniel é um dos poucos pediatras que usam as redes sociais de forma tão abrangente. Isso começou antes da pandemia, mas ganhou uma proporção maior nos últimos dois anos, quando passou a integrar o Comitê Científico de Acompanhamento de Ações contra a Covid-19 da Prefeitura do Rio de Janeiro, tornando-se fonte para entrevistas de diversos programas jornalísticos de televisão, tanto os locais quanto os de alcance nacional, como o Fantástico, da TV Globo. Atualmente, seu Instagram está com cerca de 560 mil seguidores: “Imagino que se não falasse em política teria uns 800 mil. Todos os dias mais ou menos 300 pessoas deixam de me seguir, somente no dia das eleições foram 12 mil”.

– Muitos colegas preferem não tocar nesse assunto; para mim é indispensável. Especialmente nos dias de hoje, é muito importante se posicionar. Minha maior preocupação é com a crise ambiental. Procuro mostrar a importância de ter políticas públicas de preservação da natureza e ações concretas para manter a floresta em pé. Acredito que a devastação da Amazônia pode comprometer, e muito, a qualidade vida dos nossos filhos. Nesse sentido, acho que presto um serviço furando a bolha e sei que já virei muito voto – orgulha-se o médico, que tem credibilidade e fala de forma assertiva, argumentando com fatos e questionando as fake news.

Na vida cotidiana, faz compras nos supermercados Zona Sul e Pão de Açúcar; para os vinhos, prefere a loja Grand Cru. Gosta de tomar suco no Bibi e chope nos bares Joia e Belmonte, onde já fez até reunião. Como a hora do almoço é apertada, muitas vezes pede quentinha vegana do restaurante Figo, de Copacabana: “A comida é maravilhosa!”. No JB, ele costuma comer no Nanquim, no Shanti, no Prana e no Nutre Restô.

Um hábito que criou durante a pandemia – quando as consultas eram marcadas com um grande intervalo a fim de evitar que as pessoas ficassem na sala de espera – é subir a rua Lopes Quintas e ir caminhando até a praça Dag Hammarskjoeld. Com o tempo cada vez mais escasso, acaba subindo apenas no terraço do prédio para espairecer.

– Além das áreas ao ar livre e da paisagem, uma das melhores coisas do Jardim Botânico é o povo amistoso que a gente encontra aqui: dos vendedores de rua, como o Almir, do cuscuz, à minha assistente Margareth Alves e toda a equipe administrativa do 674. Porteiros, garagistas, vigias são todos muito simpáticos e prestativos – destaca ele que atende de cinco a seis crianças por dia e mantém um bom relacionamento com os que já viraram adolescentes. – Muitos pacientes antigos seguem frequentando o consultório para conversar sobre drogas, namoro… é quase uma terapia.

*Por Betina Dowsley

2 Comentários

  1. passarimcomunicacao

    Ah, uma alegria ler um pouco sobre este ser humano incrível que já sigo há um bom tempo. Mesmo não tendo mais uma criança pequena, sou e somos todos nós responsáveis por um mundo mais natural, que deve começar com os pais, os avós. Feliz saber que ele conseguiu estar no seu bairro do coração e vai ganhar, também, mais qualidade de vida. Parabéns pelas sempre ótimas matérias, garotas. Beijos,

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    • JB em Folhas

      É isso aí, Silvana. Obrigada. Mais amor e natureza no nosso cotidiano.

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