Foto capa: Chris Martins
O tempo passou e os pets vem, a cada ano, ganhando uma importância maior no dia-a-dia e na vida afetiva das pessoas. De acordo com uma pesquisa realizada pelo IBGE, o Brasil tem quatro vezes mais pets do que crianças menores de 14 anos, destacando o quanto eles são importantes nessa sociedade. Junto com os pets, aumenta também o papel e a responsabilidade dos veterinários que, assim como os médicos, se especializaram. Hoje tem veterinário para tudo, inclusive para comportamento, como destaca Rita Ericson, que exerce a profissão há 30 anos.
– Era comum que um único veterinário atuando como clínico, dentista, dermatologista, etc. E como ninguém consegue ser bom em tudo, isso não funcionava muito. Atualmente existem quase tantas especialidades quanto na medicina. O governo brasileiro vem reconhecendo o valor desses animais na qualidade de vida humana e tem promovido campanhas de vacinação, castração, além de criar clínicas veterinárias populares. – explica a veterinária.
A verdade é que os cães hoje em dia levam uma vida muito boa, sendo considerados verdadeiros membros da família brasileira, podendo chegar a criar vínculos emocionais mais intensos do que parentes diretos. O “rock da cachorra”, composto por Eduardo Dusek em 1983 nunca esteve tão atual. Atualmente casais optam por não ter filhos e manter pets. Mas tudo tem dois lados e Rita sabe bem disso.
– Tem desde o dono que terceiriza a função, mandando o pet para o veterinário acompanhado por um funcionário, ao dono que abre mão de seu conforto próprio para poder priorizar a qualidade de vida de seu companheiro de quatro patas. O que eu tento mostrar é a necessidade de reconhecer o valor da relação, para que a troca de afeto e companheirismo sejam mútuos. Sim, muitas vezes será necessário acordar mais cedo para passear com o cão, deixar de jantar fora para comprar um remédio ou cancelar planos para poder atender às necessidades do animal.
Ciente da importância de estar sempre trabalhando a informação sobre o bom convívio com os pets, a veterinária criou o site bichosaudavel.com, que depois virou um programa de rádio, que já rodou pelas emissoras Paradiso, MPB FM e atualmente pode ser ouvido no site da rádio JB FM. Além disso, ela colaborou para o podcast “Bichos na Escuta”, realizado em parceria com a repórter Giuliana Girardi do Fantástico, da TV Globo até 2022. Hoje é uma referência e está sempre dando entrevistas na TV Globo. Essa semana mesmo falou para o Bom dia Rio sobre animais silvestres e para A Band Rio sobre como cuidar dos pets no verão.
Rita no seu podcast, em entrevista para a Globo e na rádio JB Fm. (Fotos: Divulgação)
Além de atuar como clínica, Rita faz um atendimento personalizado de veterinária comportamental, que funciona como se fosse uma psicóloga de pets. Durante a consulta, que costuma durar pelo menos duas horas, na residência do pet, ela realiza um trabalho de detetive para descobrir o que pode estar afligindo seu paciente peludo, através de um questionário, para entender como é a vida do animal e seus hábitos, além de interagir com ele, usando brinquedos e petiscos.
Essa observação minuciosa é o que possibilita que ela descubra a raiz do problema e a melhor maneira de lidar com ele. O pet pode sentir dores que o levam a ter comportamentos indesejáveis, sem que o tutor – por mais atencioso e amoroso que seja – perceba. Dona de dois gatos SRD, Xisto (pelo amarelo) e Pluft (preto), a médica cita o primeiro como exemplo. Como ele não gostava de socializar, ela passou um tempo observando o bichano até entender que ele tinha um problema na coluna e, por isso, fugia do contato com os humanos, que podiam machucá-lo sem saber. “Sempre que o Xisto se aproxima, eu alerto quem está em volta para que fazer carinho com cuidado, bem de leve, para não gerar desconforto”, explica ela.
A veterinária trabalha em parceria com adestradores, mas opta por aqueles que não utilizam métodos ultrapassados. “Infelizmente, a punição serve como corretor e modificador de comportamento. Só que tem efeitos colaterais imprevisíveis, e não é nada gentil, né?” – reforça ela, para em seguida completar:
– Vale ressaltar que os comportamentos indesejáveis não são aqueles inerentes às necessidades instintivas do animal, e sim o que atrapalha a convivência harmônica entre o bicho e o mundo à sua volta. As pessoas acham que o bicho quer tirar foto e acabam forçando uma situação desconfortável. Ninguém gosta de fazer nada obrigado e eles também não.”, alerta.
Depois de 25 anos residindo na Lagoa, em uma rua sem saída, cercada de mato, Rita, o marido Joaquim e a filha Laura estão morando há 10 meses no Jardim Botânico, com Pluft e Xisto que têm um quarto com uma área de recreação para eles. Na opinião da médica, um dos pontos altos da região é o rompimento da dicotomia entre a vida urbana e a bucólica. Existe a praticidade e conveniência das lojas e serviços por perto, sem ter que abrir mão do sossego, além de ter muitos amigos por perto. “Começamos a enumerar quem a gente conhecia na vizinhança e paramos quando chegamos ao número 15, porque estava satisfatório. Esperamos muito por esse apartamento e valeu a pena. Estou amando.” – confessa.
Em um bairro, como o Jardim Botânico, em que os limites da fauna carioca e da vida urbana se misturam, a veterinária está sempre alerta para tentar manter o equilíbrio entre a natureza e os humanos, que cada vez mais estão excedendo os limites e querendo expulsar os animais. Rita reitera a importância do uso de telas protetoras nas janelas das residências e de não deixar comidas expostas aos animais. Ela lembra que quando estagiou no Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, se surpreendeu em ver macacos com cáries, por conta da comida açucarada com que se alimentavam
– É importante lembrar que nós somos os invasores, eles chegaram aqui primeiro. Além disso, nós podemos fazer mal aos animais silvestres da região mesmo sem querer. – alerta.
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