Texto: Chris Martins / Fotos: acervo pessoal
O jornalista Marcelo Barreto acaba de retornar de Paris onde trabalhou na cobertura dos Jogos Olímpicos e uma das primeiras coisas que fez foi ir até a feira comer pastel. “É do que mais sinto falta quando estou fora do Brasil. E olha que em Paris já tem pastelaria, segundo eu soube, mas preferi matar as saudades aqui mesmo”, confessa o apresentador do Sportv. Ao todo são seis Olimpíadas no currículo – sendo que na quinta, em 2021, a cobertura foi feita do estúdio em Curicica, por conta da pandemia.
Nesta Olimpíada, Barreto foi para as ruas fazer reportagens para o programa “Ça Va Paris” – que apresenta com Fabiana Alvim, a Fabi do vôlei, bicampeã olímpica – e ainda conseguiu a proeza de ter sido o único jornalista presente no barco da delegação brasileira na cerimônia de abertura. Como o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) não liberou equipe, ele teve que dar conta, sozinho, de entrevistar, filmar e cuidar do equipamento.
– Confesso que fiquei um pouco nervoso, com medo de algo sair errado. A ficha demorou a cair, mas deu para reparar o brilho nos olhos dos atletas. Desde os mais experientes aos mais novos, a emoção toma conta. É um momento muito especial e compartilhar esse espírito olímpico mexe com a gente. – atesta o jornalista.
Com Isaquias Queiroz na Cerimônia de Abertura
Uma vez repórter, sempre repórter e Marcelo não foge desta definição. Mesmo estando na bancada do programa Redação SporTV há mais de 20 anos – integrando a turma do ar condicionado, como brincam os coleguinhas que vão para a rua, – ele gosta do ofício, especialmente em eventos grandes como os Jogos e a Copa do Mundo. Como ele diz, “evento é comigo mesmo, adoro e as Olimpíadas, o meu favorito. E a Rio 2016 me deu a chance de conhecer de perto. Me sinto na Disneylândia”, diz. Como criança – a serviço – ele aproveitou e visitou 33 instalações diferentes em Paris, para entender como funcionava, registrando tudo. Avesso às redes sociais, acabou, sem querer, virando blogueiro do programa. “Nas internas começaram a me chamar de “Barretô, le bloguerô”, brinca.
Avaliando os Jogos de 2024, o jornalista acha que o saldo foi positivo e deu certo a proposta de usar a cidade como palco das competições, tendo ícones mundiais como a Torre Eiffel e a Place de La Concorde, associados a alguma instalação esportiva. “Foram os Jogos do reencontro e Paris abusou ao usar a cidade como palco. Mas é claro que tiveram problemas, isso é normal em um evento grande”. Para ele, a França tinha o melhor dos mundos, pois tinha a turma que ia por conta do programa, e quem torcia e entendia, já que os esportes lá são populares.. “A seleção de judô, por exemplo, comentou que o público quando reclamava do juiz, era com argumento de quem acompanha o esporte”, explica. Sobre a presença e performance do Brasil, ele usa outro exemplo
– Eu comparo o Brasil nas Olimpíadas ao Cuiabá Esporte Clube. O time chegou na primeira divisão e ficou, mas se movimenta pouco para ficar entre os primeiros. É o nosso caso nos Jogos. Estamos entre os 20 melhores e acomodados Para ficar entre os 5 precisa de um esforço. Até porque é preciso investir na base para ter um alto rendimento. É preciso fazer um trabalho igual ao da equipe do judô, que sempre volta das competições com medalhas. – explica.
Marcelo apresentou o primeiro programa sobre Paralimpíadas no SporTV em 2004 e afirma que foi transformador para sua carreira. Ele chegou a cobrir os Jogos em Londres, quando morava lá, e gostaria de ter continuado, o que acabou não acontecendo. Mas, apesar do Brasil não ser inclusivo, ele entende que o esporte se transformou em uma ferramenta de inclusão e cita a excelência do Comitê Paralímpico Brasileiro, que além de ter o Centro de Treinamento mais moderno do mundo, em São Paulo, ainda promove, desde 2009 os Jogos Paralímpicos Escolares, que já se transformou em uma competição internacional.
Com a família em Paris
As Olimpíadas em Paris deram para Marcelo um prazer familiar. A mulher, Simone Barreto, também jornalista, estava trabalhando na organização dos Jogos e os filhos, Noel e Pedro, com 21 e 16 anos, respectivamente, foram encontrar com eles e passaram uns dias na capital francesa, antes deles retornarem e Simone seguir com as Paralimpíadas.
De volta ao Brasil, o jornalista já retomou sua rotina e começa a cuidar do projeto de um livro com atletas, alguns olímpicos, falando da relação deles com o esporte na cidade. Para Marcelo, nada melhor do que estar em casa. “Quando a gente viaja, tem uma hora que o familiar faz falta”, diz se referindo ao roteiro no entorno da sua casa, entre as ruas Fonte da Saudade e Maria Angélica. Aliás, o prédio onde fica a galeria comercial, foi a primeira residência do casal. E curiosamente, a Janela Livraria é um dos locais que Marcelo mais frequenta, seja para encontrar os amigos depois da feira ou mesmo para usar o subsolo, onde às vezes costuma usar para escrever suas colunas. O torcedor do Flamengo se aposentou da pelada no Clube dos Macacos e agora concentra seus exercícios, acompanhado de Simone, no Espaço Stella Torreão, perto de casa.
Coisa do interior: encontros depois da feira na Livraria Janela
Mineiro de Bicas, uma pequena cidade mineira, perto de Juiz de Fora, Marcelo vive no Rio há mais de 30 anos e gosta da região onde reside, que tem o mar e a montanha na mesma proporção, com tudo perto e, especialmente, o silêncio, item precioso para quem vive na cidade (e escreve). Ao mesmo tempo, confessa que gosta do fervo e curtiria ter condições para se aposentar e morar em Nova York, mas sabe que isso é apenas uma vontade passageira. Até porque, nos Estados Unidos, ele não vai poder ver o Cristo Redentor da janela, como faz diariamente, uma condição prioritária cada vez que o casal resolve trocar de apartamento. Apaixonado pelo fim de tarde na Lagoa, o jornalista não se cansa de fazer registros com seu celular, sempre que está voltando para casa e confessa que deve ter mais de 100 fotos, algumas até do mesmo ângulo.
– A Lagoa me atrai muito, mas tenho um encantamento com o Jardim Botânico como bairro. Quando voltei de Paris me peguei olhando para a natureza, valorizando o que tem aqui. O trânsito, a segurança, isso eu acho que é o ônus de morar em cidade grande. A única coisa que me entristece é ver o número crescente de moradores em situação de vulnerabilidade. Não é a questão estética, mas isso acentua o contraste social. É triste de ver em qualquer lugar do mundo. Em Paris não é diferente.
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