Colaboração de Beth Ritto*
Chuva de papel
O título do livro mais recente da escritora Martha Batalha remete ao espetáculo que marcava a virada do ano no centro da capital carioca. Funcionários jogavam pelas janelas dos escritórios a memória rasgada, picotada, triturada do período que terminava. Um trabalhão para os garis, uma alegria para quem se livrava da papelada burocrática.
No romance, Marta Batalha mistura esse Rio que não existe mais, com questões atuais, como a pandemia da Covid 19, que colocou o mundo em estado de quarentena em março de 2020.
A história da transformação da cidade e de seus hábitos e costumes é contada pelas experiências do repórter policial, Joel Nascimento, homônimo, por acaso ou não, do bandolinista da Vila da Penha e músico genial.
O Joel repórter policial aprendeu desde cedo as artimanhas violentas das abordagens dos “homens da lei” e foi levando a vida pelos subúrbios e baixadas, junto com manchetes apelativas, amores inconstantes e o álcool que descia fácil pela garganta a qualquer hora do dia.
Uma tentativa frustrada de suicídio leva o repórter a morar de favor no apartamento de Glória, tia de um jovem colega das redações da profissão. Ela vive sozinha em um espaço pequeno, cheio de lembranças familiares, na Tijuca. É nesse lugar simples que eles vão aprender a conviver de acordo com as regras da pandemia e os limites impostos pela dona da casa.
Gloria é objetiva e tem na vizinha Aracy, tão estridente quanto os dois chihuahuas que a acompanham, sua melhor amiga. Personagens improváveis que se misturam no mar agitado das sobrevivências.
Marta Batalha tira dessas vidas que poderiam ser apenas tristes, doses surpreendentes de humor e lampejos do sentido amoroso da vida.
Chuva de papel é um lançamento da Companhia da Letras e pode ser lido em uma longa e prazerosa respirada.
SOBRE A AUTORA
Martha Batalha é escritora, jornalista, com mestrado em Literatura Brasileira, e colunista do jornal O Globo. Ela nasceu em Recife, mas vive desde 2014, em Santa Monica, Califórnia, Estados Unidos. Martha foi uma das fundadoras da Editora Desiderata, que pertence agora ao grupo Ediouro, é, também, uma incansável produtora cultural.
O primeiro romance, A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, foi vendido para editoras da Alemanha e Noruega antes de ser publicado no Brasil. O livro inspirou o filme A vida invisível, dirigido por Karim Aïnouz com produção de Rodrigo Teixeira.
CHUVA DE PAPEL
AUTORA: MARTHA BATALHA
EDITORA COMPANHIA DAS LETRAS
224 PÁGINAS
R$64,90
* Beth Ritto é jornalista e moradora da Gávea.
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