Em 2020, Francis Hime completa 80 anos de idade, 55 de carreira e 50 ao lado da esposa, Olívia Hime, parceira com quem divide palco, estúdio e a vida, metade dela passada aqui no Jardim Botânico. Há mais de 20 anos, começaram a construção da casa onde vivem, que foi projetada pelo amigo e arquiteto Sérgio Rodrigues, em etapas. Integrado à natureza, o lugar é agradável e aconchegante, perfeito para esses tempos de isolamento social. É de lá que, neste período de pandemia, Francis apresenta os encontros virtuais “Trocando em miúdos as minhas canções”, todas as quartas-feiras, às 19h, em seu perfil no Instagram @francishimeoficial.
A casa, na verdade, sempre esteve no centro de seu dia a dia. A diferença é que, antes, ela servia de ponto de encontro para os amigos, e, agora, só Francis desfruta um outro talento de Olívia: a comida. O cardápio atual do casal inclui mais peixes e crustáceos do que antes, graças a um peixeiro maravilhoso descoberto pela chef. Para manter a forma, ele tem até uma esteira, mas, como exercício físico não é o seu forte, entre ela e o piano, o segundo quase sempre vence.
O silêncio, que tanto atraiu Francis Hime para o bairro, continua sendo ponto forte do JB. Dos passeios que costumava fazer, sente falta de caminhar no Jardim Botânico do Rio de Janeiro:
“Gostava de ficar até escurecer e, muitas vezes, me escondia dos seguranças para aproveitar, ao máximo, a paz do lugar”, recorda com um misto de traquinagem e nostalgia. Inspirado naquela época, Francis compôs a canção “Jardim Botânico”, lançada em 2007 no álbum “Choro rasgado”, que narra um encontro imaginário dele com Tom Jobim, personagem que, na sua opinião, é o maior representante do local. A letra da música reflete bem a saudade de um tempo que passou: “Ah, pudesse eu te rever / Amigo, a percorrer / Aleias do nosso jardim…”. Porém, para Francis, a trilha sonora do momento é “Apesar de você, amanhã há de ser outro dia…”, de Chico Buarque:
– Nunca imaginei passar novamente por uma onda conservadora como esta. Temos que reagir! – convoca o parceiro de Chico Buarque em “Vai passar”, que em 1984 já avisava: “Num tempo / Página infeliz da nossa história / Passagem desbotada na memória / das nossas novas gerações / Dormia / a nossa pátria mãe tão distraída / sem perceber que era subtraída / em tenebrosas transações”.
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