26 de maio de 2025
HELENA DUNCAN ESTREIA COM LIVRO SOBRE RELAÇÕES HUMANAS

“O manual do monstro”, livro de estreia de Helena Duncan, lançado pela Interseção, não é uma obra sobre um psicopata. É um livro sobre todos nós, sobre as relações humanas, nossas monstruosidades e o amor. Poderíamos estar no lugar de Laura, a quase cinquentona que passa por uma grande desilusão no seu casamento com Diego. Ou poderíamos ser Diego envolto em erros e manipulações. Com uma escrita fluida e envolvente, Helena vai costurando sentimentos, medos, monstros, soturnamente, mas também com humor. Nesta segunda (26/05), a autora estará na Livraria da Janela do Jardim Botânico, a partir das 19h, para uma conversa sobre como a ficção pode nos confrontar com nossos monstros mais profundos. Aqui, ela já dá uma mostra de como será a conversa.

1 – A música costura o livro: está nos inícios de capítulo, no presente de Diego a Laura, e em vários outros momentos. Por que a música é tão forte? O que você pensou ao apresenta-lá assim?

A música é muito presente na minha vida e na minha formação, cresci ouvindo música dentro de casa, e sempre prestando atenção às letras também. Colocar uma trilha sonora na história aconteceu de forma natural na minha narrativa e acho que acaba criando mais uma camada literária, foi um modo de acrescentar a poesia à minha prosa e sugerir um ritmo para a história. As cenas têm música na minha cabeça, quis compartilhar isso.

2 – Há situações na vida em que pegamos o caminho errado. E isso impacta o resto todo da nossa jornada. Foi assim com Diego, com Laura. Doloroso pensar que algumas decisões não têm volta. Você pensou nisso quando escreveu?

Penso que todos os caminhos são possíveis nas relações humanas e que nós fazemos escolhas diárias, que parecem óbvias e naturais, dentro da ética e do afeto familiar e amoroso, mas quando acontece uma situação extrema como essa traição, nos damos conta do quanto somos frágeis diante dos sentimentos que temos dentro de nós. Sempre é possível fazer movimentos que nos causem dor e aos outros, de um minuto para o outro tudo muda, “as águas ficam turvas” como diz o Gilberto Gil, na música Tempo Rei.

3 – Seu livro tem bastante sofrimento e você parece ser uma fonte de alegria. Como autora e obra podem ser tão opostos? Ou não?

Eu costumo brincar que sou uma pessoa de personalidade solar, mas com escrita soturna. Gosto de densidade, adoro suspense, terror e drama em livros e filmes, sou fã de psicanálise e filosofia, procuro ler muito e acho interessante o que a escrita me traz de possibilidades, em direções que não são óbvias, mas você não acha que há até um certo humor nos dramas da Laura?

4 – Você no fundo, acredita que não há um monstro? Que somos todos monstros e anjos?

Tem um personagem masculino que encarna sim uma espécie de vilão, monstro, o Diego, ele conduz uma relação abusiva, ele é manipulador e age de má fé. A Laura tenta contornar, justificar, como uma mulher que estava totalmente envolvida. Aí mora o perigo das relações abusivas, especialmente para as mulheres, justificar o que não se pode. Mas, os questionamentos da personagem nos levam ao conflito dentro de cada um de nós, aqueles sentimentos ruins e desejos não revelados. A história nos coloca diante da complexidade da natureza humana e do amor.

5 – O que para você é monstruoso? Onde vivem os monstros?

Fazer parte de uma sociedade que é historicamente racista, machista e cheia de abismos sociais é monstruoso pra mim. Mesmo que estejamos avançando, no ponto em que estamos ficam claras as escolhas que foram feitas antes de nós, então nos cabe jogar luz sobre os monstros e combatê-los, mesmo que estejam dentro de nós!

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