Texto: Simone Intrator
Foto: Divulgação
A jornalista, escritora e ativista Claudia Werneck, fundadora da ONG Escola de Gente, acaba de lançar seu 15o livro, o primeiro do Brasil com nove formatos diferentes de acessibilidade — e seu primeiro livro de crônicas. “Tia Zilda. Histórias de Inclusão” foi construído a partir de textos publicados na grande mídia, sobre os mais diferentes acontecimentos e reflexões da autora, todo misturado, “como deve ser a inclusão”, explica, mas com um elo entre eles: a defesa de Claudia de que a prática inclusiva é a base da participação democrática. E que, para efetivamente existir, é preciso que haja uma revolução sistêmica: “Tudo precisa ser construído ou reconstruído para dar conta das necessidades e dos desejos de pessoas que existem, e não para aquelas que gostaríamos que existissem. Praticar inclusão é sair dessa espécie de delírio coletivo de que a humanidade é de um jeito, sendo ela de outro! Somos uma espécie que não se enxerga nem se aceita como é”, conta Claudia nesta entrevista, em que fala também sobre por que o livro é distribuído e não vendido, e como pode ser usado em escolas, principalmente para estudantes da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Claudia já adianta que muitos textos ficaram de fora e por isso já planeja o “Tia Zilda. Histórias de Inclusão 2”. Nosso desejo é que até o próximo volume este texto também tenha nove recursos de acessibilidade.
JB em Folhas: Por que fazer, desta vez, um livro de crônicas?
Claudia Werneck: Estava com vontade de reunir minhas crônicas e artigos publicados aqui e no exterior há muito tempo, porque eles são bastante requisitados para entrar em concursos e fazer parte de livros didáticos por diversas editoras. O que me deu o start para preparar este livro, entretanto, li, em uma matéria, há mais ou menos dois anos, que a Ministra Sonia Guajajara, havia dito que o “Ninguém mais vai ser bonzinho, na sociedade inclusiva”, um livro que escrevi em 1997, era sua obra preferida. Isso me deixou muito feliz, porque eu a admiro muito. Nos aproximamos e por isso eu a convidei para escrever um dos prefácios deste livro. Na pesquisa para escrevê-lo, ficou muita coisa de fora, por isso, decidi que vou escrever “Tia Zilda. Histórias de Inclusão 2”!
JBemF: O livro todo é acessível em diferentes formatos. Você acha que a crônica como gênero textual é também mais acessível?
CW: Imagino que um livro com crônicas e artigos não acadêmicos, publicados em jornais como O Globo, Folha de S.Paulo, Jornal do Brasil, Uol, revista Pais&Filhos, entre outros veículos, seja mais acessível, sim. E, neste caso, a ordem não importa. É possível ler uma crônica do fim e depois voltar para o início. Fiz questão de misturar tudo, como deve ser a inclusão.
JBemF: Cada texto é muito único, mas há sempre um fio condutor ligando todas as histórias. Qual é esse fio?
CW: A minha crença de que o exercício cotidiano da inclusão é a base da participação democrática. Mas aqui faço uma ressalva: defendo a inclusão como uma revolução sistêmica, na qual tudo é construído ou reconstruído para dar conta das necessidades e dos desejos de pessoas que existem e não para aquelas que gostaríamos que existissem. Praticar inclusão é sair dessa espécie de delírio coletivo, em que imaginamos que a humanidade é de um jeito — e ela é de outro. Somos uma espécie que não se percebe e se aceita como é.
JBemF: Para quem você escreveu este livro? Acha que pode ser trabalhado em escolas?
CW: Escrevi este livro principalmente para a Educação de Jovens e Adultos, a EJA, pelo fato de o livro ter nove formatos acessíveis e falar de inclusão. A EJA é muito pouco valorizada e reconhecida pela sociedade como modalidade de ensino fundamental para dar oportunidades reais de pertencimento a pessoas adultas que têm deficiência e/ou que não conseguiram aprender a ler ou continuar estudando por algum motivo, e são inúmeros esses motivos, relacionados à desigualdade social, ao capacitismo e ao racismo.
Este livro foi feito e pode ser útil principalmente por meio de seus formatos acessíveis para ser trabalhado desde a educação básica até o ensino superior, sem dúvida, em sala de aula. Não conheço outra obra no Brasil sobre inclusão que dê tantas possibilidades, inclusive para formação de professores.
JBemF: Por que optar pela distribuição ao invés da venda?
CW: Acredito que a acessibilidade é também uma questão financeira e, por isso, na Escola da Gente, não cobramos nada de um beneficiário final. Todos os nossos projetos de Lei Rouanet oferecem teatro, livro, exposição, formação e oficinas, entre outros produtos culturais gratuitos. E este livro é um projeto de Lei Rouanet patrocinado pela Vale, pelo Itaú e pela Genoa Capital.
JBemF: É difícil fazer um livro com tantos recursos de acessibilidade?
CW:Muito demorado, trabalhoso, delicado e difícil sim. Tudo deve ser pensado, desde o orçamento. A WVA Editora e a Escola de Gente, dessa vez, criaram um formato novo para livros: o filme com legenda, Libras e linguagem simples. Para o Braile, disponibilizamos o formato acessível DOC, de modo que qualquer instituição ou empresa possa imprimir o livro nesse formato, em qualquer quantidade, e dá-lo. Só não poderá vendê-lo.
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