Uma mulher que muda o foco da sua carreira e decide se dedicar a amplificar as vozes de minorias sem contato com a mídia, a maioria mulheres, em zonas de desastres e conflitos internacionais. A mulher em questão é Fernanda Baumhardt, que conta a sua história e de outras mulheres no livro “Vozes à Flor da Pele – uma humanitária brasileira em busca de propósito” que será lançado pela Editora Lacre em 19 de agosto, sábado, Dia Mundial Humanitário (World Humanitarian Day), a partir das 16h, na Janela Livraria, no Jardim Botânico, Rio de Janeiro. A data foi escolhida pela ONU por ter sido o dia em que, em 2003, um ataque terrorista à sede da instituição, em Bagdá, matou 22 profissionais, incluindo o chefe da Missão da ONU no Iraque, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello. A autora vai conversar com o público e destacar algumas partes do livro, além de expor imagens feitas por ela.
Fernanda passou dois anos selecionando material para o livro em um acervo com mais de oito mil fotografias e cerca de 300 horas de filmagens. Ali estão depoimentos de pessoas de diferentes religiões e origens, que foram encorajadas pela autora a segurar o microfone, soltar a voz, filmar suas histórias e sugerir soluções humanitárias que possam gerar mais impacto em suas vidas, a partir de uma simples pergunta: quem sou eu? Na curadoria deste conteúdo e na edição da narrativa, a autora contou com a colaboração da jornalista, e ex-editora da revista Marie Claire, Rosane Queiroz. O prefácio é assinado por Maria Paula Carvalho, jornalista que foi da TV Globo e agora está baseada na Rádio France Internationale, em Paris. A opção pela editora Lacre, de Flávia Lamas Portela veio depois de muita busca e negativa e para Fernanda foi a melhor opção. “Ela conseguiu identificar o potencial do livro e das histórias”, comenta.
As histórias são muitas e comoventes e o livro tem como diferencial mesclar a das missões de Fernanda com sua vida pessoal. Em ritmo de aventura, e às vezes beirando uma “série” de TV, ela revela os bastidores do mundo humanitário, um setor, em geral, distante e romantizado no imaginário das pessoas. Nas 244 páginas estão expostos, sem filtro e com coragem, seus dilemas nos relacionamentos amorosos e as difíceis escolhas que teve que fazer pelo caminho. Sobressaem-se também os depoimentos de 11 mulheres – a maioria migrantes e refugiadas – entrelaçadas à voz e questionamentos da própria autora durante a sua trajetória.
Entre as personagens, destaque para Maryam, a mulher por trás da burca, que Fernanda conheceu em uma missão em Herat, no Afeganistão, em 2018. Seu trabalho era treinar um grupo de afegãos para contar e filmar suas histórias de deslocamento forçado, em uma comunidade afetada pelos conflitos e pela extrema seca que assolava o país na época. A jovem estava calada no gruo e mal interagia, até que, de repente, surpreendeu a todos, como o livro descreve:
– Maryam, atraída como um magneto, deu um salto, levantando a sua burca como grandes asas azuis e aterrou atrás da moça de véu preto que apertava todos os botões da câmera. Com foco de águia, ela buscou o visor. Enxergou a imagem da sua colega, em pé, de pescoço erguido, segurando aquele micro- fone firme e com as duas mãos. Nitidamente, ela segurava o seu próprio ser.”
A gaúcha que atualmente mora em Genebra, mas que está em ano sabático, por conta do lançamento o livro, está satisfeita com o resultado final. “Minha missão de vida é amplificar as vozes dessas comunidades, para que sejam ouvidas nas mesas de decisões humanitárias e recebam as respostas adequadas. Trata-se de fortalecer a comunicação e participação comunitária como base de todas as ações humanitárias (Comms is Aid)”, afirma.
Sobre a autora
Jornalista formada pela Unisinos (RS), com mestrado em Gestão Ambiental pela Universidade Livre de Amsterdam, a gaúcha Fernanda Baumhardt iniciou sua carreira profissional na área de publicidade, em cargos executivos nos canais Bloomberg e CNN. Em 2007, pediu demissão de seu posto na CNN, em Los Angeles, para iniciar sua jornada de propósito e trabalhar em prol do planeta. Com certificação em Comunicação Humanitária pela Universidade de Genebra (2014), ela atuou em diferentes cargos e funções em 40 missões e projetos humanitários em comunidades de mais de 30 países, junto a diferentes organizações como o Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho, diversos organismos das Nações Unidas (ONU) e Conselho Norueguês para Refugiados (NRC).
Fernanda é uma referência internacional na temática de Participação Comunitária em respostas humanitárias e dá aulas e treinamentos a respeito no mundo inteiro, incluindo durante cinco anos foi palestrante convidada no Mestrado de Ação Humanitária da Universidade de Genebra. Também é considerada uma das 25 maiores especialistas em vídeo participativo do mundo, tendo treinado diretamente centenas de comunidades afetadas por desastres. Fala quatro idiomas, já esteve em mais de 65 países e considera-se uma cidadã de um mundo sem fronteiras. Em 2009, recebeu em Nova York o prêmio “Imagens e Vozes de Esperança”, que reconhece profissionais de comunicação que atuam no mundo como agentes de mudança.
Vozes à Flor da Pele – uma humanitária brasileira em busca de propósito
Fernanda Baumhardt, com Rosane Queiroz
Editora Lacre
ISBN: 978-65-89884-21-7
244 Páginas
R$62,00
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