1 de maio de 2025
JORNALISMO EM QUADRINHOS

O livro em quadrinhos “Palestina”, escrito e desenhado por Joe Sacco, traz  à tona, de maneira  inovadora, as vivências jornalísticas do autor na Cisjordânia – país para onde, devido à perseguição pelo Estado de Israel, muitos palestinos migraram – e na Faixa de Gaza. Os locais foram  visitados por Sacco de dezembro de 1991 a janeiro de 1992. Na época, ocorria a Primeira Intifada (1987-1993), e o quadrinista-jornalista coletou relatos de 100 palestinos e judeus para construir a obra, que foi  lançada em 1993 e segue sendo imprescindível e atual em 2025. 

Desde a instauração do Estado de Israel, em 1948, iniciou-se o conflito conhecido como nakba, ou “catástrofe”, em portugês. Foi a partir desse evento que se iniciou o “Êxodo Palestino”, quando, segundo a ONU, 700 mil palestinos migraram e mais de 400 vilas da região foram destruídas. Em 2023, a ONG Human Rights Watch (“Patrulha dos Direitos Humanos”) fez um levantamento e concluiu que mais de 18.700 palestinos, entre eles uma enorme quantidade de civis, e cerca de 7.800 crianças foram mortos de 7 de outubro a 12 de dezembro de 2023. Além disso, o historiador marroquino Mohammed Nadir, numa entrevista para o jornal independente Brasil de Fato, alegou que  2024 vai entrar para a história como o ano de uma catástrofe humanitária: não se via tanta gente sendo morta desde o Genocídio de Ruanda, 30 anos antes. Mais de dez anos antes, Sacco percebeu que precisava contar um lado da história que muitas vezes não era retratado na grande mídia – e daí surgiu a obra literária. 

“Foi durante o período de punho de ferro, durante a ‘política de ossos quebrados’. Éramos algemados e vendados e eles nos batiam no ônibus. Quando saímos, tinha um corredor polonês de soldados. Dois prisioneiros tiveram os braços quebrados. Então, eles mandavam que fizéssemos sons de animais e imitássemos  o barulho de trens. Nos bateram até concordarmos em fazê-lo. Alguns soldados faziam churrasco perto dali. Passei 18 dias em Dhahriya antes de receber uma ordem de prisão administrativa por seis meses. Fui levado a uma tenda por dois ou três dias, mas logo fomos transferidos a uma cela, que foi uma espécie de inferno para mim. Tinha três metros por quatro, com 21 pessoas. A porta de metal refletia o sol a partir do meio-dia. A ventilação era péssima. Só um buraco do tamanho de uma moeda na porta, para injetar gás caso houvesse uma revolta”, relatou Yusef, um dos entrevistados para a obra “Palestina”, sobre sua detenção administrativa (manobra usada pelo exército israelense pela qual aprisionam um colonizado por 6 meses sem julgamento, podendo ser renovado a cada semestre, ainda sem julgamento).

A obra sugere uma forma alternativa de compreender o massacre. É atual, necessária e real. Hoje, em parceria com o quadrinista judeu Art Spiegelman, autor de MAUS (outra obra imprescindível e vencedora do prêmio Pulitzer), Sacco produz uma HQ que aborda o tema da Faixa de Gaza. É possível ter uma “palinha” da obra na edição de março de 2025 da revista Piauí

Fontes:
Brasil de Fato
Human Rights Watch
Autor: Joe Sacco
Editora: Veneta
Valor: 113,00
Venda disponível no site da Amazon.

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