Nossa terra tem palmeiras e não só as Imperiais, trazidas de longe e plantadas no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. O ator Marcos Palmeira fincou raízes no bairro há mais de 20 anos e costuma dizer que daqui só sai para o mato, ou melhor, para sua fazenda Vale das Palmeiras.
Foi exatamente isso que ele fez durante a quarentena: passou o primeiro mês na cidade e desde abril está direto em Teresópolis. Nos últimos quatro meses veio ao Rio apenas duas vezes para encontrar a filha Júlia, de 12 anos, e resolver coisas práticas que não podia fazer de lá.
Criar cavalos foi o que o motivou a comprar a fazenda que, em 1997, já produzia legumes e verduras. Marcos, entretanto, não demorou a descobrir que ninguém comia o que plantava, pois, segundo os próprios trabalhadores, o costume ali era utilizar muito ‘veneno’. Com isso, acabou interessando-se pela cultura de orgânicos e fazendo dela uma bandeira, sendo hoje um exemplo bem-sucedido no setor.
– Estou gostando muito da administração de Teresópolis, que exige o uso de máscara e adotou o sistema de rodízio para as pessoas saírem, de acordo com o CPF de cada um – admite Palmeira, que está aproveitando para andar de cavalo – Bicicleta só no Rio.
Com a paralisação das atividades culturais, os filmes “Barulho da noite”, de Eva Pereira, “Intervenção”, de Rodrigo Pimentel, e “Boca de ouro”, de Daniel Filho, ainda não têm data de lançamento – os dois últimos tiveram Première no Festival do Rio 2019. Nessa temporada na serra fluminense, ele continua fazendo pilates, só que agora via internet e dedicando-se à adaptação do livro “Desamores”, com o autor Pedro Ayres. On-line também é seu mais recente trabalho como ator na websérie “Sala de Roteiro”, de Antonio Prata e Fernando Meirelles, que mostra cinco roteiristas (além dele, fazem parte do elenco Andréa Beltrão, Mariana Lima, Enrique Diaz e William Costa) discutindo, por meio de vídeo-chamada, o rumo de uma série que já tem várias temporadas. A trama brinca com acontecimentos da política brasileira, mostrando o quão absurda pode ser a realidade.
Política, para Marcos Palmeira, é coisa séria. Apesar de ter sido sondado para ser candidato a vice-presidente na chapa de Marina Silva, em 2018, sua maior contribuição é no debate de questões ambientais – participando de eventos como Green Rio e LivMundi – e na produção de orgânicos, tendo, inclusive, recebido o Prêmio Faz Diferença, em 2010.
– A pandemia revelou que o planeta estava doente. Todo mundo tem que entender que não será possível viver da mesma forma que estávamos vivendo antes do coronavírus. Não é normal não ter saúde para todos. Não é normal não ter escola para todos. Não é normal não ter moradia para todos – reflete ele, que se considera um consumidor consciente.
Para o ator, será preciso repensar o consumo de bens materiais, alimentos, roupas, viagens, etc. Ele acredita que o crescimento do consumo de produtos orgânicos tende a se expandir para outros segmentos e estimular os pequenos produtores, aqueles que estão mais próximos da gente. O período na fazenda serviu também para mostrar o que e quem é de fato essencial. Uma das coisas de que ele mais sente falta é dos encontros presenciais com os amigos e da cervejinha no bar Rebouças: “A gente acaba descobrindo poucos amigos de verdade”, observa.
Marcos Palmeira reconhece que todo mundo precisou passar por uma adaptação e não se sente à vontade para dizer como será depois que essa crise passar. De sua parte, adianta que pretende reavaliar todos os seus deslocamentos: “Alguns deles são completamente desnecessários, é preciso lembrar da emissão de gás que isso provoca”, alerta.
– O futuro é hoje. O planeta não tem mais tempo, precisamos nos perguntar que consumidor nós queremos ser, que tipo de cidadão queremos ser – conclui.
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