A maneira como as pessoas leem notícias mudou. O ato de ir à banca de jornal comprar um periódico é coisa cada vez mais rara nos dias de hoje. A transformação já estava acontecendo com a migração dos leitores para o universo digital, mas a pandemia acelerou ainda mais o processo. Um exemplo é o próprio JB em Folhas, que circulou em versão impressa de 2003 até o início de 2020 e, há mais de um ano, adotou exclusivamente o formato digital.
Os jornaleiros também sentiram o impacto dessa mudança de hábito e correram atrás para acompanhar os novos tempos. Com isso, o leque de produtos que já incluía balas, sorvetes, cigarros, pequenos brinquedos, recarga de celulares, além de jornais e revistas, foi ampliado. Atualmente, as bancas funcionam como lojas de conveniência. Foi justamente isso que salvou a categoria de maiores prejuízos. A venda de bebidas, alimentos, cigarros, recarga de celulares, entre outras coisas, levou as bancas a serem consideradas como serviço essencial, garantindo a autorização da Prefeitura para a reabertura do negócio logo após o período de quarentena inicial.
Um bom exemplo é a banca do Luiz da Silva Nascimento, em frente à loja da Ortobom, que desde 2007, oferece refrigerantes, sorvetes, sandálias de borracha e revistas nacionais e importadas. Como ela, as bancas do Humaitá, em frente ao posto de triagem dos Correios, e a da esquina das ruas Jardim Botânico e Maria Angélica resistem no cenário, agregando novidades à tradição do setor.
Ao todo, o Sindicato dos Vendedores de Jornais e Revistas do Estado do Rio de Janeiro (Sinjor-RJ) registra mais de 2.000 bancas autorizadas e ativas na capital fluminense. O difícil é conseguir tirar licença para uma nova banca, especialmente na Zona Sul. A solução que vem sendo adotada para renovar os negócios é arrendar as bancas já existentes. Foi o que Alcides Abreu da Silva fez há oito meses com a banca quase em frente ao Bar Jóia (foto acima), fechando um contrato por cinco anos, podendo renovar por mais cinco e, ao final do prazo, ter preferência de compra. Ele estima que vende em torno de 20 jornais por dia, “em geral para pessoas mais velhas”, atesta. O grosso de suas vendas vem de bebidas, cigarros e biscoitos industrializados com preços, segundo ele, competitivos.
– Os cigarros não dão lucro. Não podemos mais vender avulso e nem emprestar isqueiro, mas eles atraem clientes, que acabam comprando uma bala ou um incenso. O que vende bem é tabaco, tenho uma boa variedade para atender, principalmente, um público mais jovem, entre 25 e 40 anos, que procura um produto mais natural, sem ser industrializado – explica Alcides, que além dessa, tem outras duas bancas, uma em Ipanema e outra em Botafogo, que também foram renovadas.
Investir em iluminação e pintura foi a estratégia adotada por Bruno Bertrand para atrair novos clientes. Ele assumiu uma banca no Baixo Gávea recentemente e vem fazendo a festa das crianças do entorno com balas e figurinhas. O faturamento maior vem no final do dia, com a venda de bebidas. Embora as bebidas não possam ser consumidas no local, a banca acaba concorrendo com os ambulantes e os próprios estabelecimentos da praça Santos Dumont.
Uma nova tendência do mercado é focar em um determinado nicho. Foi essa a estratégia adotada por Pedro, cuja banca está situada ao lado da estátua em homenagem ao escritor Otto Lara Resende. Ele modernizou a instalação, com vitrines nas laterais, e especializou-se em acessórios eletrônicos. O mesmo segmento é explorado também por Magdália dos Santos, da mais nova banca da região, aberta há apenas quatro meses, na esquina da rua Frei Leandro com a JB. Lá, contudo, a variedade de produtos é bem maior. Além de capas e cabos de celulares, ela vende doces, bebidas, máscaras, óculos de grau, relógios e bijuterias. Magdália destaca que as publicações do segmento infantil são as que que geram maior movimento na banca: “Jornais mesmo vendo apenas uns três ou quatro de manhã”, admite.
Para ter licença para funcionar, a banca precisa vender jornais e revistas. Apesar da lei, alguns comerciantes enfrentam dificuldade em conseguir que as editoras deixem publicações em consignação em seus pontos de venda. A banca da rua Tasso Fragoso, por exemplo, vende balas, bebidas, cigarros, bonés, bijuterias, máscaras e outros acessórios, mas nenhuma publicação. O ponto já estava esvaziado desde os tempos em que era tocado por Cristina, casada com o Beto, da banca em frente à Capricciosa. Os dois abandonaram o mercado antes mesmo da pandemia se instalar.
Banca do Luiz: 2540-7912 (em frente à Ortobom)
Banca do Alcides: 97318-7670 (ao lado do Bar Jóia)
Banca do Pedro: 99954-5166 (esquina das ruas JB e Pacheco Leão)
Banca do Bruno: 98852-8522 (Baixo Gávea)
Banca Humaitá 244: 2526-2338 (em frente ao posto de triagem dos Correios)
Banca Humaitá 109: 2527-5311 (esquina da rua Desembargador Burle)
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