6 de maio de 2021
OS 75 ANOS DE UMA JOIA DA BOEMIA CARIOCA

O melhor chope do bairro é como vinho, só melhora com passar do tempo. Este ano, o Bar Jóia está celebrando 75 anos de sua fundação. Principal e mais antigo ponto da boemia no Jardim Botânico, o lugar faz parte da memória afetiva da região. A efeméride foi lembrada pela museóloga Ana Cristina Vieira, no primeiro programa da série JB em Folhas e Histórias, “Do Parque ao Jardim”, disponível no canal do JB em Folhas no YouTube.

O Bar Jóia foi fundado em 1946 por Seu Souza e Dona Nair, que eram proprietários também de uma papelaria ali ao lado, onde hoje funciona a Kopenhagen. Segundo Ana Cristina, desde o começo, o Joia era um bar diferenciado. Além de produtos a granel, tipo secos e molhados, o bar vendia também bebidas nacionais e importadas, bacalhau da Noruega, chocolate suíço e temperos, atraindo uma clientela seleta. A cantora lírica Gabriela Besanzoni, esposa do empresário Henrique Lage, por exemplo, costumava mandar seus empregados ou ir pessoalmente ao Jóia, tendo se tornado amiga do casal. Outro cliente ilustre do lugar foi o Dr. José Mariano, proprietário do antigo Solar Monjope, que costumava tomar seu whisky por lá.

A fama de melhores chope e pizza do bairro vem do tempo do Seu Souza e segue atraindo clientes ilustres ou não até hoje. Infelizmente, não há documentos, fotos ou registros da história do bar, apenas lembranças dos moradores. O ator Davi Pinheiro começou a frequentar o bar com 17 anos – na época só para tomar sorvete, depois da pelada na Praça Pio XI – e recorda-se que o balcão era diferente, em forma de U. Nos anos 1970, a turma do teatro O Tablado costumava bater ponto após aulas e ensaios, hábito que seguiu inabalado mesmo após a venda do estabelecimento para os irmãos Francisco, Manoel e Cristóvão Ferreira Inácio com Manoel Pires, em 1973. Apesar da localização barulhenta e das instalações simples, o lugar sempre foi frequentado por celebridades, do cineasta Paulo César Sarraceni aos músicos e compositores Tom Jobim e Chico Buarque. Em suas mesas surgiram ideias simples e mirabolantes, do nome do bloco de carnaval Suvaco do Cristo ao emblemático “Abraço da Lagoa”, da campanha de Fernando Gabeira a governador do Rio de Janeiro, em 1986.


Em 2010, o bar foi reformado e rebatizado de Jóia Carioca. A sociedade foi desfeita em 2012, e desde então o estabelecimento é comandado por Ivan Pereira. Dos antigos funcionários, só restou Antonio Maia (foto), que começou a trabalhar no bar em 1980 e, atualmente, é responsável, entre outras coisas, por manter a fama do pão na chapa do lugar. Antonio guarda boas lembranças de Chico Buarque, que passava pela manhã para tomar água de coco e puxava um dedo de prosa, e de Tom Jobim, presença certa no final da tarde, quando tomava um chopinho depois de passear pelo Parque Lage.

*Por Betina Dowsley

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