Quem não conhece, não sabe o que está perdendo. Quem já foi, não esquece. Aquela majestosa construção transparente no meio do verde, aquele tapete vermelho seguindo pela mata anuncia: vem aí, mais um Ópera na Tela. O evento abre sua sétima edição na próxima sexta-feira, dia 15/9, no Parque Lage, para exibir, através de um telão gigante, espetáculos marcantes na história do gênero, realizados em diversas casas espalhadas pelo mundo. Ao longo de dez dias serão apresentadas modernas (e inéditas) versões de óperas como “Hamlet” e “Romeu e Julieta”, de Shakespeare, musicadas por Ambroise Thomas e Sergei Prokofiev, respectivamente, e “Carmen”, de Georges Bizet. E na tenda montada no platô atrás da Escola de Artes Visuais, cadeiras e espreguiçadeiras dividem o espaço com um bar que cria um clima ideal para assistir o espetáculo.
A diva desta edição é a mezzo soprano francesa Eléonore Pancrazi, que fará uma récita na abertura do evento, na sexta, dia 15//9, a partir das 19h. O Festival acontece até domingo (24/9), com início às 19h, e os ingressos estão à venda pelo Sympla, a partir de R$15. A programação completa você pode conferir no site.
Emmanuelle Boudier, diretora geral e curadora do Festival conversou com o JB em Folhas sobre as novidades do Ópera na Tela deste ano e sobre a trajetória do evento.
Emmanuelle comemora o sétimo ano do evento
JB em Folhas – Como surgiu a ideia de fazer um festival de ópera no Rio de Janeiro e, mais especificamente, no Parque Lage?
Emmanuelle Boudier – Eu e meu marido, Christian, gostamos muito de arte lírica e de música e quando viemos para o Brasil, percebemos que havia uma programação muito escassa nesse universo, mesmo no Theatro Municipal. Além disso, ir à ópera é caro e, nesse sentido, tentamos arrumar uma maneira de democratizar essa arte. A partir daí, começamos a pensar em um Festival com espetáculos gravados. Conseguimos viabilizar o evento a partir de 2017 e o Parque Lage foi uma escolha natural pela sua história, residência de uma cantora lírica no passado e a sua estrutura conversa muito com o erudito. Não consigo pensar em outro espaço. É o local ideal.
JBemF – Quais são as novidades desta edição?
E.B – Teremos nove noites, com uma obra diferente a cada dia e pela primeira vez, vamos passar um filme de ficção, chamado “Il Boemo”, de Petr Vaclav. A história gira em torno de Josef Myslivecek, um compositor tcheco, contemporâneo a Mozart, que escreveu mais de 20 óperas, mas acabou caindo no esquecimento. Apesar de não ser uma ópera propriamente dita, queremos que o público conheça as suas composições, que fizeram sucesso na Veneza do século XVIII.
JBemF – Vocês têm uma programação paralela, que vai acontecer em outros pontos da cidade. Isso é feito para atender a uma demanda, ou para formar um novo público?
E.B – Nós fazemos as exibições ao ar livre e, posteriormente, enviamos os filmes para que sejam exibidos no circuito, no período de um ano. Durante o Festival, também acontecerão quatro palestras gratuitas no Centro Cultural Laura Alvim, em Ipanema, que são sempre relacionados aos espetáculos exibidos, ministradas pelo professor e musicólogo Rodolfo Valverde, da Universidade Federal de Juiz de Fora. Também teremos uma programação no Estação NET Botafogo, com aulas voltadas ao público infantil e masterclasses, no Theatro Municipal, com o coach francês Raphaël Sikorski, que selecionou alguns alunos através de um edital previamente realizado.
A cada ano, aumenta o publico em busca do Ópera na Tela
JBemF – Como você avalia os sete anos de “Ópera na Tela”?
E.B – Em todos anos, convidamos escolas, públicas para algumas das palestras, disponibilizando passagens para os que não podem arcar com o custo do transporte público e buscamos inovar na programação Em 2021, fizemos uma versão de “Les Indes Galantes”, de Rameau, com dançarinos de hip-hop, por exemplo. Tudo isso contribui para a formação dessas crianças, que saem do evento encantadas. Em algumas edições promovemos visitas de jovens ao Theatro Municipal e é uma experiência incrível, pois eles saem de lá encantados. Alguns nunca tinham ido ao Centro, imagina. A cada ano que passa, conseguimos ver o público mais diversificado, principalmente nas últimas duas edições. No início, era algo muito voltado para pessoas mais velhas, que moravam próximas ao bairro e estamos acompanhando esta mudança. Queremos mostrar que a ópera não é somente um espetáculo com vestidos de época, mas discute assuntos muito atuais, como o papel da mulher na sociedade.
“Carmen” não pode faltar na programação
JBemF – Há óperas que não podem faltar na programação. Quais são?
E.B – “Carmen” e “Romeu e Julieta”, por exemplo, são clássicos que têm que estar na programação. Mas, sempre buscamos versões recentes para exibir no Festival. Para “Romeu e Julieta”, nós selecionamos um espetáculo realizado em junho deste ano, comandado por Thomas Jolly, que é o diretor da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris. Queremos sempre mostrar algo inédito no Brasil. Neste ano, minhas montagens favoritas são “Madame Butterfly”, muito delicada, e “Rigoletto”, que ganhou uma roupagem moderna, com um cantor da Mongólia no papel principal, um dos mais poderosos que vi nos palcos. Foi muito difícil escolher, está tudo lindo!
FESTIVAL “ÓPERA NA TELA”
Parque Lage – Rua Jardim Botânico, 414
De 16 a 24 de setembro, a partir das 19h
Ingressos a partir de R$15 pelo Sympla
0 comentários