Jornalista, escritora, roteirista, produtora cultural, apresentadora e, antes e acima de tudo, atriz! É assim que Patricya Travassos mais se identifica. “Desde pequena tinha fascínio por isso. Hoje me vejo como uma atriz que cria, inventa personagens e escreve para si mesma”, reflete ela, enquanto se prepara para a estreia da peça “Duetos”, no dia 5 de agosto, no Teatro das Artes (Shopping da Gávea), ao lado de Marcelo Faria e com direção de Ernesto Piccolo.
Patricya entre seus atuais parceiros teatrais. Foto: Claudia Ribeiro
Moradora da Gávea há mais de 20 anos, Patricya acaba de vender seu antigo apartamento e aguarda a conclusão das obras de seu novo endereço no mesmo bairro. Diferente de muita gente, ela passou a pandemia “na serra da Marquês de São Vicente”: “Vivi experiências maravilhosas e raras no período, como ler à tarde, ver palestras, assistir a aulas on-line, cozinhar… Mas me dei conta também que o apartamento era muito grande só para mim, especialmente na hora da faxina, que dividia em dois ou três dias”. A atriz chegou a procurar apartamento em outros bairros da região e ficou feliz em encontrar no local de sua preferência, na parte baixa da Gávea.
– O antigo apartamento, perto do Parque da Cidade, é ótimo, voltado para a mata, mas eu queria poder sair mais a pé de casa, resolver tudo sem precisar pegar carro. Eu gosto do clima familiar daqui, além do mais queria ficar perto do meu filho e das minhas irmãs – justifica-se.
O tal clima familiar vai além do seu próprio núcleo, é uma questão de cruzar com as mesmas pessoas nas ruas e reconhecê-las, mesmo sem conhecer cada uma pessoalmente. Para ela, a Gávea é um bairro pequeno e antenado, que tem tudo, mas não é de passagem, como avalia o vizinho Jardim Botânico. A reabertura da saída da Lagoa-Barra para a rua Marquês de São Vicente, que acarretou no aumento do fluxo de automóveis na única via de acesso ao bairro, é um risco: “Entendo que é importante para a cidade, mas a Gávea só tem uma rua de acesso”, observa, desejando a abertura da estação de metrô no bairro.
Nos dois centros comerciais da Gávea, Patricya encontra quase todos os produtos e serviços de que precisa. No Gávea Trade Center, vai ao podólogo, faz acupuntura e compras na delicatessen Ginsen. Quase todo o resto fica no Shopping da Gávea: academia, cabeleireiro, banco e várias opções culturais.
– O Shopping tem cinco salas de cinema e quatro dos melhores teatros da cidade, que representam o sonho de consumo para qualquer artista – constata.
Mais do que sentar para beber e petiscar, Patricya gosta de sair para jantar. A mudança para a rua Major Rubens Vaz vai permitir a ela ir a pé ao Guimas, ao Árabe da Gávea (agora fora do centro comercial), aos restaurantes da rua dos Oitis e à Boutique do Mar, que ainda não experimentou. Cliente da Tito Orgânicos, ela busca uma explicação para encontrar oito farmácias em dois quarteirões.
Foi uma alegria para a atriz voltar a ir à feira da praça Santos Dumont e ser reconhecida pelos feirantes, inclusive dois ex-garotinhos, que se lembraram da personagem Mary Matoso, da novela “Vamp”, que foi ao ar pela primeira vez há mais de 30 anos. Antes e depois de 1991, contudo, Patricya Travassos desempenhou inúmeros papéis. Entre seus trabalhos mais recentes estão o filme “Incompatível”, que estreou nos cinemas em abril deste ano, e a série “O Dono do lar”, disponível na Globoplay. Já a série de 40 capítulos “Minha mãe é uma peça”, do amigo Paulo Gustavo, nem chegou a ser gravada.
Em mais de 40 anos de carreira, foram 35 novelas, 10 filmes, nove peças de teatro, além de ter escrito três livros e mais de 30 músicas. Começou nos anos 1970, com a trupe teatral Asdrúbal Trouxe o Trombone, ao lado de Regina Casé, Luís Fernando Guimarães, Perfeito Fortuna e Evandro Mesquita. Na década seguinte, descobriu um outro talento: compôs músicas e dirigiu espetáculos da Blitz. Paralelamente, assinou contrato com a Rede Globo e criou e escreveu o programa “Armação Ilimitada”, foi roteirista do humorístico “TV Pirata”, além de ter atuado em diversas novelas da emissora, sendo sua mais recente participação neste formato em “Espelho da Vida” (2018).
Com Regina Casé, no início da carreira; na época do “Alternativa Saúde” e na novela “Espelho da Vida”; e dois tempos com a trupe do Asdrúbal Trouxe o Trombone. Fotos: acervo pessoal.
De lá para cá, não faltaram trabalhos também no teatro e no cinema. Uma das coisas com a qual se identificou muito e possibilitou combinar seu lado de jornalista com o de atriz foi o papel de apresentadora, à frente do programa de canal de TV fechado “Alternativa Saúde”, ao longo de 14 anos.
– Eu já me interessava e conhecia vários assuntos abordados no programa. Sempre gostei de escrever, de entrevistar pessoas e a rotina de gravações ainda dava para conciliar com o cotidiano do teatro que eu gosto, de trabalhar à noite e ter o dia para fazer outras coisas – afirma a apresentadora, que acaba de descobrir mais um dos segredos de morar perto do Baixo Gávea: ouvir o sino do Convento das Clarissas tocar quatro vezes ao dia.
*Por Betina Dowsley
Foto de abertura: Chris Martins
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