12 de janeiro de 2023
PRAÇA SANTOS DUMONT,  O CARTÃO DE VISITAS DA GÁVEA

Há quem diga que a Gávea é o ponto final da Zona Sul carioca. Outros preferem achar que é o começo.  Mas independente do caminho por onde se chega ao bairro, o portão de entrada é a Praça Santos Dumont, que recebeu este nome em homenagem ao inventor do 14-Bis. Um busto do aviador divide o espaço junto com uma estátua do médico e político Clementino Fraga. Mais do que uma (grande) área de lazer, a Santos Dumont é um lugar de várias tribos, o palco dos acontecimentos da região.

A Santos Dumont quando ainda era conhecida como praça das Três Vendas

Já estava no DNA do logradouro ter sua utilidade para a comunidade. Durante o século XIX, o espaço era conhecido como Largo das Três Vendas, alusão às três mercearias ali existentes, encarregadas do abastecimento do bairro. Na época, o principal ponto de referência era a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, erguida entre 1852 e 1857 – que, aliás, existe até hoje, no começo da rua Marquês de São Vicente. Tempos depois a praça mudou de nome, em homenagem ao então Presidente da República, Arthur Bernardes. E só a partir de 1932 passou a ser conhecida como Santos Dumont.

Foi Manuel dos Anjos Vitorino do Amaral, morador e comerciante da área, o grande empreendedor da região. No início do século XX, com a chegada de grandes fábricas e a consequente proletarização da área, ele introduziu mudanças expressivas na então freguesia, que passou a ter, além da Igreja e de um hotel de sua propriedade, a grande vila operária Vila Orsina da Fonseca, onde trabalhadores das fábricas adjacentes passariam a viver.

O tempo passou e a Santos Dumont atualmente é conhecida no mundo todo. Seja por conta do Jockey Club Brasileiro, com suas corridas de cavalo e seus eventos, ou do seu pólo gastronômico, com destaque Braseiro da Gávea, que atende diariamente turistas de todos os cantos. A loja de discos Tracks também recebe colecionadores e artistas de vários bairros, por sua exclusividade em vender CDs, vinis e livros raros. O logradouro tem sua própria programação que inclui feiras para todos os gostos: na sexta é possível ver artistas como Cissa Guimarães e Dadi circulando pelas barracas de frutas e legumes; enquanto no domingo a Feira de Antiguidades reúne, religiosamente há mais de 30 anos, a turma que aprecia uma raridade no seu entorno.  E ainda tem os eventos ocasionais, como o Choro na Rua e A Junta Local, que promovem agradáveis encontros em torno de comida, serviços e cultura. Atualmente vem crescendo o número de foodtruck que colocam suas mesas na praça no final de semana, como o Espírito de Porco e o novo Gira Gira, que promove sessões de jazz às quintas.

O Choro na Rua e a Junta Local movimentam a praça, além do comércio local.

Com 9.600 m2, a praça faz parte da rotina dos moradores da região e conta com diferentes áreas de lazer no mesmo espaço, como parquinho para as crianças, espaço para os jovens, com mesas de ping pong e futmesa e aparelhos de ginástica. Até os cachorros conquistaram um espaço só deles, o Parcão.  A iniciativa foi da moradora Gabriela Carvalho, que depois de ganhar de presente a cachorrinha Bibi, teve a ideia de criar o espaço e procurou a Associação de Moradores e Amigos da Gávea (AMAGávea) e a Subprefeitura da Zona Sul. Junto com Luiza Maria, sua prima e integrante da Associação, ela fez um abaixo assinado e conseguiu assinaturas para tirar o Parcão do papel.  No começo, a falta de verba foi o maior problema, mas elas conseguiram uma parceria com o supermercado Zona Sul, que contribuiu com o material necessário para a obra. E em dezembro de 2016 o Parcão Gávea foi oficialmente inaugurado, provocando uma transformação na praça e nos moradores.

–  O Parcão é muito mais do que um espaço para os cachorros e sim um ponto de encontro dos moradores. Com isso, nos aproximamos dos vizinhos e até formamos um grupo, onde dividimos custos para cuidar do espaço, pagando alguém fora da Prefeitura para limpar a área. – conta Gabriela que virou a síndica do Parcão.

Mas quem vê a praça hoje, cuidada e com programação cultural, não sabe que até quatro anos atrás a história era outra. Por muito tempo o logradouro esteve abandonado e sofreu com o descaso das autoridades públicas. O local era mal iluminado, a grama não era cortada e as grades estavam sem pintura, os bancos deprededados e alguns canteiros sem grade. Até que a AMAGávea decidiu adotar e fez um trabalho de revitalização no espaço, em parceria com a prefeitura do Rio de Janeiro.  Atualmente a Secretaria de Conservação está fazendo melhorias no calçamento e o policiamento é constante, tanto da Guarda Municipal quanto da PM.

Luiza Maria lembra bem dessa época. Moradora da Gávea desde que pequena, ela, – que é engenheira de formação e agora aposentada – decidiu se tornar membro da AMAGávea em 2015,  justamente por conta do abandono da praça.  

-Deu trabalho até colocar tudo em ordem. Depois do Parcão, resolvemos mudar a Academia da Terceira Idade de lugar e criamos um espaço para os jovens, com futmesa e  ping pong, que acaba sendo aproveitado por toda a família. No parquinho também fizemos melhorias e pintamos tudo novamente – afirma a atual vice-presidente da Associação. 

Agora o foco está na área central da praça onde tem o chafariz, que foi desligado há anos por uso indevido. De acordo com Luiza, várias alternativas foram pensadas para se utilizar melhor o espaço e encaminhadas para a Prefeitura.  “A decisão final é do Eduardo Paes. Vamos aguardar”, finaliza.

1 Comentário

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