Ian Birkeland
Diz o ditado que “ser mãe é padecer no paraíso”. Mas, e ser pai? O dia deles é sempre no segundo domingo do mês de agosto e há várias versões para a origem da celebração. Há registros de que a data tenha sido criada há mais de quatro mil anos, na Babilônia, quando Elmesu, filho do rei Nabucodonosor, teria escrito o primeiro cartão de Dia dos Pais. Já no Brasil, o surgimento é atribuído ao publicitário Sylvio Bhering e o primeiro registro de comemoração é o dia 16 de agosto de 1953, escolhido para homenagear São Joaquim, pai da Virgem Maria.
No dia a dia cada um enxerga o papel de pai de uma forma e o exerce da maneira que achar mais adequada. Tem os grudentos, os mais protetores, os que têm a cabeça aberta, os que são rígidos e por aí vai. E para cada tipo de filho, há sempre um pai pra chamar de seu, como estes exemplos que encontramos na região.
Pai de dez!!
Há quem diga que 1 é pouco, 2 é bom e 3 é demais. E o que dizer de 10? Para o morador (e presidente da Associação dos Moradores e Amigos do Horto), Fábio Costa, dez não faz a menor diferença. Ele e a mulher Andreza – que estão casados até hoje -, tiveram o primeiro filho aos 18 e 15 anos, respectivamente. Pai de Letícia (28 anos), Marcos Vinícius (25), Daniel (23), Gustavo (19), Mariana (18), Lucas (17), Breno (14), Murilo (13), Eduardo (11) e a caçula Laura (10). Da prole, apenas cinco ainda moram com eles e três estão no sul trabalhando. Fábio acredita que ser pai é um aprendizado constante. “Com o crescimento, em ritmos diferentes, a gente percebe que eles acabam sendo um pouco reflexo do que somos”, atesta, confessando ser difícil respeitar as fases de cada um. Mesmo que os interesses não sejam idênticos, o gosto por esportes a cavalo é comum à Letícia, Marcos Vinícius, Daniel, Breno, Murilo e Eduardo, sendo que os três primeiros já o fazem de maneira profissional. “Em casa, as únicas que não sabem montar em equinos são a Mariana e Andreza”, conta.
Todos listaram algo que têm em comum com o pai, mas, de um jeito ou de outro, acabaram reforçando o carinho e a atenção que Fabio disponibiliza. “Herdei um pouco da sua impulsividade, que pode ser bom e ruim ao mesmo tempo. E me deu também valores familiares para eu ser quem sou hoje”, revela Letícia, a mais velha e professora de salto em cavalo. Os irmãos concordam que conversar com o pai é um dos pontos altos da relação. “Também gosto muito quando ele faz sushi”, brinca Laura, a caçula. Fábio se emociona ao lembrar que não teve muita opção de escolha na vida e que é bom vê-los, desde cedo, correndo atrás do futuro . “Se eu morrer amanhã, vou partir sabendo que dei o meu melhor para que eles pudessem viver do que gostam. Esse é o meu maior orgulho como pai”, revela Fábio, emocionado.
Fábio e Andreza com os 10 filhos e o neto
A união faz a força!
Luiz Gustavo Telles de Miranda, ou Guto, como é mais conhecido, designer de 52 anos, tem quatro filhos: Joaquim (24), José (22), Tomé (19) e Tereza (3), sendo que só a mais nova mora com ele. Por serem muito mais velhos, os meninos já possuem maior independência, o que torna mais difícil reunir todos ao mesmo tempo em um só local. “Eles não me dão mais atenção! Não param mais em casa!”, brinca Guto, que é totalmente tranquilo com o fato de nenhum dos ter seguido o design. Mesmo com as diferenças, a relação é ótima. “Ele é companheiro, muito engraçado. Estar junto é sempre divertido” conta Joaquim, filho mais velho e doutorando em Física. Já José, estudante de teatro da Companhia de Artes de Laranjeiras (CAL), prefere poupar o pai de preocupações. “Há coisas que até evito falar que vou fazer para não deixá-lo aflito”, confessa.
Para Guto, exercer o papel de pai é uma responsabilidade enorme, mas ele garante que não é problema e ter todos juntos é a melhor parte: “Se fosse ruim, eu não teria quatro. Dá trabalho, mas muito mais prazer e observá-los crescendo juntos é muito emocionante.”, completa. Entre os programas favoritos que costumam fazer estão assistir filmes, jogos do Flamengo e também fazer um churrasquinho. Para ele, “ser pai é um orgulho”.
Fla x Flu em família
Quando criança, é comum gritar aos quatro cantos que tem o sonho de seguir alguma profissão ousada, como astronauta ou bombeiro. Para Daniel Perpétuo, o desejo era um pouco diferente: “Quando me perguntavam o que eu queria ser, dizia que era ‘pai’”. E o desejo foi cumprido. Médico urologista, ele é pai de quatro: Pedro (22), Miguel (16), Rafael (6) e Felipe (4) e tem diariamente a companhia dos mais novos, enquanto os dois primeiros moram com a mãe. No âmbito profissional, os mais velhos já demonstraram que não querem seguir os passos do pai, mas a maior discordância dentro de casa está no campo de futebol: o time de coração. “Acho que a maior alegria da minha vida foi poder assistir a final da Libertadores com o Miguel em 2019, em Lima”, revela o Daniel, torcedor do Flamengo. Mesmo assim, confessa que sua relação com o tricolor carioca mudou por conta de um dos filhos: “Passei a gostar mais do Fluminense por causa do Pedro. Até torço às vezes”, brinca o rubro-negro. “Ser pai é ter um coração fora do peito”, conclui.
Um dos trunfos para uma boa relação é o respeito e o apoio às escolhas e desejos de cada um, algo que nunca faltou na relação com os filhos. “Ele sempre buscou dar todas as condições para eu e meu irmão seguirmos nosso próprio caminho. Não me refiro à parte financeira, mas sim ao entendimento de que somos todos diferentes”, afirma Pedro, estudante de comunicação na UFRJ. Os programas favoritos são muito variados, desde os mais tradicionais, como jantar e ver jogos de futebol até ir ao kart. “A gente sempre inventa uma moda”, brinca o mais velho.
Todos juntos, cada um com a sua visão
“A mãe, no geral, previne o filho de cair. O pai assiste a queda”. É assim que Philippe Gebara – ou Billi para os íntimos – define o papel dos pais na criação dos filhos. No caso dele, são quatro: Pedro (20), Tom (18), João (13) e Francisco (12) compõem a prole do artista plástico de 51 anos. Mesmo que não queiram seguir o mesmo caminho, as artes fazem parte do cotidiano. “O Pedro é o mais próximo de mim nesse sentido, já que faz design na PUC. Os outros três ainda não decidiram o que fazer, mas tem uma enorme facilidade com desenho” afirma Billi. Se preocupar com o julgamento de terceiros sobre si mesmo é algo muito comum entre as pessoas, desde aparência até a questão de comportamentos. Para ele, essa é a parte mais interessante de ser pai: “As pessoas elaboram concepções a respeito delas mesmas. Com filhos, é muito interessante ver como essa visão é diferente, você pode acabar se surpreendendo, o que pode ser positivo ou negativo. De qualquer forma, tenho que respeitar. Ser pai foi a única escolha que realmente tive na vida.”, dispara Billi.
Como em qualquer relação, abordar assuntos complicados e desagradáveis é inevitável e cada um tem a sua maneira de lidar com essas situações. “Ele sempre conversa comigo e com meus irmãos de maneira muito tranquila, como se fosse uma conversa de amigo. Às vezes o vejo mais assim do que como pai”, revela Tom, segundo filho de Billi. A família é grande, para o garoto, “fica até difícil de guardar todos os aniversários”, brinca. Nas raras vezes que estão todos juntos, os programas favoritos são ir à praia, à cachoeira e assistir ao clássico Fla x Flu, sendo o pai tricolor e os filhos flamenguistas.
Uma experiência diferente
Luis Eduardo Martin, de 61 anos, teve seu primeiro filho, Ian, aos 26 anos. Algum tempo depois, nasceu Mateus e, quase duas décadas depois, vieram ao mundo Romeu (11) e Samuel (8). A distância entre os irmãos é grande, o que acabou gerando abordagens diferentes na criação de cada um deles. “Na minha primeira experiência como pai, não fui tão presente como gostaria. Por conta do trabalho, viajei por muito tempo e perdi momentos preciosos no crescimento do Ian e do Mateus. Agora que estou aposentado, consigo fazer isso com os mais novos”, revela Luis, que acha que a melhor parte de criar alguém é acompanhar as mudanças de pertinho. “Ver eles mudando me desperta vontade de aprender coisas novas e melhorar”, conclui.
Para ele, “ser pai é educar, ser companheiro e amigo”, além de inúmeras outras responsabilidades que são adquiridas com o tempo. “Fiz até cursos com doulas quando os mais novos estavam para nascer”, confessa. Para isso, é importante saber resolver eventuais desavenças da melhor maneira possível. “Apesar de ser um ‘pai raiz’, que não faz sempre todas as vontades, gosto de resolver tudo na base do diálogo”, comenta.
Sob o comando das mulheres
O ex-diretor do JBRJ, Guido Gelli é minoria em casa…e adora. Ele lembra quando trabalhava no IBGE e um amigo perguntou o que ele andava fazendo. “Nunca me esqueci disso. Respondi que de segunda a sexta eu já saia de casa sabendo que tinha um monte de gente esperando que eu tomasse decisões importantes, mas que de sexta a segunda eu tinha quatro mulheres que decidiam tudo para mim”, brinca o pai de Antonia (28 anos), Clarice (25) e Maria (22) e marido de Helena. Para ele, ser pai de menina é maravilhoso e mesmo quando estavam esperando, a caçula, ele não pensou em ter um filho homem. “Eu já estava habituado com aquele ritmo e não queria saber de começar a jogar bola e nem de correr. Meninos tem uma energia diferente”, brinca. As irmãs possuem uma relação de bastante companheirismo e, muita pela diferença de idade, a mais velha atuou como uma segunda mãe para Maria, para o bem e para o mal.
Apesar de serem filhas da mesma mãe, as três têm personalidades diferentes e são parceiras do pai. Para Maria, ele tem uma preocupação normal, mas entende a necessidade de deixar as filhas seguirem seus caminhos: “Por mais que ele tenha um certo medo e seja um pouco superprotetor, ele tem muito amor à vida e passou isso para nós três. Uma vez fiz uma viagem e contei só para ele, pois sabia que me apoiaria, enquanto minha mãe e irmãs ficariam aflitas”, revela a caçula. Para Guido, vê-las desabrochando para encarar o mundo e se tornando pessoas de bem é a parte mais prazerosa de ser pai.
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