O coração do Humaitá é vermelho. O 1º Grupamento do Corpo de Bombeiros é a principal referência do bairro. Não poderia ser diferente. Inaugurado em 1896, o quartel é o mais antigo da cidade do Rio de Janeiro e integra o cotidiano dos moradores da região, seja pelas visitas escolares e antigas “peladas” na pequena quadra, seja por ter funcionado como posto de vacinação contra Covid-19, em 2021.
O imóvel que abriga o quartel foi um dos primeiros a ser construído no bairro, em 1856. Sua localização, hoje conhecida como Largo do Humaitá, era chamada de Largo da Olaria, por abrigar a Fazenda da Olaria, que se destacava pela produção de peças de cerâmica no início do século XIX. As características arquitetônicas, que incluem ornamentos, frisos, balcões e estruturas de ferro fundido, motivaram seu tombamento pelo patrimônio municipal em 1987.
O Corpo de Bombeiros é uma das instituições públicas mais respeitadas pela população. A admiração começa ainda na infância, quando muitas crianças demostram desejo de se tornar bombeiro. O fascínio é explicado pela bravura e atos de heroísmo da atividade, mas é inegável o poder encantador de caminhões de brinquedo, com escada Magirus acoplada. O modelo real do quartel do Humaitá alcança 60 metros de altura e costumava ser a principal atração das visitas escolares. Antes da pandemia, fazia sucesso também o projeto “Anjos do Futuro”, no qual crianças e pré-adolescentes acompanhavam a rotina de trabalho dos bombeiros. Na ocasião, eram passadas noções de primeiros socorros, prevenção de acidentes e de incêndios.
A relação dos bombeiros com a população sempre foi próxima. Por muito tempo, foi possível alugar a quadra esportiva para partidas de futebol masculino e feminino. Na década de 2010, após um deslizamento de terra da encosta do Corcovado ter atingido a quadra de futsal da Casa de Espanha, as aulas de futebol do clube passaram a acontecer no quartel.
De acordo com a descrição de suas funções, os bombeiros devem prevenir e combater incêndios, salvaguardar bens materiais, realizar buscas, salvamentos e socorros públicos. Entre suas atribuições, estão ainda atender as vítimas de acidentes, procurando dar socorro imediato adequado e condições ideais de transporte às vítimas de trânsito, ferimentos por arma de fogo ou arma branca, queimaduras, soterramentos, acidentes de trabalho, ou ainda problemas clínicos com risco iminente de vida. Atualmente, entretanto, a maior parte dos chamados envolve captura de animais silvestres, de cobra e gambá a capivaras, que dão mais trabalho por não poderem ser enjauladas, mesmo que temporariamente. Outras situações de emergência em que os bombeiros são acionados são aquelas provocadas por fortes ventos e chuvas, que causam quedas de árvores e alagamentos. Com a pandemia, uma função diferente lhes foi atribuída: vacinação contra a Covid-19, que, ao longo de 2021, mudou a paisagem do entorno e a rotina da unidade com as filas formadas do lado de fora, contornando a esquina com a rua Vitório da Costa. A Relações Públicas Beth Serpa foi uma das pessoas que tomou sua primeira dose de Coronavac no quartel:
– A força feminina do 1º GBM vai da comandante à “enfermeira”, passando pela mascote Ludmila – observou na época.
O futebol nos anos 1970, a mascote Ludmila e a moradora tomando sua primeira dose de Coronavac.
Desde 2020, o 1º GBM é comandado pela tenente-coronel Viviane Lenida Moraes Paiva. Ela ingressou na corporação em 2001, na primeira turma de oficiais, e está à frente de cerca de 100 bombeiros. Antes dela, o quartel já era dominado pela aura feminina da mascote Ludmila. A vira-lata foi adotada há cerca de quatro anos e é o xodó da vizinhança, com sua capa vermelha, igual às dos bombeiros. Quem é vizinho do quartel se habitua a ver os bombeiros correndo na Lagoa pela manhã, mas nunca deixa de ser incomodado com o barulho da sirene ou de se assustar com os anúncios importantes passados pelo alto-falante.
Em novembro de 2021, o grupamento comemorou 125 anos com a Banda Sinfônica do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro (CBMERJ), a mesma que tocou na inauguração do “Posto do Humaitá”. A apresentação foi realizada na frente do quartel e quem passava do lado de fora pode aproveitar. A celebração contou também com uma demonstração técnica operacional e homenagens às personalidades que marcaram a história da unidade. Um dos destaques é o Cabo Alexandre Fernandes, que foi, por duas vezes consecutivas (2012 e 2013), campeão dos Jogos TFA (Toughest Firefighter Alive, competição entre bombeiros do mundo inteiro). Ele ainda faz parte da corporação e tem seu nome registrado na linha do tempo exposta no 1º GBM.
Durante o evento, foi inaugurada uma Galeria Histórica com relíquias do início da operação do quartel, cujo destaque é a “Caixa avisadora de incêndio”, de 1879. O aparelho foi uma espécie de precursor do telefone (que permitia apenas escutar o que era falado do outro lado da linha) e substituiu os avisos de incêndio, que, até então, eram sinalizados por tiros de canhão e sinos das igrejas.
O que todo mundo estranhou foi a transferência do ex-governador Sérgio Cabral, condenado a 400 anos de prisão, para a única cela do quartel, em maio deste ano. Apesar de estar em regime de isolamento por regalias na prisão anterior, o ex-governador teve direito a banho de sol, exercícios na quadra esportiva e visitas de médicos.
1º Grupamento de Bombeiros Militar
Rua Humaitá 126 – Humaitá
Telefone para emergências: 193
Contato: gbm01@cbmerj.rj.gov.br
*Texto e fotos atuais: Betina Dowsley
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